São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

Medo do passado


O Nacional vê o Palmeiras como rival fraco, confiando ter resgatado a força que os uruguaios tinham nos anos 80


HUGO DE LEÓN, histórico capitão do Nacional campeão da Libertadores em 1980 e 1988 -e também do Grêmio de 1983- avisa de Montevidéu: por lá, a torcida considera o Palmeiras o pior dos classificados para as quartas de final. Ponderam mesmo que esta é a grande chance de o futebol uruguaio acabar com um incômodo jejum de 20 anos sem um representante do país nas semifinais do principal torneio de clubes do continente.
O próprio De León acha que seus compatriotas estão delirando. E que, se o Nacional não tiver o mínimo respeito pelo Palmeiras, será eliminado nas quartas de final.
Mas o exemplo de De León dá mais uma vez a noção do que aconteceu com o Palmeiras nos últimos dez anos, desde a conquista de 1999. Ou melhor, do que não aconteceu.
Os palmeirenses podem julgar que os tricolores de lá -sim, o Nacional é tricolor- têm uma dose da prepotência normalmente atribuída também aos tricolores de cá. Digamos que os de cá, adversários de hoje pelo Brasileirão, têm do que se orgulhar. Os de lá, nem tanto.
Desde 1989, ano do último representante nas semifinais da Libertadores, dez vezes os clubes celestes enfrentaram brasileiros em mata- -matas. Só ganharam uma, com o Defensor, contra o Flamengo, nas oitavas de final de 2007.
No ano passado, o Nacional foi eliminado nas oitavas pelo São Paulo. O motivo do otimismo da torcida uruguaia é que o time evoluiu. Em 2007, o Inter era o dono do título da Libertadores e teve pela frente o Nacional na fase de grupos. Foi à última rodada precisando vencer por 2 a 0 para não viver o vexame de ser o primeiro campeão eliminado na primeira fase. O fiasco se materializou com vitória por 1 a 0. Era o primeiro sinal de recuperação do Nacional, um dos clubes mais importantes da história do futebol sul-americano.
O auxiliar técnico de Vanderlei Luxemburgo, Antônio Lopes Júnior -filho de Antônio Lopes, treinador campeão continental pelo Vasco em 1998-, passou dias em Montevidéu, mapeando as principais qualidades do rival palmeirense de quinta-feira. "Eles me surpreenderam positivamente", destacou Lopes Júnior.
O Nacional metia medo nos anos 70, quando tinha um ídolo também do Palmeiras. O centroavante argentino Artime fez 57 jogos pelo Palmeiras entre 1968 e 1969 e marcou 48 gols. "Impressionava como matava bolas de canela e mesmo assim fazia uma quantidade incrível de gols", lembra De León, que torceu por Artime quando este defendeu o Nacional campeão da Libertadores em 71.
"Naquele tempo, os brasileiros tinham medo de enfrentar os uruguaios. Hoje não têm, porque a estatística mudou." De León viveu em campos brasileiros o início do declínio celeste. Em 1983, venceu o Peñarol na final e deu ao Grêmio sua primeira conquista de Libertadores.
Os uruguaios nunca mais foram os mesmos.
O Palmeiras, sim. No fim dos anos 90, voltou a despertar medo nos rivais sul-americanos, eliminou o River Plate na semifinal e ganhou o torneio continental com Felipão.
Hoje, os uruguaios têm tanto medo do Palmeiras quanto o Brasil tem do Uruguai. Medo do passado. Para quem entra em campo vestindo verde, quinta é dia de se fazer presente.

pvc@uol.com.br

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