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EUA>> Sérgio Dávila
As verdadeiras heroínas
HÁ ALGUNS dias, o órgão federal que cuida
de imigração nos EUA
iniciou uma campanha em que
oferecia a 500 mil procurados
pela Justiça dos cerca de 12 milhões de ilegais no país que se
entregassem voluntariamente.
Em troca, seriam repatriados
sem ter que responder a perguntas nem passar pelo sistema
judicial americano.
Nas três semanas que durou
o programa, oito pessoas se
apresentaram. Oito. O ICE, sigla do órgão, anunciou que cancelará a iniciativa.
O caso me lembra o que
aconteceu durante a Olimpíada
de Pequim. O governo dava
uma chance aos que quisessem
protestar para que o fizessem
"dentro da lei", ou seja, se inscrevessem antes para pegar a
permissão -é preciso uma ditadura comunista e muita cara-de-pau para sufocar a dissidência dizendo qual crítica pode ou
não ser feita. Todos os que se
inscreveram foram presos.
Chamou a atenção do Ocidente o caso das duas senhoras
de mais de 70 anos que buscaram a autorização. Queriam reclamar da indenização recebida
do governo ao serem obrigadas
a vender suas casas, as quais deram lugar à especulação imobiliária que ajuda a economia local a dar saltos e impressiona os
visitantes. Foram presas e enviadas para um "campo de reeducação via trabalho", os famigerados "laojiao".
A festa de encerramento foi
grandiosa -de novo, a NBC
praticou censura econômica
em milhões de telespectadores
americanos, exibindo o evento
só na noite de ontem, 12 horas
depois do ocorrido-, vários recordes foram batidos, a China
se firmou como potência esportiva, blablablá.
Esqueça Michael Phelps. As
verdadeiras heroínas dessa
Olimpíada são Wu Dianyuan,
79, e sua vizinha Wang Xiuying,
77, cega e com problemas físicos. Em um ano, quando estivermos pensando na Copa do
Mundo, elas estarão acabando
de concluir sua sentença.
Se sobreviverem.
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