São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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TOSTÃO

Não é o que parece


Hoje, em parte por culpa da imprensa, muitos atletas se acham melhores do que são e acabam sendo mais cobrados


"A VIDA NÃO é só isso que se vê, é um pouco mais, que os olhos não conseguem perceber e que as mãos não ousam tocar." (Paulinho da Viola) O futebol também não é um esporte somente técnico, tático, de habilidade, de criatividade, de preparo físico e de outras coisas que podemos enxergar e analisar. É muito mais do que isso.
Nelson Rodrigues, que não conhecia as estratégias dos técnicos mas que entendia bastante da alma humana, disse, no seu estilo exagerado, que quem ganha e perde as partidas é a alma. É tudo isso e mais muitos fatores imprevisíveis e misteriosos.
Muitas vezes, não conseguimos enxergar nem o óbvio ululante, outra criação do Nelson Rodrigues. Fernando Pessoa escreveu, por meio de um de seus pseudônimos, o prático Alberto Caeiro, que o mais importante é aprender a ver, sem pensar.
Como não se pode medir a emoção dos atletas, os utilitaristas, que só enxergam o que os olhos podem ver, dão pouca importância aos fatores psicológicos para explicar os resultados das partidas. Por outro lado, às vezes fazemos análises precipitadas e equivocadas sobre isso.
Muitos jogadores habilidosos parecem melhores do que são. Habilidade não é a mesma coisa que talento. O grande problema é que muitos desses atletas, com pouco senso crítico, acham que jogam mais do que sabem. Eles criam uma grande expectativa e frustram a todos.
Com o tempo, por causa da enorme expectativa, costuma ocorrer o inverso. Esses jogadores passam a ser ironizados e criticados mais do que outros atletas do mesmo nível e são considerados piores do que realmente são.
Muitos desses falsos craques são depois rotulados de mascarados. Porém o erro é muitas vezes nosso, da imprensa, que endeusa e equivoca na análise desses jogadores. Esse tipo de jogador, que parece melhor do que é, adora uma jogada de efeito. A firula, quando é feita no momento certo e por um verdadeiro craque, é bem-vinda e prazerosa. Já a firula fora de hora, realizada por um falso craque, estimula ainda mais a ira da torcida.
Um exemplo recente é o Léo Lima, bom jogador do time do Grêmio. A expectativa criada no início de sua carreira foi muito maior do que a realidade. Léo Lima sempre achou que é melhor do que é. A torcida, por esperar muito dele, não perdoa quando ele erra.
Outro exemplo é o Denílson. Ele parecia que seria um Ronaldinho Gaúcho por causa da enorme habilidade. Ele é apenas um excelente jogador.
Em uma entrevista antes de ele ir para a Espanha, Denílson me disse várias vezes que seria o melhor do mundo. Aí, listei vários fundamentos técnicos, como passe, finalização e outros, nos quais ele precisava melhorar. No final, Denílson concordou e afirmou: "Acho que vou ter de melhorar muito mais do que pensava".
Quando Felipe, excelente jogador, ex-atleta do Vasco e de tantos outros clubes, pára a bola para driblar, há um silêncio em todo o estádio. Além dele, só Garrincha conseguiu isso. A diferença é que Garrincha não parecia craque; ele era. O que é, é.

Grosseria
Parabéns ao técnico Tite pela decisão de sair do Palmeiras, após as críticas grosseiras do diretor de futebol Salvador Hugo Palaia, que mandou o técnico calar a boca após a derrota para o Santa Cruz. O treinador tinha reclamado da arbitragem. Não é a primeira vez que o dirigente tem esse comportamento. Há outros como ele. Infelizmente, a maioria dos técnicos convive com essa falta de respeito e faz qualquer negócio para manter e conseguir um emprego. tostao.folha@uol.com.br


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