São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007

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Esporte se mexe para driblar apostas

Escândalos de manipulação de resultados sujam reputação de atletas e modalidades e fazem cartolas monitorar jogatina

Entidades apertam cerco contra atletas-apostadores, como a ATP, que suspendeu ontem os italianos Potito Starace e Daniele Bracciali


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Partidas armadas, árbitros comprados, proximidade suspeita com cassinos eletrônicos, punição para os fraudadores.
Nunca o esporte se armou tanto para combater a jogatina como em 2007. Os sites de apostas emergiram como protagonistas de escândalos em ao menos seis modalidades, gerando furor em federações e temor até então inédito no Comitê Olímpico Internacional.
A oito meses dos Jogos de Pequim-08, Jacques Rogge, presidente do comitê, teme que a "pureza" da Olimpíada seja maculada por subornos e fraudes.
Para isso, o COI ligou o sinal de alerta, criou comissão para estudar o assunto e já pediu ajuda às companhias do setor.
"As empresas de jogos podem nos avisar quando houver um volume anormal de apostas em alguma prova. E assim poderemos agir", avisou Rogge.
O problema que o COI quer evitar já abalou o futebol de países como Brasil, Alemanha, Itália e República Tcheca.
"Loterias e apostas relacionadas ao esporte geram risco potencial de manipulação dos jogos. Por isso, a Fifa examina diferentes medidas para enfrentar esse novo desafio", informou a entidade à Folha, ao ser questionada sobre o tema.
Para combater manipulações, a federação contratou a Early Warning System GmbH , uma companhia independente, para acompanhar a fundo as apostas durante as eliminatórias para o Mundial de 2010.
Segundo o primeiro relatório emitido, não houve resultados arranjados entre os quase 90 jogos já disputados nas seletivas para a Copa sul-africana.
É um alento, já que fraudes pulularam nos últimos anos.
O futebol alemão mandou à cadeia o juiz Robert Hoyzer, acusado de manipular jogos para favorecer a máfia croata.
Escândalo parecido respingou na reputação do goleiro Buffon, titular da Itália campeã da Copa da Alemanha-2006.
Na República Tcheca, houve sanção recorde para três atletas e um técnico por tentar manipular jogos -a punição mais extensa foi de sete anos.
A Espanha não esteve imune à proximidade suspeita entre apostas e futebol. Real Madrid e Sevilla sofreram demandas judiciais para proibi-los de vender camisas infantis com publicidade de sites de apostas.
Além disso, a revista "Der Spiegel" noticiou que 26 partidas de torneios europeus são investigadas, inclusive de Eurocopa e Copa dos Campeões.
Países do Leste Europeu são os maiores alvos do inquérito, conduzido pela Europol (polícia européia) a partir de dossiê de 96 páginas vindo da Uefa.
Até a goleada de 8 a 0 do Liverpool sobre o Besiktas, pela Copa dos Campeões, no mês passado, gerou desconfiança.
Se os gramados viveram turbulência, as quadras não ficaram atrás. O tênis se viu assolado por denúncias de corrupção como nunca antes na história.
A Federação Internacional de Tênis investigou atletas que estariam armando resultados.
Um deles teria sido o revés do russo Nikolay Davydenko, quarto do ranking, ante Martín Vassallo, então 87º, na Polônia.
O italiano Alessio di Mauro, que fazia apostas, foi suspenso em novembro. E, ontem, a federação italiana anunciou que a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) também suspendeu e multou Potito Starace (seis semanas e 20.800) e Daniele Bracciali (três meses e 14 mil) pela mesma razão.
Para muitos, é difícil crer que tenistas bem remunerados arrisquem sua reputação manipulando partidas. "Mas eles talvez possam ser ameaçados por máfias de apostas", disse o ex-tenista John McEnroe.


Com agências internacionais


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