São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Um gênio ou uma besta?

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Esta coluna foi concluída antes do jogo de vida ou morte entre Brasil e Chile. No momento em que escrevo, nossa situação no Pré-Olímpico é crítica. No momento em que vocês lêem (se é que tem alguém lendo), ela pode ser de alívio ou de desespero.
Contra a Argentina, o resultado mais justo talvez fosse o empate. O Brasil criou mais chances, mas abusou do direito de perder gols. Agora, como diria o grande Fiori Gigliotti, não adianta chorar.
 
"Será um gênio ou uma besta?", perguntava-se o locutor de rádio de "O Bandido da Luz Vermelha", a respeito do personagem-título do filme.
A pergunta me veio à mente ao ler a entrevista de Romário nas páginas amarelas da "Veja" que saiu ontem das bancas (agora, só na internet ou na sala de espera do dentista).
Como é que pode, pensava eu, um sujeito tão brilhante dentro de campo falar tanta besteira fora dele?
Entre os inúmeros assuntos abordados pelo craque (já que celebridade, no Brasil, tem que dar palpite sobre tudo), destaco dois: a bagunça do futebol brasileiro e a vinculação dos atletas profissionais a empresários e agentes.
Existe um consenso de que, com a qualidade de seus atletas, o Brasil só não é imbatível no futebol devido à desorganização e à corrupção que reinam nos bastidores. Eu disse consenso, não unanimidade. Pois Romário discorda.
Para o veterano artilheiro, se o futebol brasileiro não fosse tão bagunçado não teríamos conquistado cinco Copas. Esse achado genial inverte tudo: deveríamos parar de louvar Pelé, Garrincha (e o próprio Romário) e passar a erigir estátuas a João Havelange, Nabi Abi Chedid, Ricardo Teixeira, Eurico Miranda.
Para que planejamento? Para que organização? Para que trabalho de base? Para que visão estratégica? Ora, deixemos tudo por conta do jeitinho.
Outro consenso abalado pelas palavras de Romário é o de que, atualmente, um dos maiores problemas dos jogadores profissionais, sobretudo dos mais jovens, é o de ficarem presos aos interesses imediatistas de empresários.
O atacante do Fluminense discorda. Para ele, a maioria dos atletas tem a vantagem de contar com um empresário que "cuida dos seus interesses". Então tá.
Deve ser por isso que tantos rapazes recém-saídos da adolescência vão afundar suas carreiras em clubes obscuros da Ucrânia, da Coréia e de outras plagas remotas.
Por fim, Romário discorda de meio mundo ao dizer que não vê nada de fenomenal em Ronaldo. Mas é só uma opinião pessoal, claro. Não tem nada a ver com despeito, ciúme ou inveja. Afinal, foi quando Romário nasceu que Deus disse: "Esse é o cara".
Dentro do campo, ao longo de uns 15 anos, ele de fato foi "o cara". Infelizmente já não é mais. Está na hora de pensar num fecho digno para sua luminosa carreira. Parar de dizer bobagens poderia ser um bom começo.

Largada paulista
O Palmeiras e o Santos começaram bem o Campeonato Paulista deste ano, o primeiro com uma goleada, o segundo com uma vitória fora de casa mesmo desfalcado de meio time. Já o São Paulo e o Corinthians, cheios de caras novas, mostraram um previsível desentrosamento em campo. O tricolor tem potencial para melhorar muito. O alvinegro deve demorar um pouco mais para voltar a ser Timão.

Fora do ar
Devido a problemas com o computador, perdi alguns e-mails e deixei de responder a outros. Aos poucos vou procurando colocar a correspondência em dia, por isso peço (e agradeço) a compreensão dos leitores que ficaram sem resposta.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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