São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

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Basquete do Brasil vira fornecedor do Oriente Médio

Síria e Líbano ignoram maus resultados de equipe nacional masculina e abrem novo mercado para jogadores do país

Caso mais notório é o do treinador Adriano Geraldes, que deixou o comando da Hebraica para assumir a seleção libanesa juvenil

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O basquete brasileiro está ganhando um novo e promissor mercado: o Oriente Médio.
É para lá que já seguiram o ala Dedé, campeão do Pan-03 com a seleção, o pivô Adriano Machado, ex-Boston College (Chile), e o ala-armador Eduardo Caviglia, que atuou no basquete universitário dos EUA.
Mais destaque conseguiu o treinador Adriano Geraldes, que, ironicamente, deixou o comando da Hebraica e assumiu a seleção juvenil do Líbano. O time disputará o Mundial da categoria em julho, na Sérvia.
"Procuramos brasileiros com ascendência síria ou libanesa para encaixá-los nos clubes daqui sem necessidade de usar vaga de estrangeiro", contou à Folha, por telefone, Gerard Artinian, também responsável pela contratação do treinador.
A ida de Geraldes foi súbita. Ele conheceu Artinian em 2006, quando o agente esteve no Brasil à caça de jogadores.
No fim da primeira fase do Paulista, o técnico recebeu o convite. Teve menos de duas semanas para decidir. Agora comanda o time, que, como preparação, joga a segunda divisão do Campeonato Libanês.
"A federação me pediu para encontrar um substituto para Paul Coughter. Gostei do currículo do Adriano e o convidei", conta Artinian, referindo-se ao norte-americano, que dirigiu a equipe adulta no Mundial-06.
Geraldes seguiu para o Líbano, mas ainda se assusta com a chance de novos conflitos com Israel, que promoveu vários bombardeios ao país vizinho em retaliação a ações do grupo terrorista libanês Hizbollah.
"No dia 14, foi aniversário da morte do primeiro-ministro [Rafik Hariri, cujo assassinato, em 2005, foi atribuído à Síria]. Ouvi um grande estrondo de madrugada. Corri para a janela, achando que podia ser bomba. Mas era só um trovão."
No ano passado, a seleção adulta passou por apuros. O elenco fugiu de ônibus para poder treinar para o Mundial do Japão, em agosto. Os aviões não estavam decolando em Beirute devido aos ataques aéreos.
Agora, sem muita expectativa no Mundial juvenil, o Líbano espera ficar entre os 12 primeiros. Se for além disso, Adriano irá se credencia a assumir o time principal, cujo posto está vago. "A decisão sobre esse assunto será tomada após o Mundial juvenil, que é a prioridade por enquanto", diz Artinian.
Desvalorizado pela má campanha no Mundial-06 -19º lugar, a pior do país na competição-, o Brasil atrai mais a cobiça sírio-libanesa do que a rival Argentina, campeã olímpica e também recheada de jogadores com ascendência árabe.
"O Brasil não tem ido bem como conjunto nos torneios internacionais, mas possui mais valores individuais do que os argentinos", acredita o agente.
Graças a essa crença, as portas se abriram para Dedé e Caviglia atuarem pelo Al-Jalaa, um dos maiores clubes da Síria. Já Adriano Machado foi ao Líbano reforçar o Riyadi Beirute.


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