São Paulo, sexta, 23 de outubro de 1998

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É sempre bom ganhar dos argentinos

PELÉ
especial para a Folha


Esse título da Taça Conmebol veio na hora certa por diversos motivos.
Em primeiro lugar, que me perdoe o presidente Menem, ganhar dos argentinos é sempre bom. Ainda mais lá.
Vice-campeão brasileiro em 1995 (e só não ganhou o campeonato porque o juiz não deixou), campeão do Rio-São Paulo de 1997 e, agora, campeão da Conmebol, o Santos mostra que não há milagres em futebol.
Uma administração saneadora prova que é possível ir longe sem fazer loucuras. Com todas as limitações que o clube permanece tendo, o fato é que o torcedor santista tem de novo do que se orgulhar.
Graças a um bem-sucedido acordo de parceria com a Unicór, já temos onde treinar e reformamos o nosso estádio, tornando-o um dos mais simpáticos do país.
Não temos ainda um time de sonhos, padecemos de um elenco maior (razão pela qual nem tínhamos cinco jogadores para ficar à disposição do Leão - que grande técnico! - no banco), mas já formamos uma nova mentalidade na Vila Belmiro, do Zetti ao Adiel.
Esse título, sem dúvida, reforçará o ótimo nome que o Santos mantém no exterior. Aliás, é impressionante como o prestígio do clube é forte. Sou testemunha disso, mas suspeito.
Só que a rápida passagem do Santos pela Espanha e pela Itália, poucos dias atrás, mostrou isso aos próprios jogadores, que, sensibilizados com a boa acolhida, além de terem honrado a mística santista, saíram aplaudidos e foram responsáveis por seis ou sete convites que o clube já recebeu para voltar.
O Santos não é o mesmo dos meus tempos de jogador. Talvez nunca volte a ser.
Mas haverá de ser cada vez mais forte se mantiver a linha administrativa que adotou desde que montamos uma diretoria que, embora ainda amadora, pensa muito mais no clube que em si mesma.
A conquista em Rosario deixou claro, também, como são obscuros os critérios para a organização de certos torneios.
Quem sabe explicar o motivo pelo qual o Santos não foi convidado para a Copa Mercosul?
Se o critério era o de conquistas internacionais, nenhum outro clube brasileiro compete com o Santos, nem mesmo o também bicampeão mundial São Paulo.
Se o critério era o de tamanho de torcida, a nossa tem se mostrado muito mais presente aos estádios do que a de outros clubes convidados.
Mas não importa. A resposta está aí: o Santos ganhou um título oficial e numa competição que disputou não por favor de ninguém, mas porque ganhou seu direito no campo do jogo.
E isto é o Santos. Por menos simpático que seja aos atuais detentores do poder em nosso futebol, o clube não se dobra, dá exemplo e, ainda por cima, ganha títulos.
Ganhará mais, pode ter certeza, desde que não saia da rota adotada nos últimos anos. Porque o compromisso do Santos deve ser com o seu torcedor e com o futuro do nosso futebol.
Fomos, um dia, os campeões da técnica e da disciplina.
Agora, queremos ser mais: os campeões da técnica, da disciplina e da reformulação do futebol brasileiro.
Foi o melhor presente de aniversário que eu poderia receber.
²


Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, empresário e ex-ministro dos Esportes, defendeu o Santos de 1956 a 1974



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