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POLÍTICA
Olimpíada reforça apoio popular ao Partido Comunista
Mesmo sem abertura política e respeito aos direitos humanos, governo chinês colhe louros do evento
Aumento de prisões de dissidentes, censura na internet e esvaziamento das ruas não mancham imagem da China dentro de casa
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A China conseguiu tudo o
que queria da Olimpíada sem
cumprir as promessas de abertura política ou de respeito aos
direitos humanos. Com a maior
coleção de ouros, o país sublinhou sua ascensão como potência e reforçou o apoio ao
Partido Comunista em casa.
Prisões de dissidentes aumentaram, protestos não foram autorizados nos 16 dias dos
Jogos e a internet só deixou de
ser censurada após gritaria da
imprensa internacional.
O COI (Comitê Olímpico Internacional) não incomodou os
anfitriões. Ao saber que duas
senhoras, de 79 e 77 anos, foram presas por tentar fazer um
protesto, o presidente do COI,
Jacques Rogge, disse que não se
intrometeria nas leis do país.
As duas senhoras, que perderam suas casas para dar lugar a
instalações esportivas e reclamam maiores indenizações, estão ameaçadas de pena de um
ano de trabalho forçado.
Os US$ 40 bilhões investidos
nos Jogos -mais que os investimentos anuais somados em
educação e saúde- garantiram
infra-estrutura impecável,
além de instalações assinadas
por arquitetos renomados.
Até o ar ficou mais limpo graças a medidas de última hora,
com um rodízio que tirou mais
de 50% dos carros das ruas e o
fechamento das fábricas de Pequim e cidades vizinhas.
Não houve protestos de peso
-cerca de 40 estrangeiros foram presos por pequenas manifestações pela independência
do Tibete, jamais noticiadas
dentro da China. Negociações
com o dalai-lama, líder espiritual tibetano, pela autonomia
da Província ficaram no limbo.
O cordão de isolamento entre a Pequim real e a olímpica
funcionou. A capital chinesa ficou mais vazia na maior parte
do evento. Migrantes rurais foram forçados a voltar ao interior com o fechamento das
obras de construção civil, onde
boa parte trabalha. E o número
de visitantes estrangeiros foi
reduzido por estratégia oficial.
Desde maio, após os protestos na passagem da tocha pelo
mundo, a política imigratória
chinesa tornou a concessão de
vistos uma corrida de obstáculos. Temendo a chegada de hordas de ativistas estrangeiros
exigindo direitos humanos, o
governo chinês não arriscou.
Reservas começaram a ser
canceladas em profusão nos
cinco estrelas da cidade. O preço das diárias caiu de 20% a
30%, segundo o governo.
Até o início do ano, Pequim
esperava 500 mil visitantes estrangeiros. Em maio, o número
caiu para 400 mil. Mas fontes
no comitê organizador disseram à Folha que o número de
visitantes não superou 150 mil.
Com avenidas vazias, o clima
festivo, comum nas ruas de
Atenas-2004 ou Barcelona-1992, esteve ausente em Pequim. Apesar da falta de espontaneidade da torcida, o evento
é um sucesso em casa.
"Mais de 90% dos chineses
apóiam a Olimpíada, e o sucesso da China só reforça essa opinião", disse à Folha Victor
Yuan, diretor da maior empresa de pesquisas de opinião pública do país, a Horizon.
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