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Moncho faz história há 43 anos
Quando defendia Real Madrid, técnico da seleção participou de confronto histórico com Corinthians
Time de SP, que vivia jejum no futebol, lotou ginásio para bater bi europeu por 118 a 109 no tempo em que não havia tiro de 3 pontos
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Muito antes de se tornar treinador da seleção brasileira
masculina, o espanhol Moncho
Monsalve já fazia parte da história do basquete nacional. Há
quase 43 anos, para ser exato.
Na noite de 5 de julho de
1965, cerca de 8.000 pessoas
enfrentaram o frio e a chuva e
foram ao ginásio do Parque São
Jorge ver Corinthians x Real
Madrid. Poucas esperavam que
aquela vitória do time paulista,
por 118 a 109, marcasse tanto.
"Foi a melhor atuação da minha vida, incluindo os títulos
com a seleção brasileira", diz
Wlamir, bicampeão mundial
defendendo as cores do país.
"Em uma época em que não
existiam os arremessos de três
pontos e que faltas coletivas
não geravam lances livres, os
dois times fizeram mais de cem
pontos", rememora o ex-atleta.
De um lado estava o campeão
paulista -levaria o bi do Estadual e o título da primeira edição da Taça Brasil naquele ano.
O quinteto titular era formado por Edvar, Rosa Branca,
Wlamir, Ubiratan e Renê Salomão. Amaury, então no Sírio,
reforçaria a equipe em 1966.
Do outro, o bicampeão europeu e hexacampeão espanhol.
Em excursão à América do Sul,
o Real Madrid disputara seis jogos na Argentina, no Chile e no
Uruguai, com cinco vitórias.
Sevillano, Emiliano Rodríguez, Lolo Sainz, Monsalve e
Clifford Luyk formavam o time
titular. Em eleição feita pela associação dos ex-jogadores do
Real Madrid, Luyk, norte-americano naturalizado espanhol,
aparece empatado com Wayne
Brabender como o melhor atleta da história do clube. Rodríguez ficou em terceiro lugar.
"O Corinthians teve forte
presença de espanhóis em sua
fundação. Daí a importância
daquele jogo", diz Rosa Branca.
Há equívocos ainda hoje presentes. Wlamir diz ter feito 51
pontos. "Foram 31 no primeiro
tempo. Tem gente que diz que
caí de produção, porque marquei só 20 no segundo tempo."
Segundo a Folha publicou na
época, Wlamir marcou 40. Ubiratan fez 32. Pelo Real, os destaques foram Luyk (33) e Rodríguez (30). Monsalve fez 16.
"Foi uma noite incrível. O Wlamir estava no auge. Foi o maior
jogador do Brasil junto com
Amaury e Oscar", diz Moncho.
O jogo começou nervoso,
com o Corinthians errando
muitas jogadas. Sem Robert
Burgues, que se machucara no
périplo sul-americano, o Real
Madrid equilibrava as ações.
Wlamir e Rodríguez alternavam bons lances no ataque.
Uma substituição equivocada, feita pelo técnico Pedro
Ferrandiz, que também dirigia
a Espanha, começou a determinar a sorte do jogo. Moncho foi
para o banco. Sua saída prejudicou a defesa da equipe. O Corinthians aproveitou para se
distanciar. Terminou o primeiro tempo à frente (69 a 53).
Monsalve voltou à quadra na
segunda etapa. O Real melhorou, e o Corinthians parecia
desconcentrado, principalmente após atingir os cem pontos, o que era pedido pela torcida. "Na época o time não ganhava no futebol. Então, nossos jogos sempre tinham muita
gente", diz Wlamir, lembrando
o jejum de títulos da equipe nos
gramados (1954-1977).
O futuro técnico do Brasil, de
2,02 m e então com 20 anos, é
descrito na época como "esforçado". Entre os colegas, era
chamado de Bulldog por causa
da combatividade no garrafão.
O basquete chegou por acaso
em sua vida. Moncho sonhava
com o atletismo. "Competia no
decatlo. Fui campeão nas categorias menores", diz o técnico.
Mas, quando foi para o Real
Madrid, recebeu ultimato: teria
que optar por um esporte. "O
basquete já era profissional.
Treinávamos de manhã e à tarde. Não dava para conciliar."
Decisão sensata. Suas boas
atuações no clube o levaram à
seleção de seu país, pela qual
jogou 82 partidas antes de se
embrenhar na carreira de técnico, em 1971. No Real, seria tri
espanhol e europeu. Apesar de
tantas conquistas, a derrota no
Brasil foi inesquecível.
"Foi o único jogo que tivemos no país. Ficamos ainda
três dias de férias no Rio. Era
um prêmio pelo título europeu", lembra ele, saudoso de
sua primeira vinda ao Brasil.
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