São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Moncho faz história há 43 anos

Quando defendia Real Madrid, técnico da seleção participou de confronto histórico com Corinthians

Time de SP, que vivia jejum no futebol, lotou ginásio para bater bi europeu por 118 a 109 no tempo em que não havia tiro de 3 pontos

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Muito antes de se tornar treinador da seleção brasileira masculina, o espanhol Moncho Monsalve já fazia parte da história do basquete nacional. Há quase 43 anos, para ser exato.
Na noite de 5 de julho de 1965, cerca de 8.000 pessoas enfrentaram o frio e a chuva e foram ao ginásio do Parque São Jorge ver Corinthians x Real Madrid. Poucas esperavam que aquela vitória do time paulista, por 118 a 109, marcasse tanto.
"Foi a melhor atuação da minha vida, incluindo os títulos com a seleção brasileira", diz Wlamir, bicampeão mundial defendendo as cores do país.
"Em uma época em que não existiam os arremessos de três pontos e que faltas coletivas não geravam lances livres, os dois times fizeram mais de cem pontos", rememora o ex-atleta.
De um lado estava o campeão paulista -levaria o bi do Estadual e o título da primeira edição da Taça Brasil naquele ano.
O quinteto titular era formado por Edvar, Rosa Branca, Wlamir, Ubiratan e Renê Salomão. Amaury, então no Sírio, reforçaria a equipe em 1966.
Do outro, o bicampeão europeu e hexacampeão espanhol. Em excursão à América do Sul, o Real Madrid disputara seis jogos na Argentina, no Chile e no Uruguai, com cinco vitórias.
Sevillano, Emiliano Rodríguez, Lolo Sainz, Monsalve e Clifford Luyk formavam o time titular. Em eleição feita pela associação dos ex-jogadores do Real Madrid, Luyk, norte-americano naturalizado espanhol, aparece empatado com Wayne Brabender como o melhor atleta da história do clube. Rodríguez ficou em terceiro lugar.
"O Corinthians teve forte presença de espanhóis em sua fundação. Daí a importância daquele jogo", diz Rosa Branca.
Há equívocos ainda hoje presentes. Wlamir diz ter feito 51 pontos. "Foram 31 no primeiro tempo. Tem gente que diz que caí de produção, porque marquei só 20 no segundo tempo."
Segundo a Folha publicou na época, Wlamir marcou 40. Ubiratan fez 32. Pelo Real, os destaques foram Luyk (33) e Rodríguez (30). Monsalve fez 16. "Foi uma noite incrível. O Wlamir estava no auge. Foi o maior jogador do Brasil junto com Amaury e Oscar", diz Moncho.
O jogo começou nervoso, com o Corinthians errando muitas jogadas. Sem Robert Burgues, que se machucara no périplo sul-americano, o Real Madrid equilibrava as ações. Wlamir e Rodríguez alternavam bons lances no ataque.
Uma substituição equivocada, feita pelo técnico Pedro Ferrandiz, que também dirigia a Espanha, começou a determinar a sorte do jogo. Moncho foi para o banco. Sua saída prejudicou a defesa da equipe. O Corinthians aproveitou para se distanciar. Terminou o primeiro tempo à frente (69 a 53).
Monsalve voltou à quadra na segunda etapa. O Real melhorou, e o Corinthians parecia desconcentrado, principalmente após atingir os cem pontos, o que era pedido pela torcida. "Na época o time não ganhava no futebol. Então, nossos jogos sempre tinham muita gente", diz Wlamir, lembrando o jejum de títulos da equipe nos gramados (1954-1977).
O futuro técnico do Brasil, de 2,02 m e então com 20 anos, é descrito na época como "esforçado". Entre os colegas, era chamado de Bulldog por causa da combatividade no garrafão.
O basquete chegou por acaso em sua vida. Moncho sonhava com o atletismo. "Competia no decatlo. Fui campeão nas categorias menores", diz o técnico.
Mas, quando foi para o Real Madrid, recebeu ultimato: teria que optar por um esporte. "O basquete já era profissional. Treinávamos de manhã e à tarde. Não dava para conciliar."
Decisão sensata. Suas boas atuações no clube o levaram à seleção de seu país, pela qual jogou 82 partidas antes de se embrenhar na carreira de técnico, em 1971. No Real, seria tri espanhol e europeu. Apesar de tantas conquistas, a derrota no Brasil foi inesquecível.
"Foi o único jogo que tivemos no país. Ficamos ainda três dias de férias no Rio. Era um prêmio pelo título europeu", lembra ele, saudoso de sua primeira vinda ao Brasil.


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