São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Com a nova legislação para dupla nacionalidade, França vê êxodo de jogadores para a Copa Africana de Nações

Regra da Fifa leva "ex-franceses" à África

MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Copa Africana de Nações, o mais importante torneio de seleções daquele continente, terá um importante reforço em sua 24ª edição, que estréia hoje, na Tunísia: uma nova resolução da Fifa.
A regra, que permite a mudança de seleção para atletas de dupla nacionalidade que só tenham atuado em categorias de base, tem uma peculiaridade: de seus beneficiários até agora, todos eles (oito) são franceses querendo trocar de seleção. E todos estão em uma das 16 nações que disputarão a partir de hoje o torneio africano.
Esse é o caso, por exemplo, do zagueiro franco-argelino Antar Yahia. Depois de já ter atuado pela seleção sub-17 da França, ele entrou com uma requisição na Fifa e foi o primeiro atleta a jogar por dois países diferentes pelas novas regras, colocadas em vigor no início de 2004. Em sua estréia com a camisa argelina, no Pré-Olímpico da África, marcou o gol na vitória por 1 a 0 sobre Gana.
"Finalmente posso defender o meu país. Sinto-me argelino, não francês", disse à Folha Yahia, 21, que, apesar de ser de família argelina, nasceu na cidade francesa de Mulhouse. "Sou argelino e tratado como tal onde eu moro. Só não joguei pela Argélia antes porque eles não tinham um trabalho bom de sondagem de base", diz. "É direito meu representar o país dos meus pais. E eu teria menos chance de ser aproveitado se continuasse jogando pela França."
Além de Yahia, que joga no Bastia, da França, mais dois titulares da Argélia na Copa Africana de Nações (CAN) serão "ex-franceses": o zagueiro Samir Beloufa e o meia Abdenasser Ouadah. A tendência pode ser vista em outras nações do torneio, em casos como os de Adel Chedli, do Sochaux, que atuará para a Tunísia, Frédéric Kanouté, do Tottenham, que foi para o Mali, e Lamine Sakho, do Leeds, que jogará pelo Senegal.
Todos já estiveram em seleções de base da França, um país que sempre dependeu do colonialismo para montar suas seleções de futebol. No time campeão da Copa de 1998, por exemplo, havia nomes importantes de dupla nacionalidade como o meia franco-argelino Zinedine Zidane, o meia franco-senegalês Patrick Vieira, e o zagueiro franco-ganês Marcel Desailly. Hoje há ainda mais nomes, como o franco-congolês Makelele. Just Fontaine, máximo goleador de uma Copa (1958), com 13 gols, nasceu no Marrocos.
Além das seleções francesas e de outros países, a resolução também não é bem vista pelos clubes europeus, que cederam cerca de 200 jogadores para a CAN.
Frédéric Kanouté, por exemplo, suscitou polêmica na Inglaterra quando anunciou que passaria a defender a seleção malinesa. Os jornais locais o acusaram de ser oportunista; já os dirigentes e o treinador do Tottenham, que o havia contratado em agosto de 2003, se disseram traídos pelo atleta, que agora poderá servir Mali até uma eventual final da CAN, no dia 14 de fevereiro.
"Quando o contratamos, achávamos que ele era francês", disse por telefone Chris Hughton, técnico da equipe inglesa. "Ele já havia sido júnior da França. Não tínhamos idéia de que ele iria à CAN", afirmou. "Foi errado."
Adel Chedli também teve problemas quando seu clube teve a idéia de envolver o jogador numa troca com o Metz. A negociação acabou emperrada quando o Metz soube que perderia o jogador por grande parte do primeiro semestre devido a compromissos da seleção tunisiana.


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