São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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XICO SÁ

O triunfo de Tolstoi


O São Paulo Futebol Clube tem exagerado nessa missão jesuítica e salvadora da espécie humana


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, eis que Durvalzim, típico seca-seca regional, religioso discípulo do sr. Tolstoi, homem que sabe amar a aldeia para ser mais universal, deu o ar da sua graça, de novo, no Paulista, a hora e a vez da mais desalmada e linda criatura caipira.
Embora acredite que só há vida inteligente da Série A-2 para baixo, embora já tenha gastado todas as forças nos clássicos Come-Fogos, embora considere Paulo Bin (Comercial de Ribeirão Preto) o atleta do século, Durvalzim resolveu, generoso qual meu corvo Edgar, tanger seus urubus de volta para os ombros dos são-paulinos e todos os favoritos do cosmo ludopédico. A aldeia triunfa, sorry cosmopolitas, contra a obviedadezinha globalizada dos ganhadores de dinheiro que não levarão nada além-túmulo, que lindo!!! Não é à toa que o oba-oba em torno do Pato parece cada vez mais precoce, não é à toa que um Durvalzim nasalado imite o quem-quem do João Gilberto, tirando onda, falando aos europeus idiotas globalizados que só no terreno baldio perto de casa tem pelo menos 22 patinhos na lagoa toda vez que chove.
Durvalzim torce no genérico universal e seca na aldeia, que tem mais graça. Afinal, amanhã de manhã, numa firma idiota, tão exploradora e global quanto um senhor de escravos da moderníssima São Paulo, ele irá tirar onda é do boy santista, embora saiba que o Santos Futebol Clube é o maior time de toda a galáxia. De todos os tempos, acrescente-se. Ainda bem que não há dúvida sobre a verdade ludopédica da Baixada.
Amigo, Durvalzim, que fechou na Série A-1 com o Sertãozinho, geografia afetiva da cana-de-açúcar, foi até Itu para ver a primeira, e não única, desgraça são-paulina. Acho que o Imperador, com razão, cansou da onda de ser apresentado como ser humano que carece ser recuperado, esse moralismo safado, rimado, aliterado, de alguém que carece de colo. O São Paulo Futebol Clube tem exagerado nessa missão jesuítica e salvadora da espécie humana.
Ninguém se recupera, só segue o seu destino, como qualquer um irmão do Seymour, gloriosa criação do sr. J.D. Salinger, o maior escritor sobre esse tipo de coisa do mundo. Saco! Ninguém recupera ninguém no mundo. A vida é descarrego e altruísmo. Só lendo "Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira", do supracitado senhor das alturas, que cara, como diria o amigo Pereira, amado aniversariante de anteontem. A vida, sr. amigo Alan Kardec, é isso mesmo, passa a régua, velho amigo e garçom Ailton, que não precisamos do mundo dos vivos. Nós amamos os que já estão aqui conosco. Amigo torcedor, amigo secador, adivinhe quem veio para o jantar nesta rodada do Paulista, o velho Durvalzim, apresentado mais uma vez pelo velho Zé Alberto Bombig.
Repare no que diz o moço: o Corinthians de Acosta, o Zidane do Parque São Jorge, sempre de letra, vai ganhar dos imbatíveis do Morumba.

Nota oficial
Ao citar Vanderlei Luxemburgo como o "cafa Luxa", a coluna se referia ao seu cavalheirismo com a bandeirinha Ana Paula, em jogo Santos x São Paulo de 2007. Sempre caracterizado pelo bom humor e pela sátira, jamais houve intenção do autor em ofender o técnico.

xico.folha@uol.com.br


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