São Paulo, Sábado, 25 de Setembro de 1999
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Crônica de uma crise anunciada

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Vinte dias atrás, o Corinthians parecia um time imbatível. Alguns já o apontavam, precipitadamente, como o virtual campeão do Brasileiro-99.
Bastaram três derrotas em quatro jogos para a equipe entrar em parafuso, com torcedores invadindo o campo, jogadores trocando acusações, cobranças desabando sobre o técnico. O time ainda é líder, mas já há uma tempestade no copo d'água.
O clima é tal que o jogo de hoje contra o Sport, em Recife, ganha ares de decisão: se o Corinthians ganha, abafa a crise. Se perde, afunda-se ainda mais nela. Pior: nessa rodada, o time pode ser alcançado (por São Paulo e Cruzeiro) e até ultrapassado (pelo Flamengo) na tabela.
A queda atual do alvinegro era previsível, não tanto pela ""síndrome de montanha-russa" que o caracteriza, mas por fatores bem mais concretos:
1) A fragilidade da zaga, apontada nesta coluna ainda na fase de vacas gordas, quando o time estava invicto. A saída de Gamarra e Silvinho trouxe um desequilíbrio no setor que está longe de ser sanado. Jarni será bem-vindo.
2) A dificuldade que o time tem de segurar o jogo e administrar resultados, sobretudo quando joga em casa, sob a pressão da torcida. Todos os volantes e os dois alas viram atacantes ao mesmo tempo, e a defesa fica órfã.
Um terceiro agravante é o excesso de estrelas: ao primeiro tropeço, cada um quer tirar o corpo fora e jogar o problema nas costas dos outros. A tão falada ""união" é pura retórica.
Note-se, por outro lado, o contraste entre a propalada modernização financeiro-adminstrativa, propiciada pelos dólares do HMTF, e a intromissão abusiva das torcidas ditas organizadas nos assuntos do clube.
A intimidação do lateral Augusto por membros de uma dessas torcidas é um fato intolerável, que escancara o caráter protofascista dessas organizações.
  O clássico entre Palmeiras e Santos opõe situações contrastantes. Enquanto o alviverde vem embalado rumo à classificação, confirmando sua vocação de time de chegada, o Santos tenta se aprumar após a derrota, em casa, para o lanterna Botafogo-RJ.
Para o Santos, o jogo é crucial: vencendo, mantém as chances de classificação e começa a sair do baixo-astral. Perdendo, afunda-se no desânimo e na sensação de já não ser um time de ponta.
  Há uma semana, comentei os bordões dos locutores de rádio e TV que correm o risco de cair no esquecimento. Vários leitores responderam ao apelo.
Gilberto Gil Camargo, editor e colunista do site Futiba (www.uol.com.br/futiba), me escreveu informando que o autor da frase ""estava aberta a casa da viúva" é Joseval Peixoto, locutor da Joven Pan nos anos 60 e 70.
De acordo com Jayme Aranha, a expressão ""lá onde a coruja dorme" é de Washington Rodrigues, o Apolinho, hoje na rádio Tupi do Rio, autor também dos termos ""arquibaldos" e ""geraldinos".
A boa notícia é que dois livros, atualmente em preparação, vão recolher expressões desse tipo. Um deles será uma enciclopédia da linguagem do futebol, do jornalista Hélio Moreira da Silva, da "Gazeta Mercantil".
O outro, um dicionário de citações, está sendo preparado pelo repórter Mário Magalhães, da Folha, autor do belo livro "Viagem ao País do Futebol".


José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados
E-mail: jgcouto@uol.com.br



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