São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2007

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ELEONORA GOSMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Pan e o futuro do esporte

Sediar Olimpíada não garante boa atuação atlética no futuro, especialmente sem uma política específica

N OS DIAS que antecederam o início do Pan, uma pergunta inevitável estremecia os atletas e o público que planejava assistir à competição. O que poderia acontecer durante a Olimpíada das Américas em uma cidade atribulada por grau de violência que algumas pessoas chegam a comparar ao de Bagdá?
Essa alta voltagem negativa se diluiu no momento em que os fogos de artifício, a dança e a magia das vozes brasileiras iluminaram, ressoaram e encantaram o Maracanã. Naquele momento, o Rio colocou em brilhante exposição as jóias que a fazem capital artística e cultural do Brasil.
Os atletas, o público e até os jornalistas estrangeiros que assistiam à abertura se emocionaram. E um sentimento de irmandade surgiu para superar os desagradáveis apupos de seções do público às delegações de Argentina, Venezuela, Bolívia e EUA. Foi uma nota agressiva para os estrangeiros que desembarcaram na cidade seguros da renomada cordialidade brasileira.
O episódio poderia ser visto só como rivalidade folclórica, se não tivesse servido para dar relevo às declarações de autoridades brasileiras, como o prefeito do Rio, Cesar Maia, para quem o Brasil sairá dos Jogos como "segunda potência esportiva da América". O fato é que sediar Olimpíada não garante necessariamente um bom desempenho atlético no futuro, especialmente se não existirem políticas específicas e faltar dinheiro para os atletas.
Em 1951, quando Buenos Aires sediou o primeiro Pan, a Argentina teve colheita esplêndida, com 150 medalhas, mas os anos subseqüentes mostraram deterioração geométrica que resultou, em 1975, no pior resultado do país no evento (15 medalhas).
Em Mar del Plata-95, os argentinos voltaram a apresentar bom desempenho, com 159 medalhas. Mas o sucesso uma vez mais se provou efêmero, e em 2003 o rendimento da Argentina uma vez mais se reduziu à metade, e o país conquistou só 63 medalhas. O Brasil tem toda a capacidade necessária a emergir como grande potência esportiva, mas isso não dependerá dos Jogos em curso. Da mesma maneira, o Rio vem exibindo sua mais bela imagem, mas a cidade também se vestiu de luxo na Eco-92, na visita do papa João Paulo 2º ou na conferência de 46 presidentes em 2001.


ELEONORA GOSMAN é correspondente do argentino "Clarín" e mora no Brasil há 12 anos


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