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FUTEBOL
Campeonatos, times e homens
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Assim como os goleiros (os
que, aparentemente, mais
dependem dela), os demais jogadores e os técnicos, os campeonatos precisam de sorte. E este Brasileiro tem sido afortunado. O confronto entre líder e vice-líder na
última rodada do primeiro turno,
por exemplo, foi incrivelmente
oportuno -e fruto do acaso.
Mas, assim como os jogadores e
os técnicos, se um campeonato
não tiver qualidades, não há sorte
que o salve. Os dois postulantes ao
título virtual de "campeão de inverno" (alguém sugere um nome
melhor?) poderiam ser times pouco convincentes ou empolgantes,
mas o Goiás de Paulo Baier, Jadilson e Rodrigo Tabata e o Corinthians de Roger e Tevez (e Marcelo Mattos!) tiveram seu brilho.
Defendo sempre que um campeonato será bom ou ruim e interessante ou monótono em razão
da qualidade dos times. Fórmulas
e regulamentos esdrúxulos atrapalham, mas formatos corretos
(como eu acredito ser o de pontos
corridos em turno e returno) podem fracassar se as equipes forem
fracas. Em que pesem as críticas
recorrentes às frágeis defesas, este
Brasileiro tem muitos pontos fortes, coletivos e individuais (a lista
de artilheiros ajuda, mas não dá
conta de todos; o elegante Giovanni, por exemplo, não aparece
nela). E os pontos fracos também
adicionam interesse, como os calvários de Flamengo e São Paulo.
Outros personagens merecem
comentários à parte. Robinho já
pode virar livro (ou um DVD...).
Campeão brasileiro duas vezes,
superou momentos de forte questionamento ("fraude, foca, mascarado") e muita expectativa a
favor (como na seleção). Errou
(ao deixar de treinar com o time
durante o impasse nas negociações) e acertou (ao ir com o Santos a Belém, quando tudo indicava o contrário). Sob mágoas e desconfiança, conseguiu voltar a jogar bem antes de ir embora.
Tevez tem tanto destaque
quanto merece, mas quero falar
de seu companheiro Sebá. Incrível como é inteligente, articulado
e bem informado; tem a coragem
básica (e rara) de dizer o que pensa, sem evasivas e chavões, sem
tentar fazer média. Algumas frases ditas à ESPN Brasil: "Meu pai
me falava muito de Pelé... Mas
não adianta, sou Maradona"; "a
rivalidade entre Newell's e Rosário é tão grande que o jogo é sempre feio, porque os dois têm muito
medo de perder"; "aqui entro calmo nos clássicos, porque acabei
de chegar, ao contrário de quem
cresceu no clube" (ele chegou a citar Campinas como exemplo do
que ocorre na sua Rosario!); "no
Brasil, os campos são maiores, e
do meio para a frente todo jogador brasileiro é bom; é mais difícil
para um defensor"; "não tenho
chances de ir à Copa, a seleção
tem muitas opções". Lucidez, honestidade e senso crítico impressionantes. Quantos brasileiros (e
não só os jogadores) seriam capazes de dizer, por exemplo, se são
socialistas ou não... Ou o que significa ser ou não ser?
E assim seguimos, exportando e
importando grandes personagens, assistindo a belos jogos, conhecendo bons times e acompanhando um grande campeonato.
A presença da Justiça
Os Juizados Especiais Criminais nos estádios não contam
com aprovação unânime.
Alguns acreditam que, se a pessoa detida for intimada a comparecer no Fórum 72 horas depois, a Justiça estará atuando
com a agilidade necessária. Temem também que "o calor do
momento" não permita ao acusado avaliar corretamente o
acordo que lhe está sendo proposto (que não é uma sentença,
sobre a qual não haveria negociação alguma...). Mas muitos
defendem não apenas a rapidez
do processo como também a
importância simbólica da presença da Justiça ao lado do cidadão, fazendo ver que o estádio não é um espaço de exceção, onde uns e outros façam
suas "leis", julgamentos e condenações.
E-mail: soninha.folha@uol.com.br
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