São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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BALANÇO

COI enxerga só o que quer no adeus aos chineses

Jacques Rogge escapa de temas polêmicos e exalta recordistas

Direitos humanos, censura e repressão são citados apenas superficialmente por presidente, que pede a Londres Jogos cosmopolitas

Caio Guatelli/Folha Imagem
Cerimônia de encerramento dos Jogos, no Ninho de Pássaro

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Jacques Rogge abraçou a China há sete anos, em 13 de julho de 2001. Soltou ontem, após a preparação mais controversa para uma Olimpíada, aliviado.
O presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional) declarou no centro de imprensa que os objetivos de "abrir o mundo para a China e abrir a China para o mundo" foram alcançados.
Tergiversou quando instado a falar sobre direitos humanos, sobre problemas com a internet, sobre o duelo EUA x China no quadro de medalhas. E elevou Usain Bolt e Michael Phelps a "ícones" dos Jogos.
"Estamos satisfeitos. Há legados tangíveis, como as arenas, muitas delas construídas perto de universidades. Não há um elefante branco. Há ainda o metrô, o aeroporto", afirmou.
"Há também legados intangíveis como as medidas para melhorar o meio ambiente, que modificarão o clima na China, a motivação que o esporte trará às crianças e a flexibilização das regras para a imprensa."
Pequim foi a primeira sede que a gestão Rogge acompanhou desde a escolha -ele assumiu o COI no mesmo evento que referendou a cidade.
Nesses sete anos, a decisão sofreu ataques sem precedentes na história olímpica. Os maiores críticos, entidades de defesa dos direitos humanos, que fizeram do périplo da tocha, por exemplo, um caos.
Em relação à censura a sites considerados subversivos pelo governo chinês, Rogge disse saber que o acesso não foi totalmente liberado durante o evento. "Mas temos que admitir que a situação foi muito melhor do que era antes dos Jogos. Isso é um avanço, e só aconteceu por conta da Olimpíada", declarou.
Da mesma forma, evitou ser incisivo ao comentar o quadro de medalhas. No total de ouros, a China ficou à frente dos EUA, 51 a 36. Na soma das medalhas, os EUA lideraram: 110 a 100.
"EUA e China vão destacar o que acham mais importante."
Dois fatores ainda podem mudar os números de medalhas. O primeiro, o doping -falta a conclusão dos exames dos últimos quatro dias dos Jogos. O segundo, a investigação sobre a idade das ginastas chinesas -quatro delas são suspeitas de terem menos de 16 anos, idade mínima em Olimpíada.
"A Federação Internacional de Ginástica pediu os documentos de todas as atletas e, aparentemente, tudo está ok."
Mais à vontade para falar dos feitos esportivos, Rogge citou dois atletas: Phelps, oito ouros, novo recorde em uma edição dos Jogos, e Bolt, três ouros e três recordes mundiais.
E destacou a descentralização da distribuição de medalhas. Em Atenas, 74 países foram ao pódio. Em Pequim, 87.
Terminou a entrevista falando dos próximos Jogos. A conclusão: dificilmente alguma cidade conseguirá igualar a megalomania das instalações chinesas. "A China colocou tudo num patamar muito alto, e isso é um desafio para Londres. Há coisas que Londres não conseguirá fazer... Meu conselho é que os ingleses construam uma Olimpíada em torno dos seus valores, dos valores de uma cidade cosmopolita", concluiu.


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