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É sempre bom ganhar dos argentinos
PELÉ
especial para a Folha
Esse título da Taça Conmebol
veio na hora certa por diversos
motivos.
Em primeiro lugar, que me
perdoe o presidente Menem, ganhar dos argentinos é sempre
bom. Ainda mais lá.
Vice-campeão brasileiro em
1995 (e só não ganhou o campeonato porque o juiz não deixou), campeão do Rio-São Paulo de 1997 e, agora, campeão da
Conmebol, o Santos mostra que
não há milagres em futebol.
Uma administração saneadora prova que é possível ir longe
sem fazer loucuras. Com todas
as limitações que o clube permanece tendo, o fato é que o
torcedor santista tem de novo
do que se orgulhar.
Graças a um bem-sucedido
acordo de parceria com a Unicór, já temos onde treinar e reformamos o nosso estádio, tornando-o um dos mais simpáticos do país.
Não temos ainda um time de
sonhos, padecemos de um elenco maior (razão pela qual nem
tínhamos cinco jogadores para
ficar à disposição do Leão -
que grande técnico! - no banco), mas já formamos uma nova mentalidade na Vila Belmiro, do Zetti ao Adiel.
Esse título, sem dúvida, reforçará o ótimo nome que o Santos
mantém no exterior. Aliás, é
impressionante como o prestígio do clube é forte. Sou testemunha disso, mas suspeito.
Só que a rápida passagem do
Santos pela Espanha e pela Itália, poucos dias atrás, mostrou
isso aos próprios jogadores, que,
sensibilizados com a boa acolhida, além de terem honrado a
mística santista, saíram aplaudidos e foram responsáveis por
seis ou sete convites que o clube
já recebeu para voltar.
O Santos não é o mesmo dos
meus tempos de jogador. Talvez
nunca volte a ser.
Mas haverá de ser cada vez
mais forte se mantiver a linha
administrativa que adotou desde que montamos uma diretoria que, embora ainda amadora, pensa muito mais no clube
que em si mesma.
A conquista em Rosario deixou claro, também, como são
obscuros os critérios para a organização de certos torneios.
Quem sabe explicar o motivo
pelo qual o Santos não foi convidado para a Copa Mercosul?
Se o critério era o de conquistas internacionais, nenhum outro clube brasileiro compete
com o Santos, nem mesmo o
também bicampeão mundial
São Paulo.
Se o critério era o de tamanho
de torcida, a nossa tem se mostrado muito mais presente aos
estádios do que a de outros clubes convidados.
Mas não importa. A resposta
está aí: o Santos ganhou um título oficial e numa competição
que disputou não por favor de
ninguém, mas porque ganhou
seu direito no campo do jogo.
E isto é o Santos. Por menos
simpático que seja aos atuais
detentores do poder em nosso
futebol, o clube não se dobra, dá
exemplo e, ainda por cima, ganha títulos.
Ganhará mais, pode ter certeza, desde que não saia da rota
adotada nos últimos anos. Porque o compromisso do Santos
deve ser com o seu torcedor e
com o futuro do nosso futebol.
Fomos, um dia, os campeões
da técnica e da disciplina.
Agora, queremos ser mais: os
campeões da técnica, da disciplina e da reformulação do futebol brasileiro.
Foi o melhor presente de aniversário que eu poderia receber.
²
Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, empresário e ex-ministro dos Esportes, defendeu o
Santos de 1956 a 1974
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