São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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JOSÉ GERALDO COUTO

Um lugar e todos os tempos


O Paulistão que se inicia não se compara aos de décadas passadas, mas pode empolgar o torcedor

ANDARAM enchendo a bola do Campeonato Paulista deste ano antes mesmo de ele começar. A opinião generalizada é a de que será um dos melhores dos últimos tempos. É bem provável, mas vamos combinar que os últimos tempos não foram grande coisa.
O contexto de cintos apertados do mercado global fez com que muitos jogadores de bom nível permanecessem no país. E os clubes paulistas souberam pinçar talentos de outros Estados, sobretudo atacantes. Sim, tudo indica que teremos um torneio forte e com muitos gols.
Mas não há hoje nenhum clube paulista que se compare, em termos de elenco e de potencial futebolístico, ao São Paulo de 1992, ao Palmeiras de 1993-94, ao Corinthians de 1998-99 ou ao Santos de 2002, times que eram verdadeiras seleções.
Mais longe ainda estamos dos anos 60 e início dos 70, em que atuavam num mesmo torneio estadual craques como Pelé, Ademir da Guia, Rivellino, Pedro Rocha, Gérson, Luiz Pereira, Dicá, Roberto Dias...
Foi pensando nisso, e me esforçando para não cair na nostalgia imobilizadora, que pensei em formar mentalmente uma seleção do Campeonato Paulista "de todos os tempos". A expressão vai entre aspas porque não vou escalar Zizinho, Leônidas, Luizinho, Canhoteiro e outros que não vi jogar.
Minha seleção é, basicamente, dos anos 60 em diante. Entre os atletas em atividade no futebol paulista, o único que mereceria (estando em forma) lugar nela seria o Ronaldo Fenômeno, ainda assim numa disputa acirrada com Coutinho e Careca pela posição de centroavante.
Bom, aqui vai uma primeira tentativa, para ser malhada, corrigida e aperfeiçoada pelos amigos e leitores: Gilmar; Carlos Alberto, Luiz Pereira, Roberto Dias e Wladimir; Gérson, Ademir da Guia e Pedro Rocha; Pelé, Ronaldo e Rivellino.
Um 4-3-3 meio esdrúxulo, decerto impraticável, sem um volante típico e com Rivellino como falso ponta, como na Copa de 70. Mas foi o jeito que encontrei para acomodar alguns dos maiores craques que eu vi jogar. Outros tantos ficaram de fora. Paciência.
Dito isso, e feita a tentativa de inserir o atual Paulistão numa perspectiva histórica mais ampla, devo reafirmar que sou plenamente a favor dos campeonatos estaduais.
Meu amigo Juca Kfouri é contra, e tem bons argumentos para isso.
Os meus talvez não sejam tão sólidos, mas quem veio do interior, como eu, conhece a excitação que é ver o time da sua cidade batalhando para chegar à primeira divisão. E sabe também a importância de poder ver de perto os maiores craques do país.
Em décadas passadas, o habitante de Araraquara, de Sorocaba ou de Ribeirão Preto pôde aplaudir Pelé.
Neste ano, o torcedor de Marília, Guaratinguetá ou Mirassol poderá aplaudir (ou vaiar) Ronaldo, Keirrison, Hernanes, Kléber Pereira. Tudo bem, o nível caiu, mas são os astros que temos à mão.
É preciso revitalizar os clubes do interior e elevar o ânimo de seus torcedores para que o futebol brasileiro continue vivo e fértil, e não conheço outro meio de fazer isso que não seja o fortalecimento dos campeonatos estaduais. Se o Paulistão deste ano for o sucesso que estão prevendo, teremos dado um grande passo.

jgcouto@uol.com.br


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