São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Gol contra da PM

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Nos tempos do período militar, quando um policial militar cometia um ato de barbárie daqueles difíceis de acobertar, seu superior imediato aparecia dando uma entrevista com o cenho franzido, o olhar severo e dizia uma frase mais ou menos assim:
-Vamos abrir um rigoroso inquérito, apurar as responsabilidades e, se for o caso, punir os culpados.
O que, traduzindo do militarês para o português, significava:
-Vamos fazer um julgamento só para parecer que estamos fazendo alguma coisa. Depois deixamos a papelada tramitar um tempão na burocracia até que os chatos da imprensa larguem do nosso pé. Aí volta tudo ao normal, e ninguém será punido.
Hoje, em alguns Estados, as coisas mudaram. Há um trabalho mais confiável e mais respaldado da parte das ouvidorias e corregedorias, e isso se reflete no encaminhamento para tratamento psicológico ou na efetiva punição dos oficiais que extrapolam os limites do seu dever. Ainda bem, porque, em caso contrário, nós é que ficaríamos indefesos contra os abusos de militares armados, que às vezes são afoitos e mentalmente desequilibrados.
Esse espírito de profissionalismo, no entanto, não parece ter chegado ainda à PM do Pará, a mesma corporação, aliás, que ostenta em seu currículo o abominável massacre de Eldorado dos Carajás. Para quem não lembra, naquele episódio, 19 trabalhadores rurais foram assassinados por um pelotão de 142 policiais militares. Anos depois, apenas duas pessoas foram condenadas.
Essa mesma polícia deu, anteontem, no jogo entre Santos e Paysandu, uma demonstração de burrice, despreparo e truculência.
Sob o pretexto de proteger o auxiliar do árbitro, eles acabaram se excedendo incompreensivelmente. Em vez de conter os ânimos com inteligência, lançaram spray de pimenta no rosto do técnico Leão e atingiram o zagueiro Preto, que acalmava seus companheiros, com um violento golpe de cassetete. Vendo um negro de costas e desarmado, provavelmente o militar não resistiu à tentação.
Protestos contra árbitros são um fato corriqueiro no futebol. Uma polícia minimamente organizada e formada por homens capazes de somar um mais um teria dado conta da situação, garantindo a integridade física do mediador e fazendo com que os ânimos se acalmassem. Nós, torcedores, já vimos isso tantas vezes que até nos aborrecemos de tanto tédio. A PM do Pará, no entanto, não conseguiu fazer o que todas as outras polícias do mundo fazem com a mais absoluta facilidade. Faltaram neurônios.
Para usar o jargão psicanalítico, a Polícia Militar supostamente deveria funcionar como o "superego" da sociedade, contendo excessos, garantindo o equilíbrio e mantendo a ordem em situações de tensão. Na maioria das vezes, ela atua assim, mas anteontem, sendo mais torcedora do que profissional, a PM do Pará agiu como o "id". E o policial que desferiu o golpe covarde foi mais que um "id", foi um idiota.
Só espero que esse episódio não seja mais um a terminar com um rigoroso inquérito que vai apurar responsabilidades. Os culpados têm que ser punidos de verdade, como aliás tem sido feito nas polícias mais sérias do país.
Caso isso não aconteça, o melhor caminho seria proibir partidas de futebol no Estado do Pará até que sua polícia tenha um mínimo de civilidade.

Soldado
Adhemar fez mais um gol salvador e evitou a derrota para o Cruzeiro. Ainda não brilha como em 2000, mas voltou a ser um valoroso soldado.

Sargento
Na defesa e no ataque, os laterais Mancini (dez gols) e Arce (oito) são destaque em seus times. Suas invasões pelos flancos direitos são sempre perigosas, e eles já estão entre os artilheiros do Brasileiro.

Capitão
Romário voltou a marcar. Quando se pensa que ele finalmente chegou aos seus últimos dias, o pequeno Bonaparte volta a fazer gols. Com seu curioso sistema de camuflagem, faz-se de morto e ataca quando menos se espera.

General
Dos 19 gols do Gama, Dimba fez 14. É mais que um general, é o rei do time. O Gama funciona em regime absolutista.

E-mail torero@uol.com.br



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