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FUTEBOL
Com a nova legislação para dupla nacionalidade, França vê êxodo de jogadores para a Copa Africana de Nações
Regra da Fifa leva "ex-franceses" à África
MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Copa Africana de Nações, o
mais importante torneio de seleções daquele continente, terá um
importante reforço em sua 24ª
edição, que estréia hoje, na Tunísia: uma nova resolução da Fifa.
A regra, que permite a mudança
de seleção para atletas de dupla
nacionalidade que só tenham
atuado em categorias de base, tem
uma peculiaridade: de seus beneficiários até agora, todos eles (oito) são franceses querendo trocar
de seleção. E todos estão em uma
das 16 nações que disputarão a
partir de hoje o torneio africano.
Esse é o caso, por exemplo, do
zagueiro franco-argelino Antar
Yahia. Depois de já ter atuado pela seleção sub-17 da França, ele
entrou com uma requisição na Fifa e foi o primeiro atleta a jogar
por dois países diferentes pelas
novas regras, colocadas em vigor
no início de 2004. Em sua estréia
com a camisa argelina, no Pré-Olímpico da África, marcou o gol
na vitória por 1 a 0 sobre Gana.
"Finalmente posso defender o
meu país. Sinto-me argelino, não
francês", disse à Folha Yahia, 21,
que, apesar de ser de família argelina, nasceu na cidade francesa de
Mulhouse. "Sou argelino e tratado como tal onde eu moro. Só não
joguei pela Argélia antes porque
eles não tinham um trabalho bom
de sondagem de base", diz. "É direito meu representar o país dos
meus pais. E eu teria menos chance de ser aproveitado se continuasse jogando pela França."
Além de Yahia, que joga no Bastia, da França, mais dois titulares
da Argélia na Copa Africana de
Nações (CAN) serão "ex-franceses": o zagueiro Samir Beloufa e o
meia Abdenasser Ouadah. A tendência pode ser vista em outras
nações do torneio, em casos como
os de Adel Chedli, do Sochaux,
que atuará para a Tunísia, Frédéric Kanouté, do Tottenham, que
foi para o Mali, e Lamine Sakho,
do Leeds, que jogará pelo Senegal.
Todos já estiveram em seleções
de base da França, um país que
sempre dependeu do colonialismo para montar suas seleções de
futebol. No time campeão da Copa de 1998, por exemplo, havia
nomes importantes de dupla nacionalidade como o meia franco-argelino Zinedine Zidane, o meia
franco-senegalês Patrick Vieira, e
o zagueiro franco-ganês Marcel
Desailly. Hoje há ainda mais nomes, como o franco-congolês Makelele. Just Fontaine, máximo goleador de uma Copa (1958), com
13 gols, nasceu no Marrocos.
Além das seleções francesas e de
outros países, a resolução também não é bem vista pelos clubes
europeus, que cederam cerca de
200 jogadores para a CAN.
Frédéric Kanouté, por exemplo,
suscitou polêmica na Inglaterra
quando anunciou que passaria a
defender a seleção malinesa. Os
jornais locais o acusaram de ser
oportunista; já os dirigentes e o
treinador do Tottenham, que o
havia contratado em agosto de
2003, se disseram traídos pelo
atleta, que agora poderá servir
Mali até uma eventual final da
CAN, no dia 14 de fevereiro.
"Quando o contratamos, achávamos que ele era francês", disse
por telefone Chris Hughton, técnico da equipe inglesa. "Ele já havia sido júnior da França. Não tínhamos idéia de que ele iria à
CAN", afirmou. "Foi errado."
Adel Chedli também teve problemas quando seu clube teve a
idéia de envolver o jogador numa
troca com o Metz. A negociação
acabou emperrada quando o
Metz soube que perderia o jogador por grande parte do primeiro
semestre devido a compromissos
da seleção tunisiana.
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