São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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o lado mais fraco

Comerciantes das cidades que têm na NBA sua principal fonte de renda agonizam com a greve dos patrões da liga de basquete

TOM WITHERS
DA ASSOCIATED PRESS

Do outro lado da rua da Quicken Loans Arena, um edifício que sacode de novembro até abril como a casa dos Cavaliers, a realidade está exposta em uma parede.
O Harry Buffalo é um dos restaurantes no centro de Cleveland que depende muito da multidão de bebedores de cerveja e devoradores de hambúrgueres da NBA que mantém suas portas abertas.
O gerente de operações, John Adams, pregou um relatório da internet perto da cozinha para suas garçonetes, barmen e cozinheiros lerem.
Com marcador amarelo, ele destacou a triste notícia do impasse trabalhista na NBA para seus empregados, alguns dos quais poderão em breve perder o emprego se não houver um acordo.
É aqui que o locaute (greve dos patrões) bate com mais força. "É duro", disse Adams, olhando na direção do estádio, conhecido como "Q".
"Tenho três mães solteiras na minha equipe de garçonetes e dois pais solteiros na cozinha. Preciso pensar em seus 11 filhos. É doloroso quando tenho de colocar a empresa em primeiro lugar e dizer que não posso ter uma equipe de 15 garçonetes porque não temos tanto movimento."
A NBA cancelou a pré-temporada e as duas primeiras semanas da temporada regular porque seus jogadores milionários e proprietários de times -ainda mais ricos- não concordam em como dividir a receita e limitar os salários.
Sim, os jogadores estão temporariamente sem trabalho e terão de encontrar maneiras de se manter em forma. Mas Kobe Bryant, por exemplo, tem o luxo de assinar com um clube italiano, ganhando um grande salário até que as dificuldades trabalhistas sejam acertadas.
Outros não têm tanta sorte. A perda de um jogo, quanto mais dez ou talvez todos os 82, terá um impacto devastador sobre os trabalhadores com empregos que dependem da temporada de mais de seis meses do basquete.
Alguns times já reduziram suas equipes, e poderá haver mais demissões. Depois há aqueles que não trabalham diretamente para um time da NBA, mas que ainda dependem da agitação que a liga leva para sua cidade.
Porteiros, seguranças, funcionários de estacionamento, trabalhadores de concessão, empregados de restaurantes e outros deverão ter suas horas reduzidas ou juntar-se aos 14 milhões de desempregados norte-americanos.
"Sim, financeiramente estou preocupada", disse a garçonete Jeannette Lauersdorf, mãe solteira de duas crianças, que em uma tarde tranquila no início de outubro servia seis clientes em três mesas no Harry Buffalo. Em uma noite de jogo do Cleveland Cavaliers, o lugar tem fila de 30 minutos para uma mesa.
Assim como ocorreu durante a disputa trabalhista da NFL (liga de futebol americano), certas cidades terão de sofrer um castigo pior que outras até que a NBA volte.
Mercados como Orlando, Memphis, Salt Lake City e Portland, que não têm outra receita gerada por uma outra grande franquia de esporte profissional, poderão enfrentar um longo inverno.
Nesta altura, não há como saber quanto tempo o locaute vai durar, mas o vice-comissário da NBA, Adam Silver, projetou um prejuízo de "milhões de dólares" com o cancelamento das duas semanas inicias da temporada.
"Mesmo que haja uma temporada, vamos sofrer um golpe", disse Caitlin Cassidy, a gerente do Harry Buffalo.
Memphis poderia experimentar uma queda semelhante se o impasse se aprofundar. Um time em ascensão, os Grizzlies cativaram a cidade na última primavera.
Os torcedores deixavam o FedEx Forum lotado para a área de lazer da Beale Street para brindar cada vitória da pós-temporada, e há esperança de que ocorram comemorações semelhantes em abril, maio -e talvez até junho.
O time relata que as vendas de ingressos para a temporada cresceram. Mas não têm valor sem campeonato. "Temos um produto com o qual a cidade realmente se entusiasma e se envolve com ele", disse Kevin Kane, presidente e executivo-chefe do Birô de Convenções e Visitantes da cidade de Memphis.
A situação em Orlando é diferente. Em fevereiro, o Magic deverá receber o All-Star Game da NBA, que deverá trazer US$ 100 milhões (R$ 178 milhões) para a cidade. Mas o final incerto da disputa trabalhista está retardando a conclusão dos planos.
Empresas locais já lutam para compensar os prejuízos se mais jogos forem cancelados na Amway Arena, construída há apenas um ano.
Os donos do Draft Global Beer Lounge and Grill, uma churrascaria elegante inaugurada em frente à Amway, em março, temem que esta seja uma dura temporada.
"O impacto econômico seria terrível", disse o coproprietário, Willie Fisher.
Durante o inverno, os torcedores de Utah devoram os hambúrgueres do Jazz and Crown. Do estacionamento de seu restaurante, Mike Katsanevas pode ver o EnergySolutions Arena, do Utah Jazz.
Katsanevas, cuja família vende hambúrguer há três décadas, estima que uma temporada perdida prejudicaria sua empresa em 25% a 30% e não apenas neste ano.
Ele sobreviveu ao último locaute, em 1999, mas os tempos mudaram. "Todos estão sofrendo [nesta economia]. Não quero falar mal dos jogadores ou dos donos dos times, mas quanto dinheiro esses caras realmente têm que continuar ganhando?"

Tradução de LUIZ ROBERTO GONÇALVES



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