São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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Sem Teixeira, supervisor é xerife do Brasil na Copa

Américo Faria cuida do ambiente, tutela jogadores e discute com a imprensa

Na seleção desde 1990, ele compara seu trabalho com uma "guerra" e protagoniza cenas curiosas, como a caça de espiões durante o treino


DOS ENVIADOS A BERGISCH GLADBACH

Quatro anos após a saída de Luiz Felipe Scolari, a seleção ainda tem um sargentão. É o supervisor Américo Faria, 61, que age como dono da delegação brasileira na Alemanha.
Com um bigode semelhante ao de Charles Chaplin e sempre vestido de agasalho da equipe, ele cuida de temas estratégicos, como a premiação dos atletas.
Mas também está às voltas com missões menos nobres. É o responsável por mandar para os quartos os jogadores que perambulam pela concentração depois do toque de recolher.
Ele segue ao pé da letra o pedido de Ricardo Teixeira para tomar conta da equipe, já que o presidente da CBF passa a Copa do Mundo envolvido com a Fifa, distante da seleção.
Faria está sempre dando ordens na concentração, estádios e aeroportos por onde a delegação passa na Europa.
O detalhismo o faz protagonizar situações constrangedoras. Na quarta, enquanto os jogadores treinavam no gramado do Estádio de Dortmund, o supervisor realizava uma "varredura visual" na arquibancada. Ele buscava espiões japoneses infiltrados entre os jornalistas.
Destacou alguns funcionários da CBF para ajudá-lo, mas não achou nenhum intruso.
A presença do supervisor faz os embarques do time no ônibus parecerem uma excursão escolar. Vai buscar pelo braço os jogadores que se atrasam e faz a contagem dos atletas.
Sempre apressado para deixar os estádios, interrompe as entrevistas e arrasta os jogadores para fora do vestiário.
Vira-e-mexe, o supervisor bate de frente com os jornalistas. Ontem à tarde, discutiu com um repórter da Globo no momento em que os jogadores desciam do ônibus para treinar.
A rédea curta imposta por Faria criou até um chavão usado por atletas e membros da comissão técnica como resposta a pedidos que os obriguem a quebrar o protocolo. "Não dá, o seu Américo está de olho", dizem.
Formado em educação física na década de 1960, o supervisor gosta de adotar um discurso militar ao falar sobre seu trabalho na seleção brasileira.
"É como se fosse uma guerra mesmo. Temos de armazenar direito os provimentos, preparar tudo para facilitar o transporte, fazer cálculos, fazer contato com repartições consulares, preparar toda a chegada ao aeroporto para que não haja retenções. É este o nosso trabalho", disse o funcionário da CBF, ao resumir as suas funções na comissão técnica.
Foi Faria quem escolheu o hotel em que a seleção está concentrada agora. Ele também marca treinos e até organiza bingos na concentração. (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)


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