São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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FUTEBOL

Campeonatos, times e homens

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Assim como os goleiros (os que, aparentemente, mais dependem dela), os demais jogadores e os técnicos, os campeonatos precisam de sorte. E este Brasileiro tem sido afortunado. O confronto entre líder e vice-líder na última rodada do primeiro turno, por exemplo, foi incrivelmente oportuno -e fruto do acaso.
Mas, assim como os jogadores e os técnicos, se um campeonato não tiver qualidades, não há sorte que o salve. Os dois postulantes ao título virtual de "campeão de inverno" (alguém sugere um nome melhor?) poderiam ser times pouco convincentes ou empolgantes, mas o Goiás de Paulo Baier, Jadilson e Rodrigo Tabata e o Corinthians de Roger e Tevez (e Marcelo Mattos!) tiveram seu brilho.
Defendo sempre que um campeonato será bom ou ruim e interessante ou monótono em razão da qualidade dos times. Fórmulas e regulamentos esdrúxulos atrapalham, mas formatos corretos (como eu acredito ser o de pontos corridos em turno e returno) podem fracassar se as equipes forem fracas. Em que pesem as críticas recorrentes às frágeis defesas, este Brasileiro tem muitos pontos fortes, coletivos e individuais (a lista de artilheiros ajuda, mas não dá conta de todos; o elegante Giovanni, por exemplo, não aparece nela). E os pontos fracos também adicionam interesse, como os calvários de Flamengo e São Paulo.
Outros personagens merecem comentários à parte. Robinho já pode virar livro (ou um DVD...). Campeão brasileiro duas vezes, superou momentos de forte questionamento ("fraude, foca, mascarado") e muita expectativa a favor (como na seleção). Errou (ao deixar de treinar com o time durante o impasse nas negociações) e acertou (ao ir com o Santos a Belém, quando tudo indicava o contrário). Sob mágoas e desconfiança, conseguiu voltar a jogar bem antes de ir embora.
Tevez tem tanto destaque quanto merece, mas quero falar de seu companheiro Sebá. Incrível como é inteligente, articulado e bem informado; tem a coragem básica (e rara) de dizer o que pensa, sem evasivas e chavões, sem tentar fazer média. Algumas frases ditas à ESPN Brasil: "Meu pai me falava muito de Pelé... Mas não adianta, sou Maradona"; "a rivalidade entre Newell's e Rosário é tão grande que o jogo é sempre feio, porque os dois têm muito medo de perder"; "aqui entro calmo nos clássicos, porque acabei de chegar, ao contrário de quem cresceu no clube" (ele chegou a citar Campinas como exemplo do que ocorre na sua Rosario!); "no Brasil, os campos são maiores, e do meio para a frente todo jogador brasileiro é bom; é mais difícil para um defensor"; "não tenho chances de ir à Copa, a seleção tem muitas opções". Lucidez, honestidade e senso crítico impressionantes. Quantos brasileiros (e não só os jogadores) seriam capazes de dizer, por exemplo, se são socialistas ou não... Ou o que significa ser ou não ser?
E assim seguimos, exportando e importando grandes personagens, assistindo a belos jogos, conhecendo bons times e acompanhando um grande campeonato.

A presença da Justiça
Os Juizados Especiais Criminais nos estádios não contam com aprovação unânime. Alguns acreditam que, se a pessoa detida for intimada a comparecer no Fórum 72 horas depois, a Justiça estará atuando com a agilidade necessária. Temem também que "o calor do momento" não permita ao acusado avaliar corretamente o acordo que lhe está sendo proposto (que não é uma sentença, sobre a qual não haveria negociação alguma...). Mas muitos defendem não apenas a rapidez do processo como também a importância simbólica da presença da Justiça ao lado do cidadão, fazendo ver que o estádio não é um espaço de exceção, onde uns e outros façam suas "leis", julgamentos e condenações.


E-mail: soninha.folha@uol.com.br

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