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SONINHA
Só o título interessa
Para os pequenos, poder aparecer e derrotar grandes é ótimo; mas, para os grandes, o Estadual ainda vale a pena?
QUANDO , na véspera de um jogo decisivo entre um grande
e um pequeno, os comentaristas dizem que não têm nada definido, que sempre pode haver surpresas, que um lance fortuito pode
derrubar o favoritismo, parece que
estamos cumprindo um dever de
ofício. Querendo valorizar o espetáculo, procurando ser corretos, aproveitando para polemizar ou apenas
repetindo o chavão. Quem sabe, até,
torcendo -ou secando... (Comentarista torce e seca. Mas, desejavelmente, não quando comenta.)
Diante dessa relutância em cravar
um "já ganhou", há até quem se
queixe de menosprezo ao grande
("como ousam duvidar que o título
da Copa do Brasil vá para o Fluminense/Flamengo?"). Nada disso: é a
simples constatação do que é possível, ainda que improvável.
O Santos não ficou fora da final do
Paulista por um triz; o melhor ataque não conseguiu fazer um gol nos
180 minutos da semifinal. Se o árbitro assinalasse aquele escanteio sonegado no fim do jogo, até mesmo
um jogador santista, no cúmulo do
azar, poderia ter feito gol contra e
classificado o Bragantino. (Não estou dizendo que o resultado se deveu à arbitragem; só lembrando que
o destino pode ser caprichoso.)
O time que liderou a primeira fase
mereceu a classificação; nesse ponto, o regulamento foi bem. A melhor
campanha foi levada em consideração. Mas bastaria um gol para ela ficar apenas na lembrança... O Bragantino não se preocupou apenas
em "destruir"; foi uma equipe que
jogou bem, com lucidez na movimentação, qualidade no passe e o
empenho que todo torcedor gosta
de ver. Não havia bola perdida ou
parte do campo livre de disputa.
Faltou um craque "para empurrar
a bola para dentro"? Talvez... Como
às vezes acontece aos grandes. Alguém capaz de um lance individual
que bagunce o adversário.
Coisa que não faltou ao São Caetano no sábado -e aqui entra o tal capricho do destino. Se o Azulão tivesse se classificado por um único gol
de vantagem, talvez Richarlysson e o
seu gol contra ficassem marcados
como responsáveis pela eliminação.
Do jeito que foi, a "culpa" fica mais
diluída -foram tantos erros...
Souza, Jadílson, Rogério, Ilsinho,
André Dias, Alex Silva - e, quem sabe, Muricy. Mas se o São Caetano tivesse sido eliminado, Glaydson talvez fosse lembrado como o jogador
que deixou Hugo sozinho na área
(para concluir em gol a bela bola
cruzada por Jadilson). Mas no Morumbi, com o lençol no zagueiro e a
finalização impecável, o volante foi o
autor de uma das jogadas mais espetaculares do fim de semana.
Derrotado de maneira incontestável, o São Paulo pode se perguntar
para que lhe serviu o Estadual. Para
os grandes, só o título interessa. Disputam-se 21 jogos para sair do campeonato com o carimbo de fracassado... Para os pequenos, ser semifinalista já é bom. Medir forças com os
grandes, revelar jogadores, aparecer
na TV e atrair patrocinadores para a
disputa das Séries B e C, se for o caso.
Para nós, é bom conhecer goleiros,
atacantes, meias e técnicos promissores. E é divertido ver um grande
derrotado por eles, mesmo que não
seja em partida decisiva. Mas...
E para o grande, qual é a graça?
Bom para eles é disputar clássicos
e finais. Também é oportuno preparar o time para o Brasileiro, botar todo mundo em forma, descobrir a
formação ideal. Mas quando está em
jogo um título importante (ao menos para a torcida!), com a rivalidade
tão presente, não dá para tratar a
disputa apenas como "preparação".
Fazer o que, então? Aprimorar o
regulamento de forma a valorizar
sua participação. Não é bom só para
eles -para os pequenos, a graça é
pegar os grandes motivados, aplicados, competitivos. Continuo na batalha por um campeonato mais enxuto -porque gosto dele.
soninha.folha@uol.com.br
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