São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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JOSÉ GERALDO COUTO

Previsões fazem pensar na natureza da Copa


Os jornalistas não inventam previsões a partir do nada. Partem de dados objetivos somados a outro tanto de subjetividade


Um leitor sarcástico e de boa memória, que se identifica apenas como Delmar, lembra que, dias antes do início da Copa, a Folha publicou uma enquete com jornalistas dos 32 países participantes do Mundial -e que eles erraram todos os prognósticos: de campeão (França), fiasco (Alemanha), surpresa (Camarões), artilheiro (Trezeguet) e craque (Zidane) do torneio.
A conclusão irônica do leitor: "Jornalista entende muito de futebol. Não é que eles erraram por pouco. Eles erraram tudo".
Não votei na tal enquete, nem tenho procuração para defender os colegas jornalistas, mas acho que Delmar foi injusto.
Os jornalistas não inventam prognósticos a partir do nada, nem têm bola de cristal. Eles partem de alguns dados objetivos (resultados dos últimos jogos, observação do estado físico e tático dos times, atuação dos principais jogadores etc), somados a outro tanto de subjetividade.
Se a seleção da França -campeã do mundo em 98, campeã européia em 2000 e da Copa das Confederações em 2001- estava com a equipe reforçada e quase completa (o único desfalque era Pires, na época da enquete), seria lógico apostar nela como favorita.
Claro que é surpreendente que todas as previsões tenham falhado redondamente.
Mas isso tem a ver menos com uma suposta incompetência dos jornalistas do que com outros fatores.
O primeiro deles é óbvio, mas parece muitas vezes esquecido: o futebol não é uma ciência exata. O fato básico de a bola ser redonda, jogada com os pés pelo ser mais imprevisível que existe, faz dele uma inesgotável "caixinha de surpresas".
A segunda explicação para os erros de previsão é o nivelamento tático e técnico verificado nos últimos tempos no "futebol globalizado", como muita gente tem comentado. Com raras exceções, não há mais os desníveis abissais entre seleções.
Por último, há as circunstâncias específicas em que a Copa é jogada, a começar pelo sorteio dos grupos. É óbvio que a Argentina e a Nigéria teriam mais chances de passar pela primeira fase se caíssem em grupos menos difíceis.
No mesmo capítulo (das circunstâncias) deve ser incluída a arbitragem, que foi decisiva para derrubar favoritos como a Itália e a Espanha e abrir caminho para a co-anfitriã Coréia.
Em suma: as "zebras" existem, mas em alguns casos suas listras têm origens bem precisas.

jgcouto@uol.com.br



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