São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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TOSTÃO

Ambição e desambição


Técnicos e atletas estão divididos entre a ousadia e a prudência, a ambição e a desambição

Falam que esquema tático bom é o que dá certo. Nem isso podemos dizer, pois há muitos outros fatores envolvidos no resultado de um jogo.
Muito mais importante que o desenho tático, os números, é a estratégia, a filosofia. É saber onde começa a marcação, com quantos jogadores um time ataca e defende, se há muitos ou poucos espaços entre os setores, se a prioridade é o domínio do jogo, a posse de bola ou os contra-ataques e vários outros detalhes.
Ruim é não ter nada bem definido. Um técnico é melhor que outro quando seus jogadores executam com mais eficiência o que foi planejado, e não por causa do esquema tático. Todos têm vantagens e desvantagens.
Como temos o hábito de tentar achar uma única causa para explicar o resultado, para mostrar sabedoria -ou ignorância-, fica mais fácil dizer que um time ganhou ou perdeu por causa da escalação, da substituição ou porque o técnico colocou um jogador cinco metros mais para a direita ou para a esquerda.
Os treinadores, supervalorizados, muitas vezes, iludidos e prepotentes, pensam também que seu esquema tático decidiu o jogo.
A maioria das equipes começa e termina uma partida com os jogadores nas mesmas posições, compartimentados, robotizados. Volante não se mistura com meia. Há armadores pela direita e pela esquerda. O meia dá o passe, e o centroavante faz o gol.
Há exceções.
Até hoje, ninguém sabe se Xavi, do Barcelona, é volante ou meia, se joga mais pela esquerda ou pela direita. O veloz e aguerrido Herrera, do Botafogo, marca o lateral e ainda faz dupla de ataque com Loco Abreu.
Esquema tático bom é o que deixa o comentarista ansioso, tentando descobrir, pela movimentação dos jogadores, ocasional ou habitual, qual foi a mudança tática que o técnico fez durante a partida. Algumas vezes, o técnico nem percebe.
Os treinadores ficam divididos entre a ousadia e a segurança. Querem arriscar e, ao mesmo tempo, não querem dar chance ao adversário. O conflito costuma terminar em conciliação, por prudência ou por covardia. Assim é também na vida. É a disputa entre o princípio do prazer e a realidade, entre o desejo e a razão.
O sonho da maioria dos treinadores é atingir o equilíbrio perfeito. Como os atletas são, como os humanos, imperfeitos, emocionalmente instáveis e também divididos entre a ambição, o desejo de ser herói, e a desambição, o equilíbrio perfeito nunca é atingido. Ainda bem. Ficaria muito chato.


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