São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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LEI PELÉ

Dez anos depois, passe resiste e gera mais cobiça

Após mudança, venda de jogadores continua, mas agora mais gente divide bolo

Em uma década, nascem superagentes, fundos de investimentos e atletas com vários "donos'; novo cenário tem até acordo só de boca


LUÍS FERRARI
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Passe. A palavra não morreu. Está viva na boca de dirigentes, empresários, jogadores, jornalistas e até de decisões judiciais que lidam com o futebol brasileiro. Quando não usam o termo consagrado, substituem-no pelo moderno direitos federativos, ou econômicos. O sentido, porém, é o mesmo.
Fato é que nenhum deles se esquece do mecanismo que prendia o jogador ao clube mesmo depois do fim do contrato de trabalho, extinto há exatos dez anos com a promulgação da Lei Pelé.
Não que o futebol na última década tenha ficado inalterado. Mudou o poder: empresários, alguns jogadores e até fundos de investidores ganharam força diante dos clubes. Mudaram os personagens: surgiram superagentes, atletas ciganos e atravessadores. Mudaram, principalmente, os times, sujeitos ao eterno desmonte.
Aos atletas mais velhos, os clubes reservam contratos curtos para evitar multas rescisórias ou cláusulas penais. Suas estadas tendem a ser breves.
Os mais jovens são brindados com compromissos longos. Mas ficam pouco tempo, pois são logo transferidos.
Dessa roleta, nascem personagens como o atacante Luizão, que rodou por 14 clubes em 17 anos. Passou por oito grandes do Brasil. Trajetória possível graças à Lei Pelé, diz ele.
Se Luizão dividiu a carreira por muitos clubes, alguns atletas são "fatiados" dentro de um só time. Os direitos econômicos são repartidos entre clubes, agentes, fundos e o jogador.
Tudo à margem de normas da Fifa. Tudo sujeito à confirmação de contratos na Justiça. Tudo instável, desregulado diante de uma CBF que pouco interfere no mercado da bola.
Essa feira informal, na qual vale o acordo de boca muitas vezes não cumprido, gera pedidos por regulamentação.
Até Pelé, que deu nome à lei e reclama de ela ter sido deturpada, fala em mudá-la. Não é o único. Dez em dez cartolas pedem a alteração da legislação. E fazem lobby junto ao governo federal. Até o presidente Lula já disse que quer modificações.
Do outro lado, o sindicato dos jogadores teme perder direitos adquiridos. E ainda pede mais direitos trabalhistas.
Longe da ciranda de empresários e clubes grandes, a maioria dos 16 mil jogadores registrados no país contenta-se em migrar para mercados desconhecidos no exterior, abertos após a Lei Pelé. E ainda não vêem horas extras entre seus ganhos em carteira.
Do andar de cima ao de baixo, tudo mudou, nada mudou. E a guerra começou de novo.


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