|
Próximo Texto | Índice
Areia movediça
Vôlei de praia perde para os EUA, fica com a prata e joga para os homens a tarefa de levar o ouro e evitar a pior campanha
LUÍS CURRO
ROBERTO DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS
O esporte nasceu nos anos 20
em Santa Monica, Califórnia, mas
foi nas praias do Rio que ele ganhou impulso para se popularizar
pelo mundo, isso já nos anos 80.
Pois ontem o berço do vôlei de
praia não só bateu
a "nova casa" como a deixou em situação pouco confortável.
Na decisão do
ouro feminino da
Olimpíada de Atenas, as californianas Misty May e
Kerri Walsh derrotaram a dupla
Adriana Behar e
Shelda, radicada
no Rio. Foi fácil: 2
sets a 0 (21/ 17 e 21/11).
O resultado faz com que o vôlei
de praia brasileiro entre pressionado hoje na arena, às 15h, na decisão masculina. Ricardo e Emanuel precisam bater os espanhóis
Bosma e Herrera para evitar a
pior campanha olímpica do país
na modalidade. Se ganharem, terão um ouro inédito entre os homens para festejar, mas não haverá avanço histórico -a campanha de Atenas-04 igualará a de
Atlanta-96 e terá menos medalhas
do que a de Sydney-00.
É pouco para quem chegou à
Grécia confiante em garimpar até
quatro medalhas nas areias da
costa de Faliro.
A receita do tombo envolveu
derrotas inesperadas em jogos de
pouca importância, falta de conhecimento do regulamento usado nos Jogos de Atenas e azar no
sorteio, que empurrou as duplas
brasileiras para duelos fratricidas.
É pouco, também, para quem
exibe uma supremacia histórica
na modalidade que encontra pouco paralelo em outro esporte.
Considere os três principais
eventos do vôlei de praia: a Olimpíada, o Mundial e o Circuito, todos em suas versões masculina e
feminina. Das seis listas históricas
de medalhas, o Brasil lidera quatro. Só não é hegemônico entre os
homens nos Jogos e no Mundial.
No feminino, o país domina as
três listas, mas já começa a perder
terreno. As norte-americanas
May e Walsh consagraram-se ontem, de vez, como a melhor dupla
da atualidade: têm agora os títulos
da Olimpíada e do Mundial. Não
deram chances a Adriana Behar,
35, e Shelda, 31, que pela segunda
vez seguida perderam a final
olímpica -talvez a última que tenham disputado em suas carreiras, por causa da idade.
"Eu acho que eu poderia ter jogado melhor, meus levantamentos para a Shelda foram muito
ruins. Para a nossa dupla, isso foi
fatal", disse Adriana Behar, puxando para si a culpa.
A derrota de ontem faz com que
as duplas brasileiras somem quatro pratas no vôlei de praia, média
superior a uma por Olimpíada.
Em Atlanta-96, quando a modalidade passou a distribuir medalhas, o país conquistou uma
medalha de ouro (Jacqueline e
Sandra) e uma de prata (Mônica e
Adriana Samuel).
Quatro anos depois, foram três
medalhas. Entre os homens, a
prata de Zé Marco e Ricardo; entre as mulheres, a prata de Adriana Behar e Shelda e o bronze de
Sandra e Adriana Samuel.
Hoje, Ricardo e Emanuel, atuais
bicampeões do Circuito Mundial,
chegam à decisão com campanha
igual à de seus rivais: nenhuma
derrota, três sets perdidos.
São considerados favoritos.
Têm a missão de resgatar não só a
imagem do vôlei de praia nacional como também a de derrubar a
fama de pipocar que marca a trajetória olímpica de ambos.
Ricardo foi surpreendido na final dos últimos Jogos por uma
dupla americana, e Emanuel sucumbiu nas oitavas-de-final das
duas últimas edições olímpicas.
Próximo Texto: Polifonia: O dia em que a Terra tremeu na Olimpíada Índice
|