São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Inclusão faz Rio engolir índices de segunda

Critérios de classificação reduzem o nível da natação e do atletismo no Pan

Organizadora do evento, Odepa determina patamar fraco para atletas entrarem nos Jogos e, assim, permite enxurrada de classificados


RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se depender de seus índices classificatórios, o Pan-2007 terá um nível médio de atletas fracos na natação e no atletismo. A constatação é fruto da comparação entre critérios da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana) e de outras competições pelo mundo.
Até dirigentes brasileiros dos dois esportes reconhecem que os patamares estabelecidos pela entidade não são muito exigentes. Atribuem o fato à política da Odepa de incluir o máximo de países possível no Pan, o que não aconteceria no caso de índices superiores. Mas afirmam que isso não afetará o nível da competição no Rio.
"Estavam previstas vagas para 256 atletas na natação. Sei que já se classificaram bem mais do que isso, embora não tenhamos recebido a lista oficial. Foi por causa dos índices", conta o coordenador técnico de natação da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Ricardo Moura, que acredita, porém, que isso não afetará o nível do Pan.
Só que a decisão de incluir o máximo de atletas é vista em competições como os Jogos Asiáticos, que nem sequer têm índices classificatórios.
Não é o que acontece no Mundial universitário de natação deste ano. Na Austrália, foram criados índices fortes para a equipe do país no evento.
Em todas as 26 provas que constam no programa do Pan, os australianos exigiram marcas melhores de seus nadadores -para participarem dos Jogos universitários- do que a Odepa. Nos 1.500 m para homens, o tempo exigido no país da Oceania é um minuto mais baixo do índice para o Rio-07.
Em relação aos critérios classificatórios para a Olimpíada a diferença se alarga. Nos 50 m livre (masculino), prova decidida na batida, o Pan tem um patamar 37 centésimos superior ao índice B dos Jogos de Pequim.
A situação não é diferente no atletismo. Pelas normas de classificação, o Pan terá atletas mais fracos, na média, do que o Campeonato Africano de atletismo deste ano, na Argélia. Os africanos têm índices mais fortes em 15 provas, contra 12 da competição americana.
Isso não se limita a provas de fundo (mais de 3.000 metros). A confederação africana exige marca superior no salto em distância (masculino): 7,80 m contra 7,20 m. Mas, na elite, o Rio terá o cubano Ivan Pedroso (campeão olímpico em 2000) e o panamenho Irving Saladino (líder do ranking mundial).
Em relação ao Europeu, o Pan só tem índices mais fortes na velocidade, até 400 m. Outras 33 provas européias apresentam nível mais alto.
"Esses índices refletem a realidade de cada área nas diversas modalidades", diz o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Roberto Gesta de Melo. "Geralmente não há uma diferença de nível tão grande entre os atletas [no Pan]."
Mas há disparidade entre atletas dos EUA e de certos países. Também os brasileiros estão bem à frente da maioria do restante do continente.
Nas piscinas, pelo menos 346 atletas finalistas do Troféu Brasil teriam vaga no Pan, segundo os critérios da Odepa. Isso significa que 83% dos nadadores nas finais A e B estariam incluídos na competição. Por isso, a CBDA estabeleceu como índice brasileiro ao Rio-07 marcas mais fortes do que as da Odepa.
Mas, como país-sede, o Brasil tem direito a dois atletas por prova sem depender de índice.
No Troféu Brasil de atletismo, que acaba hoje, a maioria das provas até sexta-feira tinha pelo menos três atletas que marcaram índice para o Pan. No salto triplo (feminino) eram seis. Ou seja, Maurren Maggi e Keila Costa terão poucas rivais de alto nível no Pan, em julho.


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