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China>> Raul Juste Lores
A paranóia chinesa
SOU CERCADO por 20 homens e mulheres agressivos enquanto tento fazer uma reportagem em uma
favela de Pequim. Todos usam
braçadeiras vermelhas e são
chefetes de bairro.
Os homens tentam arrancar
a câmera do fotógrafo que me
acompanha, Caio Guatelli. "Por
que vocês não vão fotografar os
shopping centers de Pequim?",
reclamam as senhoras.
Eles foram escalados pelo governo para espionar os vizinhos
e complicar o trabalho de jornalistas em áreas onde a China
é menos reluzente. A desconfiança com o olhar estrangeiro
e a atitude intransigente a qualquer opinião e ato que pareçam
críticos ao país são marcas da
China em pleno 2008.
Agora que se firmou como a
maior potência esportiva mundial e esbanjou dinheiro para
comprovar sua riqueza recém-adquirida, já está mais do que
na hora de a China abandonar o
eterno papel de vítima que ensina em seus livros escolares.
Os "150 anos de humilhação"
chegaram ao fim.
Pequim recebeu milhares de
turistas, atletas e jornalistas de
todo o mundo. E não aconteceu
nenhuma tragédia na Olimpíada. Nenhum atleta desfraldou
bandeira do Tibete, nenhum
fez qualquer protesto sobre direitos humanos. Patrocinadores não gostariam de problemas com a China.
O Comitê Olímpico Internacional fez seu papel, ameaçando qualquer atleta que saísse da
linha. Nenhum chefe de Estado
visitante pressionou os chineses por mais abertura política e
até Bush se comportou como
um inofensivo torcedor.
Os medos dos chineses não
se justificam quando todo o
mundo só pensa em fazer negócios com o país de 1,3 bilhão de
habitantes. Pena que a China
não tenha aproveitado tamanha oportunidade de mostrar
um país mais relaxado e aberto
ao mundo, menos repressivo.
Serão necessárias muitas outras provas, igualmente olímpicas, para mostrar que a China,
de fato, mudou.
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