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Parreira aprova exclusão de Ronaldo
Treinador elogia renovação de Dunga e diz que ele deve esperar atacante voltar a jogar e a fazer gols pelo Real Madrid
Técnico não vê chance de
título na Copa da África e
não vê segurança em seguir
empregado na nova equipe
até a Copa do Mundo-2010
DA REPORTAGEM LOCAL
Descansando no Rio, o novo
técnico da África do Sul falou à
Folha sobre o novo time, Brasil, Ronaldo...0
(RODRIGO BUENO)
FOLHA - Você pode bater recordes
de participação e jogos como técnico em Copas em 2010. É o objetivo?
CARLOS ALBERTO PARREIRA - Não.
Até porque na África do Sul o
trabalho, como aqui no Brasil, é
de risco. Meu contrato é de
quatro anos, e resultado é fundamental. Não disputaremos
eliminatórias, mas a seleção
sul-africana não anda bem nos
últimos quatro anos. Perdeu os
três jogos na fase final da Copa
da África, não se classificou para a Copa. Então é um trabalho
de planejamento e organização.
FOLHA - Qual é o projeto?
PARREIRA - Tem que jogar muito. Eliminando jogos da Copa
da África e das eliminatórias
para Gana-2008, mandei
preencher a partir de abril as
datas Fifa com jogos na Europa
contra seleções fortes, como
Itália e Alemanha, para poder
avaliar o que tenho na mão.
FOLHA - O que achou da seleção
sul-africana ao vê-la jogar?
PARREIRA - Ficaram muitos jogadores de fora, dois titulares lá
na África do Sul, dois que estavam machucados. Tem o
McCarthy, jogador de mais
projeção deles que mudou de
time [é do Blackburn]. Pediu
desculpas por não jogar. Parece
que tem problemas com a federação, coisa que a gente tem
que contornar. Tenho que conversar com ele. Tem um outro
que de gostei, Pienaar, que joga
no Borussia [Dortmund], camisa 10, meia de ligação ofensivo.
FOLHA - A equipe corre o risco de
nem avançar à Copa da África...
PARREIRA - Jogou com o Congo
e empatou em casa, resultado
ruim. Para a Copa da África, são
quatro por grupo e só vai o primeiro. Empataram com o Congo, que não é o mais forte. Era
obrigação ganhar. Agora, joga
na Zâmbia. Se perder, vai ficar
em situação complicada.
FOLHA - O que tem achado do início do trabalho de Dunga?
PARREIRA - Ele está certíssimo,
o momento da renovação é agora, após a Copa. Tem quatro
anos para testar. Não é que tenha terminado um ciclo, mas
estava na hora. Ganhando ou
perdendo, teria que renovar.
Perdendo, fica mais fácil. A hora da observação é agora, os primeiros 18 meses, uma Copa
América. Depois, quando faltar
dois anos para a Copa, nas eliminatórias, é moldar o time.
FOLHA - O que achou de Ronaldo
ficar fora das convocações?
PARREIRA - Não quero falar de
seleção. Ex-técnico não é notícia, não fala. Agora, Ronaldo,
Kaká, Ronaldinho, Adriano,
com o tempo, as coisas vão se
moldando, na medida em que
forem jogando. O Ronaldo não
joga desde junho. Machucou, já
não estava em perfeita forma
na Copa, fez aquela operação...
São três meses, o Dunga não
pode trazê-lo mesmo. Deixa ele
voltar a jogar, ganhar espaço no
Real Madrid. Aí o Dunga pode
pensar no que fazer. Até porque
o Ronaldo não precisa testar.
FOLHA - O que acha das várias opções da equipe para o ataque agora?
PARREIRA - O Brasil tem uma facilidade. Vai a uma Copa e tem
quantos pontas-de-lança? Vágner Love, Nilmar, Ricardo Oliveira, Fred, Adriano, Robinho,
Sóbis... Olha só! O Dunga tem
que olhar, mas também não
adianta olhar sete pontas-de-lança. Tem que definir no meio
do caminho com quem ele vai.
FOLHA - Seu alto salário gerou
muita polêmica na África do Sul...
PARREIRA - Até entendi. Não tinham o que falar, não estava
presente. O governo cobrou da
federação planos para a Copa.
Aí apresentaram ao Parlamento uma proposta para mim e colocaram como se fosse plano
para a Copa. Só assinei contrato
no sexto dia lá. O Parlamento
divulgou na imprensa números
para a África do Sul. Se comparar com a Europa, é um salário
corriqueiro, mas para lá é realmente um salário exorbitante.
FOLHA - Como espera lidar com os
que já criticam seu salário?
PARREIRA - Quando cheguei lá,
dei entrevista, e a coisa acalmou. Falei que não assinei por
causa do dinheiro. Podia sobreviver sem o contrato. Fui porque o país promoverá a Copa.
Já fui a sete e quero ir à oitava.
Estou muito à vontade porque
meu contrato não prevê multa.
Na hora em que não me sentir
confortável, saio. Na hora em
que eles não estiverem satisfeitos, é só escrever uma cartinha.
FOLHA - As seleções africanas costumam trocar muito de técnico.
PARREIRA - Os sul-africanos tiveram 13 técnicos em 12 anos.
Um cara me perguntou: ""E se
não ganhar a Copa da África?".
Falei: ""Acham que tenho condição de ganhar a Copa da África?". Hoje, eu não tenho.
FOLHA - Já teve oportunidade de se
encontrar com Nelson Mandela?
PARREIRA - Não, mas tem um
milionário que foi companheiro do Mandela na prisão que
me convidou para ir à casa dele.
Disse que o Mandela quer me
conhecer, que gosta de mim,
que, quando voltar com calma,
faremos uma visita. Vou ficar
muito feliz, pois é um cara que
admiro. É idolatrado no mundo
todo, símbolo da luta contra o
apartheid. É um deus lá.
FOLHA - Qual foi a análise da Copa
no encontro dos técnicos na Fifa?
PARREIRA - Que 70% das equipes jogaram com linha de quatro. O 4-4-2 foi mais usado, com
variação para 4-5-1 e 4-4-1-1.
FOLHA - E a sua análise?
PARREIRA - Espírito de equipe.
A característica da Copa foi que
as equipes se impuseram sobre
os talentos individuais. Esta
Copa não teve craques.
FOLHA - E o Zidane?
PARREIRA - Tirando o Zidane,
não teve cracaço, tanto que o
Cannavaro, um zagueiro, foi escolhido o melhor, não sei [foi o
segundo, atrás de Zidane]. O
Lippi [Marcello, técnico campeão] falou que ajudou muito o
espírito de equipe, o trabalho, a
força do conjunto, jogadores
determinados, até para dar
uma resposta ao escândalo na
Itália. A Itália se impôs, como a
França, pela força de equipe.
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