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FUTEBOL
Chega de craque
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O assunto sobre o craque é
interminável.
Prometo encerrá-lo hoje, domingo de Carnaval. Promessa
de folião aposentado!
Não se pode radicalizar.
Jogador não é craque ou perna-de-pau. Pode também ser
ruim, mediano, bom, excelente,
excepcional e até gênio.
Telê, Roger, Casagrande, Marcelinho, Edílson, Magno Alves,
Donizete, França, Alex e outros
do mesmo nível citados pelos internautas são excelentes, mas
não são craques.
Telê foi craque como técnico.
É apenas minha opinião.
Alguns leitores do Cruzeiro e
do Atlético-MG reclamaram
que não inclui jogadores como
Guilherme, Marques, Ricardinho e Sorín.
São excelentes, mas craque é
diferente. Não sou somente cronista do futebol mineiro. Sou
cronista de futebol.
Para ser mais claro, considero
craques jogadores como Pelé,
Gérson, Didi, Zico, Maradona,
Garrincha, Nilton Santos, Carlos Alberto Torres, Rivelino,
Ademir da Guia, Falcão, Reinaldo, Romário, Sócrates, Dirceu Lopes, Júnior, Zé Carlos (ex-Cruzeiro), Cerezo e alguns outros desse nível.
Alguns leitores que detestam o
Romário (não são poucos) reclamam que elogio demais o jogador. Têm razão. O problema é
que procuro craques de hoje para exaltar e não encontro. Acabo voltando ao Romário, mesmo sabendo que ele não joga,
hoje, 40% do que já jogou.
Romário não é meu ídolo; é
meu craque.
Ídolo é diferente de craque.
Meus ídolos são outros, raros:
Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Darci Ribeiro e o ex-jogador Afonsinho. Há outros.
Afonsinho não era craque e
sim apenas um bom jogador.
Para ser ídolo, não é preciso
ser craque.
Afonsinho foi o primeiro jogador a ganhar o direito ao passe
na Justiça.
Aliás, a escravagista lei do
passe será abolida no dia 26 de
março se não prolongarem a
data. Ela nunca deveria ter existido. Em 1988, a Constituição
brasileira ratificou que todo homem é livre para escolher o seu
trabalho.
Deveria somente respeitar a
duração do contrato, ou pagar
uma multa para rescindi-lo.
Então, estamos combinados.
Chega de craque!
Durante algum tempo (não
sei quanto) só falarei dos medíocres. É muito mais fácil.
São muitos!
O Carnaval se aproximava e
Lelé não sabia o que fazer.
Era o maior craque do Brasil e
iria disputar o título mundial.
A partida decisiva seria na
quinta-feira após o Carnaval,
no Maracanã.
Além de jogador, Lelé era um
famoso sambista. Há mais de
dez anos desfilava na avenida.
Era o mestre-sala. Sua presença
seria decisiva na escolha dos
melhores do Carnaval.
Para ele, a festa era mais importante do que o futebol. Só
acontecia uma vez ao ano.
Lelé tentou convencer o técnico de que a equipe não seria prejudicada. Prometeu sambar à
noite, dormir durante o dia e
não beber.
Ou melhor, somente uma cerveja por dia, para hidratar. Na
quarta-feira, estaria na concentração em boas condições físicas
para jogar no dia seguinte.
O técnico não aceitou.
Todos os jogadores estariam
concentrados nos dias de Carnaval. Lelé não poderia ser privilegiado. Se não se apresentasse
na hora certa, não jogaria.
Seria multado e teria o passe
colocado à venda.
O jogador não dormiu nos
dias anteriores ao Carnaval.
Esperara durante todo o ano
por esse momento e não queria
perdê-lo. Ao mesmo tempo, sabia que a partida era decisiva e
que todos os torcedores confiavam nele. O que fazer?
No sábado, o treinador ficou
na porta do hotel, à espera dos
jogadores. Chegaram tristes e
cabisbaixos. O técnico esperou
até as 11h. Lelé não apareceu.
O jogador sambou as quatro
noites, como nunca. Ganhou
nota dez no desfile! Sua escola
foi a campeã.
Na quarta-feira, apresentou-se na concentração. Foi perdoado. Era o craque do time. Treinou e dormiu um longo e profundo sono. Feliz e em paz.
O Maracanã estava lotado.
Lelé bailou em campo.
Foi o craque do jogo. Marcou
o gol do título. Saiu carregado
nos braços da galera.
O São Paulo alternou bons e
maus momentos, aproveitou as
deficiências do adversário e chegou à final do Torneio Rio-São
Paulo merecidamente.
O excelente goleiro Rogério já
merece ser chamado de craque?
O Botafogo fez uma belíssima
partida contra o Santos.
Lazaroni, inteligentemente,
está utilizando muito bem o
contra-ataque. Donizete é veloz,
habilidoso, e Taílson conhece os
segredos da área.
Ontem, Fluminense x Americano decidiriam a outra vaga
da final da Taça Guanabara.
Na quinta-feira, o Flamengo
vibrou e emocionou-se com o jogo, enquanto o Vasco passeou
em campo. Roma e o goleiro Júlio César foram os destaques do
jogo. O futebol brasileiro tem
mais um grande goleiro.
São muitos.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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