São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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VVVips e afins

Nas arquibancadas ou camarotes, adotados por empresas, pela CBF ou até por Beckenbauer, convidados badalam muito e não gastam nada

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A COLÔNIA

Maitê Proença atende pelo nome de CBF no castelo em que se hospeda perto de Colônia. "Meu quarto é fantástico, enorme, cama maravilhosa, dá até para morar ali", descreve a atriz, com gestos teatrais.
No Schloss Bensberg, que fica em Bergisch Gladbach, as diárias vão de 210 a 1.800 (de R$ 590 a R$ 5.000), segundo diz a recepção.
"Maitê Proença não está aqui. Não a encontro na minha lista", diz Elizabeth Koch, a encarregada da Fifa de barrar a entrada de repórteres indesejáveis no castelo. "Qual o quarto dela?", pergunta Elizabeth, desconfiada.
O 228.
"No 228 tem outra pess..." Tenta disfarçar, mas é tarde para ocultar o nome da Confederação Brasileira de Futebol.
Maitê -que namora o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva- vai ao aeroporto em uma Mercedes preta, com motorista louro, alto, olhos azuis, que abre a porta de trás para ela entrar.
VIP de verdade viaja sem se preocupar muito com "como" (vai chegar), "quem" (vai pagar) ou " quanto" (vai custar). Ele é, digamos, "conduzido".
"O futebol é a instituição que mais movimenta dinheiro no mundo. No Haiti, os caras pararam uma guerra para assistir a um jogo. Imagina como um empresário peso-pesado, que interessa a um desses organismos, é tratado", diz José Victor Oliva, que lida com VIPs há 30 anos e organiza em Colônia uma festa na beira do rio Reno.
Os VIPs "visíveis" ali não põem a mão no bolso. Caroline Bittencourt, a modelo expulsa por Daniella Cicarelli de um château na França, passou de pobrezinha a princesa VIP, com convite para outro castelo, o de Caras. Seu namorado, o playboy Álvaro Garnero, vipérrimo desde criança, leva a moça a todo lado, sem pensar em valores ou em quem financia.
"Eles têm nos recebido fantasticamente bem", diz Garnero. "Uma van nos leva para o estádio uma hora e meia antes do jogo e a gente desembarca direto no hospitality center [espécie de camarote para VIPs]; ali, você ganha um cronômetro e outros brindezinhos, bebe champanhe francês, vinho tinto, janta [tartar de salmão, kafka, salsichão, saladas variadas]. Em Munique, dá para assistir ao jogo do próprio hospitality, que é super bem localizado. Aqui em Dortmund, os lugares são um ao lado do outro, logo nas primeiras filas, a gente assiste ao jogo a menos de dez metros do gramado."
Quanto custa um ingresso?
"Não tenho idéia, convidaram [sujeito oculto]", diz Álvaro. Em seguida, chuta alto: "Sei lá, 3.000?"
"Custa 1.500", diz Alicinha Cavalcanti, contratada para convidar os "Very Important People" -Álvaro, Caroline e um pequeno grupo de globais.
O preço é mais de 40 vezes o de um ingresso adquirido pelas vias normais com antecedência ( 36) e pouco menos do que quatro vezes o preço médio cobrado pelos cambistas ( 400).
Mas existe situação ainda melhor do que o acesso ao hospitality center e aos melhores lugares nas arquibancadas.
"A gente ficou em um espaço que eles chamam de "VVVIP': quer dizer Very, Very VIP", explica Graça Garbaccio, 44, mulher do capitão da seleção de 1970, Carlos Alberto Torres.
O casal foi convidado por Franz Beckenbauer, presidente do Comitê Organizador do Mundial e ex-colega de Torres no Cosmos, para assistir ao jogo de um lugar "muito, muito privilegiado", com um grupo de "no máximo dez pessoas".
"Estávamos nós, a irmã da imperatriz do Japão e o marido; o Beckenbauer e a mulher, e mais umas pessoas. No fim, a gente desceu num elevador, entrou no carro com motorista, sem tumulto, e saiu do estádio com batedor", conta Torres.
Mas não é só assistir ao futebol, comer e voltar. Garnero e os globais precisam freqüentar a festa institucional na beira do Reno, porque afinal é aquela empresa que está pagando.
O "pagamento" do convite não chega a ser uma tortura: outra boca livre, com cerveja à vontade, queijo camembert e presunto de parma, bufê de massas e gatas, muitas gatas.
Marcelo Novaes é assediado por duas, Murilo Benício por outra, Murilo Rosa distribui autógrafos. No dia anterior os três foram à Ivory, danceteria frequentada pelos Ricardinhos Mansures da cidade e suas amigas-modelos-patricinhas.
Benício diz que sim, "podemos dizer que é um lugar de gente rica". Ali, conta ele, só há alemães. "Nem me lembrava o que é ser uma pessoa comum."
Quem providencia a entrada na boate -evidentemente sem pagar e furando filas- é o gaúcho Catherine Lecléry, autodefinido travesti-artista-VIP.
"Aqui na Alemanha eu sou famosa, talentosa, respeitada", explica Catherine, 35, um negro alto, de peruca, minissaia, top, óculos escuros e vozeirão.
Do outro lado da pista, aos amassos com o "operador de dólares" brasileiro André Baum, 29, está a alemã... "Qual é mesmo seu nome?", pergunta, esquecido, Baum. "Judith", diz ela, cerveja na mão.
"Aí, brother, prefiro morena, mas olha essa gata... No Brasa [Brasil] não tem isso", diz.
Antes de se apresentar à reportagem, Judith quer se certificar de que o artigo sairá apenas no "Brasa". "Ok, então", concorda a loura de olhos verdes, 1,79 m, 64 kg. "Na verdade, ganhei 50 para vir à festa."
"Ficar" com os convidados está incluído no cachê? "Não, não. Gosto de brasileiros, prefiro homens explosivos. O problema é que, só aqui, fui pedida em casamento por cinco caras. Como posso levá-los a sério?"
Encerrada a festa, alguns VIPs mantêm o ritmo: Alicinha, por exemplo, segue com Álvaro e Caroline para Cap Ferrat, na França, para se hospedar na casa da família Monteiro Aranha.
"Aquilo é uma loucura, quero mergulhar naquela água maravilhosa, tomar sol. Tô horrorosa branca desse jeito. Sou uma "sun addicted'", diz Alicinha.
E, depois, explica, ela precisa estar linda para comemorar na volta ao Brasil nove meses de namoro. "Tô fazendo 15 kg de caneleira", diz ela, dando um tapinha na coxa megassarada.


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