São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2001

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XADREZ

Após 25 anos de domínio, Karpov e Kasparov podem travar último duelo

Rivais põem diferenças em xeque

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Xeque-mate. Para dois dos maiores enxadristas do mundo, os russos Anatoli Karpov, 49, e Garry Kasparov, 37, atuar no Torneio de Linares (Espanha), que segue até o dia 7 de março, vale especialmente pela chance de pronunciar a palavra ao arqui-rival.
Adversários dentro e fora do xadrez há 20 anos, Karpov e Kasparov protagonizaram disputas envolvendo questões políticas, opiniões pessoais e comportamento.
Até a queda da URSS, de um lado estava Karpov, que, com suas peças brancas, era exemplo do "sucesso" do modelo político no esporte, defendendo o sistema e a postura de jogador intelectual, estático e sem emoções.
De outro, Kasparov, russo de origem azerbaidjana, nascido em Baku (AZE), que, especialmente após incidentes militares em sua cidade natal, levava em suas peças pretas a oposição ao sistema, o desejo de abertura, a descentralização e a democracia.
Além disso, Kasparov passava o comportamento do jogador humano, emotivo, autor de frases como "O xadrez é um jogo violento" e "É tortura mental", e que se sujeita a novas experiências -em 1993, foi o primeiro profissional a participar de desafios pela Internet e, depois, o único desafiante do computador Deep Blue.
Karpov estampava a bandeira soviética, e Kasparov, a russa.
Karpov dominou o circuito de 1975 a 1985, até ser desbancado por Kasparov, que, aos 22 anos, se tornou o mais jovem a obter título mundial da Fide (Federação Internacional de Xadrez).
Ficaria com ele até 1993, quando rompeu com a entidade, por questões financeiras, e fundou a sua própria: Associação dos Jogadores Profissionais (PCA).
Em 1993, Karpov retomaria o título vago da Fide e, com a extinção da URSS, passaria a rivalizar com Kasparov, em nome da federação, contra o dissidente.
Isso até 1999, quando também rompeu com a Fide, discordando das formas de defesa do título, e passou a valorizar altos cachês.
Nesta quarta-feira e no dia 5 de março, em Linares, já capitalistas, ricos e bem vestidos, sem contar os pontos para o ranking e os prêmios, Karpov e Kasparov irão pôr à prova o ponto mais forte da rivalidade: a questão pessoal.
Sem os campeões Viswanathan Anand (Fide) e Vladimir Kramnik (PCA), Karpov e Kasparov, além de atrações principais em Linares, apesar de não estar em jogo o título mundial, podem fazer na Espanha os últimos jogos entre si. Cada um, diz a organização, deve durar de três a sete horas.
"O encontro surpreende. Até porque Karpov aceitou receber um cachê menor (R$ 120 mil) do que vem ganhando no circuito e do que o de Kasparov (R$ 175 mil). Tínhamos certeza de que ele recusaria", disse Paco Albalate, um dos organizadores do torneio.
Para Kasparov, a vitória sobre o rival significa a retomada da hegemonia do esporte. Isso porque, após perder para Kramnik em 2000 -a primeira derrota em um desafio em 15 anos-, o russo venceu em janeiro o Torneio Corus, com os 14 melhores do mundo -Kramnik e Anand, incluídos-, e lidera o ranking da Fide.
Falta, porém, vencer o velho rival -sem contar o Deep Blue, para quem perdeu em 1997 e, alegando fraude, disse que jamais o enfrentaria novamente.
Já Karpov, que anunciou sua presença em 20 jogos beneficentes no Oriente Médio em prol da causa palestina, que renderão US$ 5 milhões, surpreendeu a todos ao querer atuar no torneio.
Após resultados pífios, com derrotas para enxadristas inexpressivos, Karpov ocupa o 20º posto no ranking, mas quer provar que pode "parar" Kasparov.
No retrospecto, Kasparov leva a melhor. Em 20 anos, os rivais já se enfrentaram 171 vezes, ou mais de 600 horas frente a frente. Para ter idéia, Corinthians e Palmeiras, em 84 anos, fizeram 310 jogos, ou cerca de 600 horas (se cada jogo tivesse duas horas).
Kasparov venceu 29 vezes, e Karpov, 20. Foram 122 empates. Em 17 edições do Torneio de Linares, Kasparov venceu seis e Karpov, duas.
Também atuam no torneio este ano Peter Leko, Judit Polgar, Alexei Shirov e Alexander Grischuk.



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