São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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VÔLEI

Zé Roberto reconstrói time e enterra culpa por Atenas


Técnico engole provocações após revés marcante e dá volta por cima

"Foi difícil levantar a cabeça de muita gente, inclusive a minha", reconheceu ele, que agora diz sentir-se leve e pronto para sorrir sem dor

Alexander Demianchuk/Reuters
Alexander Demianchuk/ReutersO técnico Zé Roberto é festejado por sua equipe após a conquista inédita

DOS ENVIADOS A PEQUIM

Após o quarto lugar na Olimpíada de Atenas, o mundo de José Roberto Guimarães e de muitas de suas jogadoras desmoronou. Marcada pelo desperdício de sete match points na semifinal, a equipe ficou desacreditada, e o treinador se sentia culpado pelas derrotas.
Mas, à frente, ainda havia quatro anos a serem seguidos para o time tentar apagar aquela imagem e mudar o resultado final. Para o técnico, o trabalho mais complicado de sua vida.
"Foi difícil levantar a cabeça de muita gente, inclusive a minha. Eu tinha vergonha de sair na rua, sentia-me culpado por não ter ajudado o time. Nisso tenho de agradecer à confederação [de vôlei], que me bancou para mais um ciclo", afirmou Zé Roberto, que ontem levou o Brasil a uma inédita medalha de ouro nos Jogos de Pequim.
"Quando você está a um ponto de ter ao menos uma prata, e a bola não cai, aquilo não passa. Sou um cara de sorte, porque tive oportunidade de refazer um trabalho. Estou leve, vou voltar a sorrir. Antes eu sorria, mas era um sorriso meio apagado."
Após a queda em Atenas, as provocações eram constantes. Nos ginásios por onde o Osasco, seu clube na época, passava, torcedores exibiam cartazes com o placar de 24 a 19, o mesmo do quarto set da semifinal contra a Rússia. Após levar a virada, a equipe perdeu o tie-break e, depois, o bronze.
"Foi muito duro, eu deixei uma parte de mim na quadra em Atenas, e hoje [ontem] voltei para buscar. Paguei com juros e correção monetária, mas contei com o apoio da família, da minha mulher e das minhas filhas, que sofreram comigo", afirmou o treinador de 54 anos.
"A dona Alcione [mulher de Zé Roberto] foi quem mais me ajudou e me orientou, foi quem mais acreditou e mais rezou, acho que para todos os santos que existem. Ela me obrigava a dormir com uma vela no criado-mudo, esquentava demais, mas era por uma boa causa."
Além de reerguer a cabeça de quem continuaria no grupo, a comissão técnica teve de trabalhar a renovação da equipe e dar rodagem a atletas como Paula Pequeno, Jaqueline e Sheilla. Ele também iniciou a busca por novos nomes.
"O problema ali era reestruturar o grupo, refazer a escolha das jogadoras e ter o horizonte que precisava para chegar a uma final olímpica", disse.
Em 2003, antes de o treinador assumir o cargo às vésperas da Olimpíada, o time havia passado por uma grave crise com o técnico Marco Aurélio Motta -cinco titulares pediram dispensa. Faltava às novas jogadoras mais rodagem internacional e entrosamento. Para isso, Zé Roberto traçou a meta de fazer 150 jogos internacionais em quatro anos, antes de chegar a Pequim -conseguiu 138.
"Foi tudo solidificado devagarinho. Quem nos conhece sabe que estávamos tranqüilos porque o trabalho foi todo planejado e executado. Ninguém merecia mais do que nós."
Ontem, a equipe não falhou. E o técnico, que deseja seguir no comando até Londres-2012, fechou o mais difícil trabalho de sua vida com o ouro. E com o grupo todo de cabeça erguida.
(EDGARD ALVES E MARIANA LAJOLO)


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