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FUTEBOL
Um gênio ou uma besta?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Esta coluna foi concluída
antes do jogo de vida ou morte entre Brasil e Chile. No momento em que escrevo, nossa situação no Pré-Olímpico é crítica.
No momento em que vocês lêem
(se é que tem alguém lendo), ela
pode ser de alívio ou de desespero.
Contra a Argentina, o resultado
mais justo talvez fosse o empate.
O Brasil criou mais chances, mas
abusou do direito de perder gols.
Agora, como diria o grande Fiori
Gigliotti, não adianta chorar.
"Será um gênio ou uma besta?",
perguntava-se o locutor de rádio
de "O Bandido da Luz Vermelha", a respeito do personagem-título do filme.
A pergunta me veio à mente ao
ler a entrevista de Romário nas
páginas amarelas da "Veja" que
saiu ontem das bancas (agora, só
na internet ou na sala de espera
do dentista).
Como é que pode, pensava eu,
um sujeito tão brilhante dentro
de campo falar tanta besteira fora
dele?
Entre os inúmeros assuntos
abordados pelo craque (já que celebridade, no Brasil, tem que dar
palpite sobre tudo), destaco dois:
a bagunça do futebol brasileiro e
a vinculação dos atletas profissionais a empresários e agentes.
Existe um consenso de que, com
a qualidade de seus atletas, o Brasil só não é imbatível no futebol
devido à desorganização e à corrupção que reinam nos bastidores. Eu disse consenso, não unanimidade. Pois Romário discorda.
Para o veterano artilheiro, se o
futebol brasileiro não fosse tão
bagunçado não teríamos conquistado cinco Copas. Esse achado genial inverte tudo: deveríamos parar de louvar Pelé, Garrincha (e o próprio Romário) e passar a erigir estátuas a João Havelange, Nabi Abi Chedid, Ricardo
Teixeira, Eurico Miranda.
Para que planejamento? Para
que organização? Para que trabalho de base? Para que visão estratégica? Ora, deixemos tudo por
conta do jeitinho.
Outro consenso abalado pelas
palavras de Romário é o de que,
atualmente, um dos maiores problemas dos jogadores profissionais, sobretudo dos mais jovens, é
o de ficarem presos aos interesses
imediatistas de empresários.
O atacante do Fluminense discorda. Para ele, a maioria dos
atletas tem a vantagem de contar
com um empresário que "cuida
dos seus interesses". Então tá.
Deve ser por isso que tantos rapazes recém-saídos da adolescência vão afundar suas carreiras
em clubes obscuros da Ucrânia,
da Coréia e de outras plagas
remotas.
Por fim, Romário discorda de
meio mundo ao dizer que não vê
nada de fenomenal em Ronaldo.
Mas é só uma opinião pessoal,
claro. Não tem nada a ver com
despeito, ciúme ou inveja. Afinal,
foi quando Romário nasceu que
Deus disse: "Esse é o cara".
Dentro do campo, ao longo de
uns 15 anos, ele de fato foi "o cara". Infelizmente já não é mais.
Está na hora de pensar num fecho
digno para sua luminosa carreira. Parar de dizer bobagens poderia ser um bom começo.
Largada paulista
O Palmeiras e o Santos começaram bem o Campeonato Paulista deste ano, o primeiro com
uma goleada, o segundo com
uma vitória fora de casa mesmo
desfalcado de meio time. Já o
São Paulo e o Corinthians,
cheios de caras novas, mostraram um previsível desentrosamento em campo. O tricolor
tem potencial para melhorar
muito. O alvinegro deve demorar um pouco mais para voltar
a ser Timão.
Fora do ar
Devido a problemas com o
computador, perdi alguns e-mails e deixei de responder a
outros. Aos poucos vou procurando colocar a correspondência em dia, por isso peço
(e agradeço) a compreensão
dos leitores que ficaram sem
resposta.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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