São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÔLEI

O impasse

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

O vôlei brasileiro vive momentos bem distintos. No masculino, a seleção se prepara para estrear sexta-feira na Liga Mundial e tem grandes chances de novamente ser campeã. O feminino vive um tempo de discórdias: as principais jogadoras deixaram o time, e os títulos parecem hoje algo distante.
Confesso que doeu no coração quando soube os resultados dos dois primeiros amistosos com a República Dominicana. Duas derrotas por 3 a 1 para um país sem tradição. Mais um sinal de que retrocedemos no tempo por um motivo já histórico no vôlei brasileiro: a falta de união.
Desde que assumiu a seleção no lugar do técnico Bernardinho, Marco Aurélio Motta enfrentou a resistência de algumas jogadoras. O resultado foi um relacionamento difícil entre comissão técnica e atletas mais experientes. Este mês, cinco titulares pediram dispensa: Virna, Érika, Walewska, Fofão e Raquel.
A última semana foi de reuniões no mundo do vôlei. Érika, Fofão, Raquel e Walewska estiveram reunidas com o presidente da Confederação Brasileira de Vôlei, Ary Graça. O dirigente reafirmou o apoio ao técnico. As jogadoras parecem decididas: não voltam à seleção se não houver mudanças na comissão técnica.
Sem as principais atletas, restou a Marco Aurélio antecipar uma renovação. Na última semana, ele se reuniu com os técnicos Antônio Rizola, da seleção juvenil, e Wadson Lima, da infanto-juvenil. Em pauta, a busca de jogadoras com potencial para crescer tecnicamente nos próximos anos.
A meta agora é formar um time para a Olimpíada de 2004. Ou seja, as perspectivas de voltar ao pódio nesta ou na próxima temporada são sombrias. O objetivo é dar experiência às novas jogadoras como Jaqueline, Paula Pequeno, Sassá e Sheila, todas campeãs mundiais juvenis no ano passado.
O mais triste nesta história é que três, das cinco atletas que pediram dispensa, são muito jovens: Érika tem 22 anos, Walewska, 23, e Raquel, 24.
Conclusão: vamos renovar o que já era uma renovação.
Mais experientes, Virna e Fofão também vão fazer falta. Mesmo sem ter feito uma grande Superliga, Virna é a principal atacante do país. Fofão é a maior perda: não há quem possa substituí-la com o mesmo padrão técnico.
E o que é possível fazer? As jogadoras escolheram o tortuoso caminho do confronto: resolveram medir forças com o técnico e pediram dispensa. A Confederação Brasileira preferiu manter a hierarquia e apoiar Marco Aurélio. Uma conciliação entre o técnico e as atletas parece impossível.
Antes dos pedidos de dispensa, já parecia tudo muito complicado. A maior prova foi a participação da equipe, no início deste mês, na Volley Masters: maus resultados nos jogos e relacionamento difícil fora da quadra.
Quem vai sofrer com as consequências disso tudo é o vôlei brasileiro. Vamos começar de novo do zero. Sem resultados internacionais, perde a seleção, mas também perdem os clubes e as atletas.
O vôlei vive um impasse: ninguém cede e todos perdem. E a queda de braço entre Marco Aurélio e as atletas continua. Se o técnico conseguir apoio para atravessar uma fase dura de derrotas, elas estão com a carreira encerrada na seleção. Se no meio do caminho, ele perder o cargo, elas voltam poderosas.

Desfalque
A seleção da Argentina, primeira adversária do Brasil na Liga Mundial, já tem um desfalque confirmado para as duas primeiras partidas, marcados para sexta-feira e sábado, em Brasília. A equipe não terá o atacante Leandro Maly. O jogador, que atua na equipe do Poitiers, da França, está com bursite (processo inflamatório) na perna direita. Maly ficará afastado dos treinos por duas semanas.

A estrela sobe
A seleção feminina italiana está surpreendendo neste início de temporada. Primeiro, foi a conquista do vice-campeonato da Volley Masters. Perdeu a final para a Rússia por 3 sets a 2, mas ficou na frente de seleções com mais tradição como Brasil, China e Cuba. Agora, a equipe, comandada pelo técnico Marco Bonitta, conquistou o título de um torneio amistoso, na Itália, do qual participaram também as seleções de Cuba, Japão e China. Na grande final, as italianas venceram as cubanas por 3 sets a 2.

E-mail cidasan@uol.com.br



Texto Anterior: Futebol: Santos vence em reestréia de técnico Emerson Leão
Próximo Texto: Automobilismo: Barrichello vence e Ferrari admite tática
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.