São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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China>> Raul Juste Lores

A paranóia chinesa

SOU CERCADO por 20 homens e mulheres agressivos enquanto tento fazer uma reportagem em uma favela de Pequim. Todos usam braçadeiras vermelhas e são chefetes de bairro.
Os homens tentam arrancar a câmera do fotógrafo que me acompanha, Caio Guatelli. "Por que vocês não vão fotografar os shopping centers de Pequim?", reclamam as senhoras.
Eles foram escalados pelo governo para espionar os vizinhos e complicar o trabalho de jornalistas em áreas onde a China é menos reluzente. A desconfiança com o olhar estrangeiro e a atitude intransigente a qualquer opinião e ato que pareçam críticos ao país são marcas da China em pleno 2008.
Agora que se firmou como a maior potência esportiva mundial e esbanjou dinheiro para comprovar sua riqueza recém-adquirida, já está mais do que na hora de a China abandonar o eterno papel de vítima que ensina em seus livros escolares. Os "150 anos de humilhação" chegaram ao fim.
Pequim recebeu milhares de turistas, atletas e jornalistas de todo o mundo. E não aconteceu nenhuma tragédia na Olimpíada. Nenhum atleta desfraldou bandeira do Tibete, nenhum fez qualquer protesto sobre direitos humanos. Patrocinadores não gostariam de problemas com a China.
O Comitê Olímpico Internacional fez seu papel, ameaçando qualquer atleta que saísse da linha. Nenhum chefe de Estado visitante pressionou os chineses por mais abertura política e até Bush se comportou como um inofensivo torcedor.
Os medos dos chineses não se justificam quando todo o mundo só pensa em fazer negócios com o país de 1,3 bilhão de habitantes. Pena que a China não tenha aproveitado tamanha oportunidade de mostrar um país mais relaxado e aberto ao mundo, menos repressivo. Serão necessárias muitas outras provas, igualmente olímpicas, para mostrar que a China, de fato, mudou.


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