São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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SONINHA

Só o título interessa

Para os pequenos, poder aparecer e derrotar grandes é ótimo; mas, para os grandes, o Estadual ainda vale a pena?

QUANDO , na véspera de um jogo decisivo entre um grande e um pequeno, os comentaristas dizem que não têm nada definido, que sempre pode haver surpresas, que um lance fortuito pode derrubar o favoritismo, parece que estamos cumprindo um dever de ofício. Querendo valorizar o espetáculo, procurando ser corretos, aproveitando para polemizar ou apenas repetindo o chavão. Quem sabe, até, torcendo -ou secando... (Comentarista torce e seca. Mas, desejavelmente, não quando comenta.) Diante dessa relutância em cravar um "já ganhou", há até quem se queixe de menosprezo ao grande ("como ousam duvidar que o título da Copa do Brasil vá para o Fluminense/Flamengo?"). Nada disso: é a simples constatação do que é possível, ainda que improvável.
O Santos não ficou fora da final do Paulista por um triz; o melhor ataque não conseguiu fazer um gol nos 180 minutos da semifinal. Se o árbitro assinalasse aquele escanteio sonegado no fim do jogo, até mesmo um jogador santista, no cúmulo do azar, poderia ter feito gol contra e classificado o Bragantino. (Não estou dizendo que o resultado se deveu à arbitragem; só lembrando que o destino pode ser caprichoso.) O time que liderou a primeira fase mereceu a classificação; nesse ponto, o regulamento foi bem. A melhor campanha foi levada em consideração. Mas bastaria um gol para ela ficar apenas na lembrança... O Bragantino não se preocupou apenas em "destruir"; foi uma equipe que jogou bem, com lucidez na movimentação, qualidade no passe e o empenho que todo torcedor gosta de ver. Não havia bola perdida ou parte do campo livre de disputa.
Faltou um craque "para empurrar a bola para dentro"? Talvez... Como às vezes acontece aos grandes. Alguém capaz de um lance individual que bagunce o adversário. Coisa que não faltou ao São Caetano no sábado -e aqui entra o tal capricho do destino. Se o Azulão tivesse se classificado por um único gol de vantagem, talvez Richarlysson e o seu gol contra ficassem marcados como responsáveis pela eliminação. Do jeito que foi, a "culpa" fica mais diluída -foram tantos erros...
Souza, Jadílson, Rogério, Ilsinho, André Dias, Alex Silva - e, quem sabe, Muricy. Mas se o São Caetano tivesse sido eliminado, Glaydson talvez fosse lembrado como o jogador que deixou Hugo sozinho na área (para concluir em gol a bela bola cruzada por Jadilson). Mas no Morumbi, com o lençol no zagueiro e a finalização impecável, o volante foi o autor de uma das jogadas mais espetaculares do fim de semana. Derrotado de maneira incontestável, o São Paulo pode se perguntar para que lhe serviu o Estadual. Para os grandes, só o título interessa. Disputam-se 21 jogos para sair do campeonato com o carimbo de fracassado... Para os pequenos, ser semifinalista já é bom. Medir forças com os grandes, revelar jogadores, aparecer na TV e atrair patrocinadores para a disputa das Séries B e C, se for o caso.
Para nós, é bom conhecer goleiros, atacantes, meias e técnicos promissores. E é divertido ver um grande derrotado por eles, mesmo que não seja em partida decisiva. Mas... E para o grande, qual é a graça? Bom para eles é disputar clássicos e finais. Também é oportuno preparar o time para o Brasileiro, botar todo mundo em forma, descobrir a formação ideal. Mas quando está em jogo um título importante (ao menos para a torcida!), com a rivalidade tão presente, não dá para tratar a disputa apenas como "preparação".
Fazer o que, então? Aprimorar o regulamento de forma a valorizar sua participação. Não é bom só para eles -para os pequenos, a graça é pegar os grandes motivados, aplicados, competitivos. Continuo na batalha por um campeonato mais enxuto -porque gosto dele.

soninha.folha@uol.com.br


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