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ELEONORA GOSMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Pan e o futuro do esporte
Sediar Olimpíada não garante boa atuação
atlética no futuro, especialmente sem uma política específica
N
OS DIAS que antecederam o início do
Pan, uma pergunta
inevitável estremecia os
atletas e o público que planejava assistir à competição. O que poderia acontecer durante a Olimpíada
das Américas em uma cidade atribulada por grau de
violência que algumas pessoas chegam a comparar ao
de Bagdá?
Essa alta voltagem negativa se diluiu no momento
em que os fogos de artifício,
a dança e a magia das vozes
brasileiras iluminaram,
ressoaram e encantaram o
Maracanã. Naquele momento, o Rio colocou em
brilhante exposição as jóias
que a fazem capital artística e cultural do Brasil.
Os atletas, o público e até
os jornalistas estrangeiros
que assistiam à abertura se
emocionaram. E um sentimento de irmandade surgiu para superar os desagradáveis apupos de seções
do público às delegações de
Argentina, Venezuela, Bolívia e EUA. Foi uma nota
agressiva para os estrangeiros que desembarcaram na
cidade seguros da renomada cordialidade brasileira.
O episódio poderia ser
visto só como rivalidade
folclórica, se não tivesse
servido para dar relevo às
declarações de autoridades
brasileiras, como o prefeito
do Rio, Cesar Maia, para
quem o Brasil sairá dos Jogos como "segunda potência esportiva da América".
O fato é que sediar Olimpíada não garante necessariamente um bom desempenho atlético no futuro,
especialmente se não existirem políticas específicas
e faltar dinheiro para os
atletas.
Em 1951, quando Buenos
Aires sediou o primeiro
Pan, a Argentina teve colheita esplêndida, com 150
medalhas, mas os anos
subseqüentes mostraram
deterioração geométrica
que resultou, em 1975, no
pior resultado do país no
evento (15 medalhas).
Em Mar del Plata-95, os
argentinos voltaram a
apresentar bom desempenho, com 159 medalhas.
Mas o sucesso uma vez
mais se provou efêmero, e
em 2003 o rendimento da
Argentina uma vez mais se
reduziu à metade, e o país
conquistou só 63 medalhas. O Brasil tem toda a capacidade necessária a
emergir como grande potência esportiva, mas isso
não dependerá dos Jogos
em curso. Da mesma maneira, o Rio vem exibindo
sua mais bela imagem, mas
a cidade também se vestiu
de luxo na Eco-92, na visita
do papa João Paulo 2º ou
na conferência de 46 presidentes em 2001.
ELEONORA GOSMAN é correspondente do
argentino "Clarín" e mora no Brasil há 12 anos
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