São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Nike e Google ignoram herói mineiro

Baseada em pesquisa que não encontrou citações, multinacional desqualifica história de Noventa, que atuou com Tostão

Ex-jogador, que encerrou a carreira e vive até hoje nos EUA, acredita que coleção de produtos da empresa foi inspirada em seu nome

Eliseu Soares/Folha Imagem
Noventa, cuja fama foi questionada pela Nike, exibe calçado da empresa em Lowell, nos EUA; no detalhe, na época em que defendia o Siderúrgica


PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SABARÁ

Noventa foi campeão mineiro em 1964, companheiro de Tostão numa seleção dos melhores de Minas Gerais na inauguração do Mineirão e fez gol até com o braço quebrado.
Mas no Google, principal site de buscas na internet, mal aparece. É um grão de areia.
Este é o ápice de um enredo vivido nos EUA e que combina esperança, ironia e frustração. E a Nike, a maior empresa de material esportivo do planeta.
Noventa, ou José Maria Carneiro, 65, ex-meia-atacante de América-MG, Siderúrgica e Atlético-MG, quer receber uma reparação da empresa americana que, acredita, inspirou-se nele para batizar uma coleção de calçados e bolas de futebol.
O caso começou quando o ex-jogador, que ganhou o apelido em Belo Horizonte por ter chutado uma bola de meia 90 vezes numa brincadeira de criança, procurou uma advogada da região de Boston, onde mora.
A advogada mandou uma carta à Nike, citando tratar-se de uma "lenda viva" e pedindo a abertura de uma negociação.
Foi o início de uma troca de correspondências na qual a gigante dos esportes decretou que Noventa é um completo anônimo por não figurar nas primeiras páginas do Google.
"Nossa pesquisa extensiva no Google sobre o Sr. Carniero [Carneiro, na verdade] e seu apelido não encontraram qualquer referência sobre ele. Alguém deve esperar encontrar ao menos alguma menção de um "legenda do esporte" nos milhares de sites destinados ao seu esporte", escreveu a Nike, em 21 de dezembro de 2004, à representante do ex-jogador.
Hoje, são raras e com poucas fontes, mas existem, sim, referências a Noventa no buscador.
A advogada mandou uma réplica. E recebeu nova correspondência, datada de 12 de julho de 2005, em que o anonimato de Noventa na rede mundial desqualificava seu pleito.
"Sua reclamação parece destinada a alguma forma de direitos publicitários [para Noventa], para o qual algum grau de fama é claramente um pré-requisito", escreveu a Nike, em carta assinada por Kenneth M. Kwartler. Nessa mesma carta, o funcionário, que segundo a Nike não trabalha mais lá, disse que ninguém com quem havia tido contato na empresa ouviu falar de Noventa, que foi para os EUA no final da década de 60 jogar em um clube de Boston.
Se levada em conta a "extensiva pesquisa" que a Nike fez no Google, competições como o Mineiro são insignificantes.
"Alguém deve esperar que um jogador brasileiro de classe mundial ao menos tenha competido numa liga profissional importante", escreveu a gigante do material esportivo.
"A Nike me depreciou, me deixou mal. Depois disso [as repostas da Nike], virou ponto de honra. Quero ser reconhecido", disse Noventa à Folha.
"Posso não ter sido um grande craque, não ter jogado na seleção brasileira. Mas só vim para os EUA por causa do futebol", diz o ex-atleta, que também se decepcionou com os advogados norte-americanos.
"Os advogados mostraram entusiasmo no começo, dizendo que eu poderia ganhar milhões. Mas depois das cartas da Nike, tudo mudou", falou Noventa, que pretende mudar o local da disputa judiciária.
"Vou procurar um advogado no Brasil e tentar uma ação lá. Aqui nos EUA as pessoas não conhecem o futebol".


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