São Paulo, segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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POLÍTICA

Olimpíada reforça apoio popular ao Partido Comunista

Mesmo sem abertura política e respeito aos direitos humanos, governo chinês colhe louros do evento

Aumento de prisões de dissidentes, censura na internet e esvaziamento das ruas não mancham imagem da China dentro de casa

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China conseguiu tudo o que queria da Olimpíada sem cumprir as promessas de abertura política ou de respeito aos direitos humanos. Com a maior coleção de ouros, o país sublinhou sua ascensão como potência e reforçou o apoio ao Partido Comunista em casa.
Prisões de dissidentes aumentaram, protestos não foram autorizados nos 16 dias dos Jogos e a internet só deixou de ser censurada após gritaria da imprensa internacional.
O COI (Comitê Olímpico Internacional) não incomodou os anfitriões. Ao saber que duas senhoras, de 79 e 77 anos, foram presas por tentar fazer um protesto, o presidente do COI, Jacques Rogge, disse que não se intrometeria nas leis do país.
As duas senhoras, que perderam suas casas para dar lugar a instalações esportivas e reclamam maiores indenizações, estão ameaçadas de pena de um ano de trabalho forçado.
Os US$ 40 bilhões investidos nos Jogos -mais que os investimentos anuais somados em educação e saúde- garantiram infra-estrutura impecável, além de instalações assinadas por arquitetos renomados.
Até o ar ficou mais limpo graças a medidas de última hora, com um rodízio que tirou mais de 50% dos carros das ruas e o fechamento das fábricas de Pequim e cidades vizinhas.
Não houve protestos de peso -cerca de 40 estrangeiros foram presos por pequenas manifestações pela independência do Tibete, jamais noticiadas dentro da China. Negociações com o dalai-lama, líder espiritual tibetano, pela autonomia da Província ficaram no limbo.
O cordão de isolamento entre a Pequim real e a olímpica funcionou. A capital chinesa ficou mais vazia na maior parte do evento. Migrantes rurais foram forçados a voltar ao interior com o fechamento das obras de construção civil, onde boa parte trabalha. E o número de visitantes estrangeiros foi reduzido por estratégia oficial.
Desde maio, após os protestos na passagem da tocha pelo mundo, a política imigratória chinesa tornou a concessão de vistos uma corrida de obstáculos. Temendo a chegada de hordas de ativistas estrangeiros exigindo direitos humanos, o governo chinês não arriscou.
Reservas começaram a ser canceladas em profusão nos cinco estrelas da cidade. O preço das diárias caiu de 20% a 30%, segundo o governo.
Até o início do ano, Pequim esperava 500 mil visitantes estrangeiros. Em maio, o número caiu para 400 mil. Mas fontes no comitê organizador disseram à Folha que o número de visitantes não superou 150 mil.
Com avenidas vazias, o clima festivo, comum nas ruas de Atenas-2004 ou Barcelona-1992, esteve ausente em Pequim. Apesar da falta de espontaneidade da torcida, o evento é um sucesso em casa.
"Mais de 90% dos chineses apóiam a Olimpíada, e o sucesso da China só reforça essa opinião", disse à Folha Victor Yuan, diretor da maior empresa de pesquisas de opinião pública do país, a Horizon.


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