São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2001

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FUTEBOL

Chega de craque

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O assunto sobre o craque é interminável.
Prometo encerrá-lo hoje, domingo de Carnaval. Promessa de folião aposentado!
Não se pode radicalizar.
Jogador não é craque ou perna-de-pau. Pode também ser ruim, mediano, bom, excelente, excepcional e até gênio.
Telê, Roger, Casagrande, Marcelinho, Edílson, Magno Alves, Donizete, França, Alex e outros do mesmo nível citados pelos internautas são excelentes, mas não são craques.
Telê foi craque como técnico.
É apenas minha opinião.
Alguns leitores do Cruzeiro e do Atlético-MG reclamaram que não inclui jogadores como Guilherme, Marques, Ricardinho e Sorín.
São excelentes, mas craque é diferente. Não sou somente cronista do futebol mineiro. Sou cronista de futebol.
Para ser mais claro, considero craques jogadores como Pelé, Gérson, Didi, Zico, Maradona, Garrincha, Nilton Santos, Carlos Alberto Torres, Rivelino, Ademir da Guia, Falcão, Reinaldo, Romário, Sócrates, Dirceu Lopes, Júnior, Zé Carlos (ex-Cruzeiro), Cerezo e alguns outros desse nível.
Alguns leitores que detestam o Romário (não são poucos) reclamam que elogio demais o jogador. Têm razão. O problema é que procuro craques de hoje para exaltar e não encontro. Acabo voltando ao Romário, mesmo sabendo que ele não joga, hoje, 40% do que já jogou.
Romário não é meu ídolo; é meu craque.
Ídolo é diferente de craque.
Meus ídolos são outros, raros: Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Darci Ribeiro e o ex-jogador Afonsinho. Há outros.
Afonsinho não era craque e sim apenas um bom jogador.
Para ser ídolo, não é preciso ser craque.
Afonsinho foi o primeiro jogador a ganhar o direito ao passe na Justiça.
Aliás, a escravagista lei do passe será abolida no dia 26 de março se não prolongarem a data. Ela nunca deveria ter existido. Em 1988, a Constituição brasileira ratificou que todo homem é livre para escolher o seu trabalho.
Deveria somente respeitar a duração do contrato, ou pagar uma multa para rescindi-lo.
Então, estamos combinados. Chega de craque!
Durante algum tempo (não sei quanto) só falarei dos medíocres. É muito mais fácil.
São muitos!

O Carnaval se aproximava e Lelé não sabia o que fazer.
Era o maior craque do Brasil e iria disputar o título mundial.
A partida decisiva seria na quinta-feira após o Carnaval, no Maracanã.
Além de jogador, Lelé era um famoso sambista. Há mais de dez anos desfilava na avenida. Era o mestre-sala. Sua presença seria decisiva na escolha dos melhores do Carnaval.
Para ele, a festa era mais importante do que o futebol. Só acontecia uma vez ao ano.
Lelé tentou convencer o técnico de que a equipe não seria prejudicada. Prometeu sambar à noite, dormir durante o dia e não beber.
Ou melhor, somente uma cerveja por dia, para hidratar. Na quarta-feira, estaria na concentração em boas condições físicas para jogar no dia seguinte.
O técnico não aceitou.
Todos os jogadores estariam concentrados nos dias de Carnaval. Lelé não poderia ser privilegiado. Se não se apresentasse na hora certa, não jogaria.
Seria multado e teria o passe colocado à venda.
O jogador não dormiu nos dias anteriores ao Carnaval.
Esperara durante todo o ano por esse momento e não queria perdê-lo. Ao mesmo tempo, sabia que a partida era decisiva e que todos os torcedores confiavam nele. O que fazer?
No sábado, o treinador ficou na porta do hotel, à espera dos jogadores. Chegaram tristes e cabisbaixos. O técnico esperou até as 11h. Lelé não apareceu.
O jogador sambou as quatro noites, como nunca. Ganhou nota dez no desfile! Sua escola foi a campeã.
Na quarta-feira, apresentou-se na concentração. Foi perdoado. Era o craque do time. Treinou e dormiu um longo e profundo sono. Feliz e em paz.
O Maracanã estava lotado. Lelé bailou em campo.
Foi o craque do jogo. Marcou o gol do título. Saiu carregado nos braços da galera.

O São Paulo alternou bons e maus momentos, aproveitou as deficiências do adversário e chegou à final do Torneio Rio-São Paulo merecidamente.
O excelente goleiro Rogério já merece ser chamado de craque?
O Botafogo fez uma belíssima partida contra o Santos.
Lazaroni, inteligentemente, está utilizando muito bem o contra-ataque. Donizete é veloz, habilidoso, e Taílson conhece os segredos da área.
Ontem, Fluminense x Americano decidiriam a outra vaga da final da Taça Guanabara.
Na quinta-feira, o Flamengo vibrou e emocionou-se com o jogo, enquanto o Vasco passeou em campo. Roma e o goleiro Júlio César foram os destaques do jogo. O futebol brasileiro tem mais um grande goleiro.
São muitos.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br



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