São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O cheque e o economista


Belluzzo deve ser eleito presidente do Palmeiras, em meio à crise, à construção de estádio e à desconfiança


L UIZ GONZAGA Belluzzo deve ser eleito presidente do Palmeiras amanhã, para o mais importante mandato da história do clube. Ao ouvir esta frase, Belluzzo é reticente. "Houve mandatos mais importantes, como o de Dante Delmanto. Na época da guerra, o clube esteve ameaçado de extinção."
A conversa faz voltar 70 anos no tempo e dá dimensão do tamanho do desafio do novo mandatário palmeirense. Nos próximos anos, é preciso resolver a crise financeira e construir o novo estádio, que mudará também o perfil do clube social. No conservador colégio eleitoral palestrino, há quem pense só no lateral-direito a ser contratado ou no azulejo da piscina a ser trocado. Mas o tempo exige pensar grande.
Na oposição, provavelmente com 20 votos a menos, Roberto Frizzo tem postura independente de Mustafá Contursi, mas seus pares são todos velhos aliados do antigo presidente. Da época em que não se pensava no macro. Durante 12 anos, Mustafá juntou economias num porquinho, sem fazer nenhum dos investimentos indispensáveis. "Outro dia, uma senhora me abordou no clube social. Disse que eu preciso ser eleito, porque antes o clube era sujo", diz Belluzzo. O Palmeiras era como uma casa que só teve o telhado consertado quando começou a tempestade. Junto com a reforma essencial, começou a crise financeira. E foi ela quem provocou a crise política que eclodiu nesta semana.
Não pode ser exemplo de administração um clube com três dirigentes acostumados a fazer empréstimos do próprio bolso, como fazem Salvador Hugo Palaia, Paulo Nobre e Gilberto Cipullo. Mas não pode ser incriminado o vice-presidente que tira dinheiro do próprio bolso. Não num clube que já teve presidente deposto (Jordão Bruno Sacomani, em 1978) com o singelo apelido de "Sacou Money", e mesmo que o episódio contenha irregularidade contábil.
Belluzzo será eleito, mas pode ter um de seus vices vindo da oposição, porque o pleito não é casado. É possível votar no presidente de uma chapa e no vice de outra. Se Belluzzo está virtualmente eleito -o que justifica a primeira frase deste texto-, é porque Gilberto Cipullo costurou a aliança política com habilidade incomum. Juntou cacos de um clube dividido, em que nem o presidente atual parecia querer tomar partido. Nenhum clube deve receber empréstimo pessoal de dirigente, mesmo com boa fé, como foi o caso. Mas o fato é que não há ninguém tão preparado quanto o economista Luiz Gonzaga Belluzzo para corrigir essa distorção da vida palmeirense.
E o incrível é como há quem não acredite no sucesso quando gente de bem chega ao futebol. Na quinta, Juca Kfouri lembrou Telê Santana e sua frase célebre: "O futebol não é coisa para gente séria". Na terça, minutos antes da gravação do programa "Bola da Vez", da ESPN Brasil, o presidente Lula perguntou se Belluzzo, seu amigo pessoal, seria eleito. Ao saber da vitória quase certa, desconfiou do sucesso da empreitada: "Não sei... Não combina com o temperamento dele". Ao saber da observação do presidente, Belluzzo sorriu: "Ele acha que sou pacífico demais. Que não passo a perna em ninguém". Pode haver alguém mais adequado para o mandato mais importante da história do Palmeiras?

pvc@uol.com.br


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