São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

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FUTEBOL

Os sapos enterrados

XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Amigo torcedor, amigo secador, bata três vezes na madeira antes de ler esta crônica.
Amigo, quem não soubesse do resultado do jogo de quarta, no Pacaembu, e tentasse adivinhar o placar pelas feições dos corintianos que se arrastavam pelos arredores do estádio, não titubearia: os alvinegros tomaram uma tequilada indigesta dos mexicanos.
Eis um ótimo exercício de psicologia chinfrim: tentar adivinhar o placar pelos olhos, caras e bocas dos torcedores que voltam do campo. Nesse jogo de anteontem -havia visto apenas o primeiro tempo-, errei feio o meu palpite.
Havia um semblante de pesar, com os cemitérios da Doutor Arnaldo e da Consolação ao fundo, em cada fiel criatura que testemunhara aquele raquítico 1 x 0. Tristes das vitórias que nos fazem sentir o incenso da tragédia como nessa contra o Tigres.
O mais otimista, o mais Polyana dos corintianos que caminhavam de volta para casa ou para o botequim, ali vislumbrava que o sapo continental, que há anos impede as conquistas da América, estava longe de ter sua data de validade vencida.
O sapo estava mais enterrado do que nunca, e o mosqueteiro gemia com o corpo alvejado por vodus. Resta ao nosso bom e glorioso são Jorge desenterrar o maligno batráquio e aniquilar de vez a sua peçonha.
Cada time tem o seu sapo. O Santos, por exemplo, desenterrou lindamente, com a geração Robinho e Diego, o seu sapo nacional. O batráquio estadual, porém, já fez 21 anos. As rezas fortes da Baixada, ao que tudo indica, estão prestes a extirpar o maldito cururu escondido na Vila desde 1985.
A relação desses bufonídeos com o futebol é secular. Um dos sapos mais famosos é o que foi enterrado em São Januário nos anos 30. O flamenguista que fez a mandinga dizia, abertamente, que o danado tinha 12 anos de prazo. O Vasco montava os melhores times possíveis à época e nada. A seca, interrompida com a taça estadual de 1945, durou 11 anos. O presidente cruzmaltino à época saiu-se com essa: "Deus nos fez um descontinho". Quem conta o caso é o escriba uruguaio Eduardo Galeano, no livro "Futebol ao Sol e à Sombra" (L&PM). "No creo en las brujas, pero que las hay, las hay." Veja o exemplo do galáctico Real Madrid. Profissionalíssimo, baita estrutura, põe técnico, tira técnico... e nada.
Os sapos, então, nem me fale. São incontáveis por aqui. Amigo torcedor, bata comigo, três vezes, pá-pá-pá, mangalô, na madeira e no compensado das superstições.
Os batráquios, sejam estaduais, nacionais, continentais ou mundiais, atacam indiscriminadamente a todos, por um certo período. O São Paulo, por exemplo, montou nos últimos tempos uma verdadeira operação de caça a esses malditos anfíbios. Mas é bom se precaver, caro tricolor. O Palmeiras, nem se fala, já teve muitos sapos enterrados ali sob aquelas árvores do Parque Antarctica.
Maldito para uns, divino para outros. O sapo, e não o cachorro, é o melhor amigo dos secadores. Amigão do peito.

Última moda
Os uniformes do futebol estão cada vez mais feios por causa da poluição de propagandas. Muitas camisas mais parecem macacões de F-1, de tantos anúncios que portam. Mas o pior mesmo, mais horrendo ainda, são as marcas que tomam conta dos calções. Na boa, publicidade na bunda não dá. Senhores cartolas, mais respeito com esse território sagrado e inviolável, para uns, da anatomia.

Pão & circo
Renatinho é o nome certo para reinventar a fantasia na Vila Belmiro, mercadoria em falta desde o adeus de Robinho. Pena que a comissão técnica do Peixe, sob a desculpa de não queimá-lo, faça tudo para proibir suas firulas. Ah, como cantava o Jorge Ben Jor das antigas, deixa o menino brincar!


E-mail - xico.folha@uol.com.br

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