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LEI PELÉ
Dez anos depois, passe resiste e gera mais cobiça
Após mudança, venda de jogadores continua, mas agora mais gente divide bolo
Em uma década, nascem superagentes, fundos de investimentos e atletas com vários "donos'; novo cenário tem até acordo só de boca
LUÍS FERRARI
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Passe. A palavra não morreu.
Está viva na boca de dirigentes,
empresários, jogadores, jornalistas e até de decisões judiciais
que lidam com o futebol brasileiro. Quando não usam o termo consagrado, substituem-no
pelo moderno direitos federativos, ou econômicos. O sentido,
porém, é o mesmo.
Fato é que nenhum deles se
esquece do mecanismo que
prendia o jogador ao clube
mesmo depois do fim do contrato de trabalho, extinto há
exatos dez anos com a promulgação da Lei Pelé.
Não que o futebol na última
década tenha ficado inalterado.
Mudou o poder: empresários,
alguns jogadores e até fundos
de investidores ganharam força
diante dos clubes. Mudaram os
personagens: surgiram superagentes, atletas ciganos e atravessadores. Mudaram, principalmente, os times, sujeitos ao
eterno desmonte.
Aos atletas mais velhos, os
clubes reservam contratos curtos para evitar multas rescisórias ou cláusulas penais. Suas
estadas tendem a ser breves.
Os mais jovens são brindados
com compromissos longos.
Mas ficam pouco tempo, pois
são logo transferidos.
Dessa roleta, nascem personagens como o atacante Luizão, que rodou por 14 clubes em
17 anos. Passou por oito grandes do Brasil. Trajetória possível graças à Lei Pelé, diz ele.
Se Luizão dividiu a carreira
por muitos clubes, alguns atletas são "fatiados" dentro de um
só time. Os direitos econômicos são repartidos entre clubes,
agentes, fundos e o jogador.
Tudo à margem de normas
da Fifa. Tudo sujeito à confirmação de contratos na Justiça.
Tudo instável, desregulado
diante de uma CBF que pouco
interfere no mercado da bola.
Essa feira informal, na qual
vale o acordo de boca muitas
vezes não cumprido, gera pedidos por regulamentação.
Até Pelé, que deu nome à lei e
reclama de ela ter sido deturpada, fala em mudá-la. Não é o
único. Dez em dez cartolas pedem a alteração da legislação. E
fazem lobby junto ao governo
federal. Até o presidente Lula já
disse que quer modificações.
Do outro lado, o sindicato
dos jogadores teme perder direitos adquiridos. E ainda pede
mais direitos trabalhistas.
Longe da ciranda de empresários e clubes grandes, a maioria dos 16 mil jogadores registrados no país contenta-se em
migrar para mercados desconhecidos no exterior, abertos
após a Lei Pelé. E ainda não
vêem horas extras entre seus
ganhos em carteira.
Do andar de cima ao de baixo,
tudo mudou, nada mudou. E a
guerra começou de novo.
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