São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2010

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Desabafo

Na véspera do jogo com Portugal, um Dunga emotivo se desculpa com os torcedores pelos palavrões proferidos depois da última vitória

EDUARDO ARRUDA
MARTÍN FERNANDEZ
PAULO COBOS
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A DURBAN

Dunga estava emotivo, cabisbaixo. Em sua entrevista mais reveladora em quase quatro anos de seleção, o técnico pediu desculpas.
Mas não à imprensa. Só ao torcedor. Por seus palavrões após o jogo contra a Costa do Marfim durante conferência com os jornalistas.
Dunga também falou de seu pai, que sofre de mal de Alzheimer, assunto que sempre evitou, e da mãe, professora de história. E mostrou ter sentido as críticas que recebeu de parte da mídia.
Em nenhum momento, porém, o treinador da seleção foi agressivo. Nem quando deu suas habituais alfinetadas nos repórteres.
E disse que falaria "uma única vez" sobre os palavrões proferidos ao jornalista da TV Globo Alex Escobar.
"Quero pedir desculpa ao torcedor brasileiro pela minha atitude, a forma como me comportei. O torcedor não tem nada a ver com problemas pessoais meus", afirmou ele, referindo-se ao imbróglio com a emissora.
O técnico explodiu com Escobar após saber que a emissora negociara diretamente com Ricardo Teixeira entrevistas exclusivas com jogadores da seleção.
Nos dias seguintes ao episódio, o treinador ganhou apoio popular, manifestado em milhares de redes sociais espalhadas na internet.
O desabafo final, e mais dramático, de Dunga, ocorreu na pergunta final, quando ele foi questionado sobre o problema de seu pai.
"Não é a primeira vez que ele está nessa situação, desde que eu cheguei à seleção brasileira. Há muito mais tempo ele vem sofrendo e, para mim, é só mais uma oportunidade de eu demonstrar para o meu pai tudo o que ele me ensinou", disse.
Logo em seguida, o treinador falou mais grosso.
"Homem para ser homem tem de ter virtude, tem de ter posição, tem de ter dignidade, tem que ter transparência, tem que saber pedir desculpa quando erra", disse.
Dunga lembrou também, amargurado, de quando disse que sua mãe era professora de história. O técnico foi ironizado quando afirmou que não poderia dizer se a escravidão ou o apartheid foram ruins porque não havia vivido nenhum deles.
"A outra [pessoa com quem aprendi] é a minha mãe, que talvez me deu o maior exemplo. O que estão fazendo com o filho dela não é para fazer com ser humano. Mas ela me ensinou a não largar nunca e levar até o final."
"E como fizeram chacota quando falei que ela era professora de história, e a história que ela me demonstrou é que a gente tem de dar amor ao nosso país, nós temos de ser patriotas, por mais que muitos não gostem."


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