São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2006

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Parreira aprova exclusão de Ronaldo

Treinador elogia renovação de Dunga e diz que ele deve esperar atacante voltar a jogar e a fazer gols pelo Real Madrid

Técnico não vê chance de título na Copa da África e não vê segurança em seguir empregado na nova equipe até a Copa do Mundo-2010


DA REPORTAGEM LOCAL Descansando no Rio, o novo técnico da África do Sul falou à Folha sobre o novo time, Brasil, Ronaldo...0 (RODRIGO BUENO)  

FOLHA - Você pode bater recordes de participação e jogos como técnico em Copas em 2010. É o objetivo?
CARLOS ALBERTO PARREIRA
- Não. Até porque na África do Sul o trabalho, como aqui no Brasil, é de risco. Meu contrato é de quatro anos, e resultado é fundamental. Não disputaremos eliminatórias, mas a seleção sul-africana não anda bem nos últimos quatro anos. Perdeu os três jogos na fase final da Copa da África, não se classificou para a Copa. Então é um trabalho de planejamento e organização.

FOLHA - Qual é o projeto?
PARREIRA
- Tem que jogar muito. Eliminando jogos da Copa da África e das eliminatórias para Gana-2008, mandei preencher a partir de abril as datas Fifa com jogos na Europa contra seleções fortes, como Itália e Alemanha, para poder avaliar o que tenho na mão.

FOLHA - O que achou da seleção sul-africana ao vê-la jogar?
PARREIRA
- Ficaram muitos jogadores de fora, dois titulares lá na África do Sul, dois que estavam machucados. Tem o McCarthy, jogador de mais projeção deles que mudou de time [é do Blackburn]. Pediu desculpas por não jogar. Parece que tem problemas com a federação, coisa que a gente tem que contornar. Tenho que conversar com ele. Tem um outro que de gostei, Pienaar, que joga no Borussia [Dortmund], camisa 10, meia de ligação ofensivo.

FOLHA - A equipe corre o risco de nem avançar à Copa da África...
PARREIRA
- Jogou com o Congo e empatou em casa, resultado ruim. Para a Copa da África, são quatro por grupo e só vai o primeiro. Empataram com o Congo, que não é o mais forte. Era obrigação ganhar. Agora, joga na Zâmbia. Se perder, vai ficar em situação complicada.

FOLHA - O que tem achado do início do trabalho de Dunga?
PARREIRA
- Ele está certíssimo, o momento da renovação é agora, após a Copa. Tem quatro anos para testar. Não é que tenha terminado um ciclo, mas estava na hora. Ganhando ou perdendo, teria que renovar. Perdendo, fica mais fácil. A hora da observação é agora, os primeiros 18 meses, uma Copa América. Depois, quando faltar dois anos para a Copa, nas eliminatórias, é moldar o time.

FOLHA - O que achou de Ronaldo ficar fora das convocações?
PARREIRA
- Não quero falar de seleção. Ex-técnico não é notícia, não fala. Agora, Ronaldo, Kaká, Ronaldinho, Adriano, com o tempo, as coisas vão se moldando, na medida em que forem jogando. O Ronaldo não joga desde junho. Machucou, já não estava em perfeita forma na Copa, fez aquela operação... São três meses, o Dunga não pode trazê-lo mesmo. Deixa ele voltar a jogar, ganhar espaço no Real Madrid. Aí o Dunga pode pensar no que fazer. Até porque o Ronaldo não precisa testar.

FOLHA - O que acha das várias opções da equipe para o ataque agora?
PARREIRA
- O Brasil tem uma facilidade. Vai a uma Copa e tem quantos pontas-de-lança? Vágner Love, Nilmar, Ricardo Oliveira, Fred, Adriano, Robinho, Sóbis... Olha só! O Dunga tem que olhar, mas também não adianta olhar sete pontas-de-lança. Tem que definir no meio do caminho com quem ele vai.

FOLHA - Seu alto salário gerou muita polêmica na África do Sul...
PARREIRA
- Até entendi. Não tinham o que falar, não estava presente. O governo cobrou da federação planos para a Copa. Aí apresentaram ao Parlamento uma proposta para mim e colocaram como se fosse plano para a Copa. Só assinei contrato no sexto dia lá. O Parlamento divulgou na imprensa números para a África do Sul. Se comparar com a Europa, é um salário corriqueiro, mas para lá é realmente um salário exorbitante.

FOLHA - Como espera lidar com os que já criticam seu salário?
PARREIRA
- Quando cheguei lá, dei entrevista, e a coisa acalmou. Falei que não assinei por causa do dinheiro. Podia sobreviver sem o contrato. Fui porque o país promoverá a Copa. Já fui a sete e quero ir à oitava. Estou muito à vontade porque meu contrato não prevê multa. Na hora em que não me sentir confortável, saio. Na hora em que eles não estiverem satisfeitos, é só escrever uma cartinha.

FOLHA - As seleções africanas costumam trocar muito de técnico.
PARREIRA
- Os sul-africanos tiveram 13 técnicos em 12 anos. Um cara me perguntou: ""E se não ganhar a Copa da África?". Falei: ""Acham que tenho condição de ganhar a Copa da África?". Hoje, eu não tenho.

FOLHA - Já teve oportunidade de se encontrar com Nelson Mandela?
PARREIRA
- Não, mas tem um milionário que foi companheiro do Mandela na prisão que me convidou para ir à casa dele. Disse que o Mandela quer me conhecer, que gosta de mim, que, quando voltar com calma, faremos uma visita. Vou ficar muito feliz, pois é um cara que admiro. É idolatrado no mundo todo, símbolo da luta contra o apartheid. É um deus lá.

FOLHA - Qual foi a análise da Copa no encontro dos técnicos na Fifa?
PARREIRA
- Que 70% das equipes jogaram com linha de quatro. O 4-4-2 foi mais usado, com variação para 4-5-1 e 4-4-1-1.

FOLHA - E a sua análise?
PARREIRA
- Espírito de equipe. A característica da Copa foi que as equipes se impuseram sobre os talentos individuais. Esta Copa não teve craques.

FOLHA - E o Zidane?
PARREIRA
- Tirando o Zidane, não teve cracaço, tanto que o Cannavaro, um zagueiro, foi escolhido o melhor, não sei [foi o segundo, atrás de Zidane]. O Lippi [Marcello, técnico campeão] falou que ajudou muito o espírito de equipe, o trabalho, a força do conjunto, jogadores determinados, até para dar uma resposta ao escândalo na Itália. A Itália se impôs, como a França, pela força de equipe.


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