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FUTEBOL
Gol contra da PM
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Nos tempos do período militar, quando um policial militar cometia um ato de barbárie
daqueles difíceis de acobertar, seu
superior imediato aparecia dando uma entrevista com o cenho
franzido, o olhar severo e dizia
uma frase mais ou menos assim:
-Vamos abrir um rigoroso inquérito, apurar as responsabilidades e, se for o caso, punir os culpados.
O que, traduzindo do militarês
para o português, significava:
-Vamos fazer um julgamento
só para parecer que estamos fazendo alguma coisa. Depois deixamos a papelada tramitar um
tempão na burocracia até que os
chatos da imprensa larguem do
nosso pé. Aí volta tudo ao normal,
e ninguém será punido.
Hoje, em alguns Estados, as coisas mudaram. Há um trabalho
mais confiável e mais respaldado
da parte das ouvidorias e corregedorias, e isso se reflete no encaminhamento para tratamento psicológico ou na efetiva punição
dos oficiais que extrapolam os limites do seu dever. Ainda bem,
porque, em caso contrário, nós é
que ficaríamos indefesos contra
os abusos de militares armados,
que às vezes são afoitos e mentalmente desequilibrados.
Esse espírito de profissionalismo, no entanto, não parece ter
chegado ainda à PM do Pará, a
mesma corporação, aliás, que ostenta em seu currículo o abominável massacre de Eldorado dos
Carajás. Para quem não lembra,
naquele episódio, 19 trabalhadores rurais foram assassinados por
um pelotão de 142 policiais militares. Anos depois, apenas duas
pessoas foram condenadas.
Essa mesma polícia deu, anteontem, no jogo entre Santos e
Paysandu, uma demonstração de
burrice, despreparo e truculência.
Sob o pretexto de proteger o auxiliar do árbitro, eles acabaram se
excedendo incompreensivelmente. Em vez de conter os ânimos
com inteligência, lançaram spray
de pimenta no rosto do técnico
Leão e atingiram o zagueiro Preto, que acalmava seus companheiros, com um violento golpe de
cassetete. Vendo um negro de costas e desarmado, provavelmente
o militar não resistiu à tentação.
Protestos contra árbitros são
um fato corriqueiro no futebol.
Uma polícia minimamente organizada e formada por homens capazes de somar um mais um teria
dado conta da situação, garantindo a integridade física do mediador e fazendo com que os ânimos se acalmassem. Nós, torcedores, já vimos isso tantas vezes que
até nos aborrecemos de tanto tédio. A PM do Pará, no entanto,
não conseguiu fazer o que todas
as outras polícias do mundo fazem com a mais absoluta facilidade. Faltaram neurônios.
Para usar o jargão psicanalítico, a Polícia Militar supostamente deveria funcionar como o "superego" da sociedade, contendo
excessos, garantindo o equilíbrio
e mantendo a ordem em situações de tensão. Na maioria das
vezes, ela atua assim, mas anteontem, sendo mais torcedora do
que profissional, a PM do Pará
agiu como o "id". E o policial que
desferiu o golpe covarde foi mais
que um "id", foi um idiota.
Só espero que esse episódio não
seja mais um a terminar com um
rigoroso inquérito que vai apurar
responsabilidades. Os culpados
têm que ser punidos de verdade,
como aliás tem sido feito nas polícias mais sérias do país.
Caso isso não aconteça, o melhor caminho seria proibir partidas de futebol no Estado do Pará
até que sua polícia tenha um mínimo de civilidade.
Soldado
Adhemar fez mais um gol salvador e evitou a derrota para
o Cruzeiro. Ainda não brilha
como em 2000, mas voltou a
ser um valoroso soldado.
Sargento
Na defesa e no ataque, os laterais Mancini (dez gols) e Arce
(oito) são destaque em seus
times. Suas invasões pelos
flancos direitos são sempre
perigosas, e eles já estão entre
os artilheiros do Brasileiro.
Capitão
Romário voltou a marcar.
Quando se pensa que ele finalmente chegou aos seus últimos dias, o pequeno Bonaparte volta a fazer gols. Com
seu curioso sistema de camuflagem, faz-se de morto e ataca quando menos se espera.
General
Dos 19 gols do Gama, Dimba
fez 14. É mais que um general,
é o rei do time. O Gama funciona em regime absolutista.
E-mail torero@uol.com.br
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