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FUTEBOL
Os sapos enterrados
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Amigo torcedor, amigo
secador, bata três vezes na
madeira antes de ler esta crônica.
Amigo, quem não soubesse do
resultado do jogo de quarta, no
Pacaembu, e tentasse adivinhar o
placar pelas feições dos corintianos que se arrastavam pelos arredores do estádio, não titubearia:
os alvinegros tomaram uma tequilada indigesta dos mexicanos.
Eis um ótimo exercício de psicologia chinfrim: tentar adivinhar o
placar pelos olhos, caras e bocas
dos torcedores que voltam do
campo. Nesse jogo de anteontem
-havia visto apenas o primeiro
tempo-, errei feio o meu palpite.
Havia um semblante de pesar,
com os cemitérios da Doutor Arnaldo e da Consolação ao fundo,
em cada fiel criatura que testemunhara aquele raquítico 1 x 0.
Tristes das vitórias que nos fazem
sentir o incenso da tragédia como
nessa contra o Tigres.
O mais otimista, o mais Polyana dos corintianos que caminhavam de volta para casa ou para o
botequim, ali vislumbrava que o
sapo continental, que há anos impede as conquistas da América,
estava longe de ter sua data de
validade vencida.
O sapo estava mais enterrado
do que nunca, e o mosqueteiro gemia com o corpo alvejado por vodus. Resta ao nosso bom e glorioso são Jorge desenterrar o maligno batráquio e aniquilar de vez a
sua peçonha.
Cada time tem o seu sapo. O
Santos, por exemplo, desenterrou
lindamente, com a geração Robinho e Diego, o seu sapo nacional.
O batráquio estadual, porém, já
fez 21 anos. As rezas fortes da Baixada, ao que tudo indica, estão
prestes a extirpar o maldito cururu escondido na Vila desde 1985.
A relação desses bufonídeos
com o futebol é secular. Um dos
sapos mais famosos é o que foi enterrado em São Januário nos anos
30. O flamenguista que fez a mandinga dizia, abertamente, que o
danado tinha 12 anos de prazo. O
Vasco montava os melhores times
possíveis à época e nada. A seca,
interrompida com a taça estadual de 1945, durou 11 anos. O
presidente cruzmaltino à época
saiu-se com essa: "Deus nos fez
um descontinho". Quem conta o
caso é o escriba uruguaio Eduardo Galeano, no livro "Futebol ao
Sol e à Sombra" (L&PM). "No
creo en las brujas, pero que las
hay, las hay." Veja o exemplo do
galáctico Real Madrid. Profissionalíssimo, baita estrutura, põe
técnico, tira técnico... e nada.
Os sapos, então, nem me fale.
São incontáveis por aqui. Amigo
torcedor, bata comigo, três vezes,
pá-pá-pá, mangalô, na madeira e
no compensado das superstições.
Os batráquios, sejam estaduais,
nacionais, continentais ou mundiais, atacam indiscriminadamente a todos, por um certo período. O São Paulo, por exemplo,
montou nos últimos tempos uma
verdadeira operação de caça a esses malditos anfíbios. Mas é bom
se precaver, caro tricolor. O Palmeiras, nem se fala, já teve muitos
sapos enterrados ali sob aquelas
árvores do Parque Antarctica.
Maldito para uns, divino para
outros. O sapo, e não o cachorro, é
o melhor amigo dos secadores.
Amigão do peito.
Última moda
Os uniformes do futebol estão
cada vez mais feios por causa da
poluição de propagandas. Muitas camisas mais parecem macacões de F-1, de tantos anúncios que portam. Mas o pior
mesmo, mais horrendo ainda,
são as marcas que tomam conta
dos calções. Na boa, publicidade na bunda não dá. Senhores
cartolas, mais respeito com esse
território sagrado e inviolável,
para uns, da anatomia.
Pão & circo
Renatinho é o nome certo para
reinventar a fantasia na Vila
Belmiro, mercadoria em falta
desde o adeus de Robinho. Pena que a comissão técnica do
Peixe, sob a desculpa de não
queimá-lo, faça tudo para proibir suas firulas. Ah, como cantava o Jorge Ben Jor das antigas,
deixa o menino brincar!
E-mail - xico.folha@uol.com.br
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