São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÔLEI

Para vencer, seleção larga vaidade e cria músculos

Zé Roberto convence atletas da necessidade de fortalecer os braços Para vencer, seleção larga vaidade e cria músculos

Jogadoras deixaram de dar prioridade aos exercícios para pernas e glúteos e se prepararam para pancadas em treinos contra homens

DOS ENVIADOS A PEQUIM

As seleções de vôlei do Brasil sempre foram marcadas pelo sucesso das jogadoras dentro da quadra -e pela badalação das musas da equipe fora dela.
Para chegar à inédita final olímpica e conquistar a medalha de ouro, no entanto, o técnico Zé Roberto deu início a uma cruzada contra a vaidade e incorporou elementos até então pouco usados nas seleções femininas de vôlei e ao repertório habitual de suas atletas.
A primeira missão era fortalecer os músculos das jogadoras, criar braços fortes para ganhar cortadas mais potentes.
"Não é tradição da brasileira gostar de malhar os braços, elas preferem exercícios para as pernas, para os glúteos. Mas, quando começaram a ver o resultado dentro da quadra, passaram a gostar mais", disse o técnico, que recorreu até a treinos de levantamento de peso.
Antes da convocação para os Jogos de Pequim, Zé Roberto também deu um alerta às atletas: não aceitaria ninguém fora de forma em sua equipe.
"Atenção com o físico, com o bumbum, bumbum grande é sinal de desleixo, de culote. A gente quer estar bem em todos os sentidos para poder sonhar com uma medalha para o Brasil", afirmou o técnico à época.
Zé Roberto, porém, não conseguiu realizar todas as suas ambições. Se dependesse de sua vontade, as jogadoras teriam os cabelos bem curtos, para não correrem o risco de serem atrapalhadas pelos rabos de cavalo em quadra.
"Essa idéia foi a única que não pegou mesmo", brincou Paula Pequeno. "A gente gosta de cuidar do cabelo. Mas essa vaidade nunca vai atrapalhar nosso jogo", completou a ponta, que, ao lado da central Walewska, foi a que mais chorou logo após o encerramento do jogo que rendeu o ouro.
Corpos prontos, Zé Roberto, campeão com a seleção masculina em Barcelona-1992, passou também a incorporar elementos pouco usados nos jogos femininos ao repertório do time, como o bloqueio triplo.
Para ajudar as atletas a se acostumar com as pancadas de equipes que apostam no jogo pesado, a seleção também passou a empregar homens durante os treinos no CT de Saquarema e em jogos-treino. No Japão, onde o grupo fez aclimatação, o Brasil disputou partidas contra equipes masculinas.
O técnico, porém, também teve preocupações bem femininas. Para evitar ter de lidar com a TPM nos Jogos Olímpicos, tentou controlar com hormônio a menstruação das atletas. Falhou em alguns casos.
"Não podia ser de outro jeito. Algumas jogadoras ficaram mais irritadas e sensíveis, mas não foi nada demais", afirmou.
"Em 2004, após a derrota na semifinal, o [Nicolai] Karpol [então técnico da Rússia] disse que queria me dar um conselho. Falou que eu deveria ser mais fiel às mulheres [à época, Zé Roberto acabara de voltar ao time após comandar times masculinos e flertar com o futebol]. Aceitei o conselho dele."
(EDGARD ALVES E MARIANA LAJOLO)


Texto Anterior: Conquista vem acompanhada de "resposta'
Próximo Texto: Brasileira ouve música gospel antes de lutar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.