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Hoje o sonho está repartido democraticamente
MATINAS SUZUKI JR.
do Conselho Editorial
Meus amigos, meus inimigos,
São Paulo aspira aquele vertiginoso clima de decisão.
Há tempos essa deliciosa expectativa não era repartida
tão democraticamente (não
fora o cinza que mancha o
azul de maio, esse gostoso desassossego na antecâmara da
decisão poderia ser uma completa felicidade).
Não importa que uns estarão
desfalcados, nem as condições
objetivas dos quatro grandes.
Todos vestirão a camisa do
seu time, terão direito à uma
fatia do sonho. A esperança é o
maior divisor comum da cidade. Ah, e viva o Grêmio!
O número de junho da revista britânica "World Soccer"
tem uma página sobre os escândalos do futebol brasileiro.
Detalhe: a reportagem foi escrita antes de o "Jornal Nacional" mostrar as gravações com
o Ivens Mendes. O mundo começa a conhecer o verdadeiro
futebol brasileiro.
Marcelo Duarte, da "Placar",
nosso guia universal das curiosidades, dá a dica: Bruce Willis, o chofer de táxi aéreo do
século 23, tem uma flâmula da
seleção brasileira campeã no
remotíssimo ano de 1994.
Confira no filme "O Quinto
Elemento".
Tostão tinha estilo, o que não
é comum entre os atacantes
brasileiros (nesse terreno, a
tradição dos atacantes uruguaios talvez seja mais generosa do que a brasileira).
Além do estilo, a cabeça sempre erguida, enxergando longe,
era uma espécie de intelectual
do futebol: a bola parecia muito mais uma extensão do seu
cérebro que dos pés.
Tostão tinha também a capacidade de represar uma tal
densidade de sentimentos
(amizade, sinceridade, integridade, boa fé) na sua estilística
simples, que o seu futebol ficará como um apêndice da antologia dos contistas mineiros.
Para os leitores desta coluna,
um presente neste sábado de
muita esperança no futebol: a
seleção dos jogadores mais elegantes elaborada por Tostão.
Gilmar ("elegante na bela
defesa e no frango"), Carlos
Alberto ("passadas bonitas e
largas"), Djalma Dias ("não
sujava o calção"), Luizinho
("jogava bem e com pose") e
Newton Santos ("cabeça em pé
no desarme no passe"); Dino
Sani ("passava a bola como se
fosse com as mãos"), Falcão
("o mais elegante e o melhor
volante de todos os tempos"),
Didi ("arte e beleza nos lançamentos") e Ademir da Guia
("parecia um bailarino de patins no gelo"); Sócrates ("perfeito equilíbrio do corpo") e
Giovanni ("uma obra de arte
dominando a bola no peito").
Reservas: Raul, Joel Camargo, Zé Carlos, Mengálvio e
Evaldo.
Como colunista de futebol,
Tostão tem feito interessantes
conexões entre esse esporte e a
psicanálise. Algumas pessoas
me perguntam qual é o interesse em fazer a seleção dos jogadores mais elegantes.
Existem várias respostas.
Uma delas encontrei no interessante livrinho "Monogamia", do descolado psicanalista britânico Adam Phillips: "O
charme, a aparência atraente,
sempre foram, afinal de contas, o nosso melhor antidepressivo cultural. É o que não deixa as coisas pararem de rolar".
Nem as bolas, acrescento eu.
Matinas Suzuki Jr. escreve às terças, quintas e
sábados
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