São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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EUA>> Sérgio Dávila

As verdadeiras heroínas

HÁ ALGUNS dias, o órgão federal que cuida de imigração nos EUA iniciou uma campanha em que oferecia a 500 mil procurados pela Justiça dos cerca de 12 milhões de ilegais no país que se entregassem voluntariamente. Em troca, seriam repatriados sem ter que responder a perguntas nem passar pelo sistema judicial americano.
Nas três semanas que durou o programa, oito pessoas se apresentaram. Oito. O ICE, sigla do órgão, anunciou que cancelará a iniciativa.
O caso me lembra o que aconteceu durante a Olimpíada de Pequim. O governo dava uma chance aos que quisessem protestar para que o fizessem "dentro da lei", ou seja, se inscrevessem antes para pegar a permissão -é preciso uma ditadura comunista e muita cara-de-pau para sufocar a dissidência dizendo qual crítica pode ou não ser feita. Todos os que se inscreveram foram presos.
Chamou a atenção do Ocidente o caso das duas senhoras de mais de 70 anos que buscaram a autorização. Queriam reclamar da indenização recebida do governo ao serem obrigadas a vender suas casas, as quais deram lugar à especulação imobiliária que ajuda a economia local a dar saltos e impressiona os visitantes. Foram presas e enviadas para um "campo de reeducação via trabalho", os famigerados "laojiao".
A festa de encerramento foi grandiosa -de novo, a NBC praticou censura econômica em milhões de telespectadores americanos, exibindo o evento só na noite de ontem, 12 horas depois do ocorrido-, vários recordes foram batidos, a China se firmou como potência esportiva, blablablá.
Esqueça Michael Phelps. As verdadeiras heroínas dessa Olimpíada são Wu Dianyuan, 79, e sua vizinha Wang Xiuying, 77, cega e com problemas físicos. Em um ano, quando estivermos pensando na Copa do Mundo, elas estarão acabando de concluir sua sentença.
Se sobreviverem.


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