|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VVVips e afins
Nas arquibancadas ou camarotes, adotados por empresas, pela CBF ou até por Beckenbauer, convidados badalam muito e não gastam nada
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A COLÔNIA
Maitê Proença atende pelo
nome de CBF no castelo em
que se hospeda perto de Colônia. "Meu quarto é fantástico,
enorme, cama maravilhosa, dá
até para morar ali", descreve a
atriz, com gestos teatrais.
No Schloss Bensberg, que fica em Bergisch Gladbach, as
diárias vão de 210 a 1.800
(de R$ 590 a R$ 5.000), segundo diz a recepção.
"Maitê Proença
não está aqui. Não
a encontro na minha lista", diz Elizabeth Koch, a
encarregada da
Fifa de barrar a
entrada de repórteres indesejáveis
no castelo. "Qual
o quarto dela?",
pergunta Elizabeth, desconfiada.
O 228.
"No 228 tem
outra pess..." Tenta disfarçar, mas é
tarde para ocultar
o nome da Confederação Brasileira
de Futebol.
Maitê -que namora o assessor
de imprensa da
CBF, Rodrigo Paiva- vai ao aeroporto em uma
Mercedes preta,
com motorista
louro, alto, olhos
azuis, que abre a
porta de trás para ela entrar.
VIP de verdade viaja sem se
preocupar muito com "como"
(vai chegar), "quem" (vai pagar) ou " quanto" (vai custar).
Ele é, digamos, "conduzido".
"O futebol é a instituição que
mais movimenta dinheiro no
mundo. No Haiti, os caras pararam uma guerra para assistir
a um jogo. Imagina como um
empresário peso-pesado, que
interessa a um desses organismos, é tratado", diz José Victor
Oliva, que lida com VIPs há 30
anos e organiza em Colônia
uma festa na beira do rio Reno.
Os VIPs "visíveis" ali não
põem a mão no bolso. Caroline
Bittencourt, a modelo expulsa
por Daniella Cicarelli de um
château na França, passou de
pobrezinha a princesa VIP,
com convite para outro castelo,
o de Caras. Seu namorado, o
playboy Álvaro Garnero, vipérrimo desde criança, leva a moça a todo lado, sem pensar em
valores ou em quem financia.
"Eles têm nos recebido fantasticamente bem", diz Garnero. "Uma van nos leva para o
estádio uma hora e meia antes
do jogo e a gente desembarca
direto no hospitality center
[espécie de camarote para
VIPs]; ali, você ganha um cronômetro e outros brindezinhos, bebe champanhe francês,
vinho tinto, janta [tartar de salmão, kafka, salsichão, saladas
variadas]. Em Munique, dá para assistir ao jogo do próprio
hospitality, que é super bem localizado. Aqui em Dortmund,
os lugares são um ao lado do
outro, logo nas primeiras filas,
a gente assiste ao jogo a menos
de dez metros do gramado."
Quanto custa um ingresso?
"Não tenho idéia, convidaram [sujeito oculto]", diz Álvaro. Em seguida, chuta alto: "Sei
lá, 3.000?"
"Custa 1.500", diz Alicinha
Cavalcanti, contratada para
convidar os "Very Important
People" -Álvaro, Caroline e
um pequeno grupo de globais.
O preço é mais de 40 vezes o
de um ingresso adquirido pelas
vias normais com antecedência
( 36) e pouco menos do que
quatro vezes o preço médio cobrado pelos cambistas ( 400).
Mas existe situação ainda
melhor do que o acesso ao hospitality center e aos melhores
lugares nas arquibancadas.
"A gente ficou em um espaço
que eles chamam de "VVVIP':
quer dizer Very, Very VIP", explica Graça Garbaccio, 44, mulher do capitão da seleção de
1970, Carlos Alberto Torres.
O casal foi convidado por
Franz Beckenbauer, presidente do Comitê Organizador do
Mundial e ex-colega de Torres
no Cosmos, para assistir ao jogo de um lugar "muito, muito
privilegiado", com um grupo de
"no máximo dez pessoas".
"Estávamos nós, a irmã da
imperatriz do Japão e o marido; o Beckenbauer e a mulher,
e mais umas pessoas. No fim, a
gente desceu num elevador,
entrou no carro com motorista,
sem tumulto, e saiu do estádio
com batedor", conta Torres.
Mas não é só assistir ao futebol, comer e voltar. Garnero e
os globais precisam freqüentar
a festa institucional na beira do
Reno, porque afinal é aquela
empresa que está pagando.
O "pagamento" do convite
não chega a ser uma tortura:
outra boca livre, com cerveja à
vontade, queijo camembert e
presunto de parma, bufê de
massas e gatas, muitas gatas.
Marcelo Novaes é assediado
por duas, Murilo Benício por
outra, Murilo Rosa distribui
autógrafos. No dia anterior os
três foram à Ivory, danceteria
frequentada pelos Ricardinhos
Mansures da cidade e suas amigas-modelos-patricinhas.
Benício diz que sim, "podemos dizer que é um lugar de
gente rica". Ali, conta ele, só há
alemães. "Nem me lembrava o
que é ser uma pessoa comum."
Quem providencia a entrada
na boate -evidentemente sem
pagar e furando filas- é o gaúcho Catherine Lecléry, autodefinido travesti-artista-VIP.
"Aqui na Alemanha eu sou
famosa, talentosa, respeitada",
explica Catherine, 35, um negro alto, de peruca, minissaia,
top, óculos escuros e vozeirão.
Do outro lado da pista, aos
amassos com o "operador de
dólares" brasileiro André
Baum, 29, está a alemã... "Qual
é mesmo seu nome?", pergunta, esquecido, Baum. "Judith",
diz ela, cerveja na mão.
"Aí, brother, prefiro morena,
mas olha essa gata... No Brasa
[Brasil] não tem isso", diz.
Antes de se apresentar à reportagem, Judith quer se certificar de que o artigo sairá apenas no "Brasa". "Ok, então",
concorda a loura de olhos verdes, 1,79 m, 64 kg. "Na verdade,
ganhei 50 para vir à festa."
"Ficar" com os convidados
está incluído no cachê? "Não,
não. Gosto de brasileiros, prefiro homens explosivos. O problema é que, só aqui, fui pedida
em casamento por cinco caras.
Como posso levá-los a sério?"
Encerrada a festa, alguns
VIPs mantêm o ritmo: Alicinha, por exemplo, segue com
Álvaro e Caroline para Cap
Ferrat, na França, para se hospedar na casa da família Monteiro Aranha.
"Aquilo é uma loucura, quero
mergulhar naquela água maravilhosa, tomar sol. Tô horrorosa branca desse jeito. Sou uma
"sun addicted'", diz Alicinha.
E, depois, explica, ela precisa
estar linda para comemorar na
volta ao Brasil nove meses de
namoro. "Tô fazendo 15 kg de
caneleira", diz ela, dando um
tapinha na coxa megassarada.
Texto Anterior: Atletismo: Russa recupera recorde no martelo Próximo Texto: Clóvis Rossi: Jeito de finalista Índice
|