São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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FUTEBOL

A lógica e o acaso

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Foi um San-São digno das melhores tradições do clássico. Nem pareciam os mesmos dois clubes que, dias antes, no mesmo Morumbi, haviam feito um jogo medíocre e violento.
O mais curioso é que na quarta-feira o Santos jogou desfalcado e empatou. Ontem, jogou completo e perdeu. A razão disso, como costuma acontecer, tem um tanto de lógica e outro tanto de acaso.
Comecemos pela lógica. O técnico Leão, lançando mão de seu profundo conhecimento da equipe santista, armou seu time fechado atrás e dando pouco espaço para Robinho, Ricardinho e Elano.
Sua estratégia, claramente, era a do contra-ataque, na esperança de aproveitar-se da crônica vulnerabilidade defensiva santista.
Com isso, o Santos atacou mais, mas o São Paulo teve um número quase igual de chances reais de gol. Numa delas -aliás, uma das menos agudas-, Grafite acabou fazendo um gol quase "espírita".
E aí é que entra a parte do acaso. O próprio atacante tricolor admitiu que cabeceou em direção ao meio da área na esperança de encontrar Diego Tardelli ou Cicinho. Mas acabou pegando o goleiro santista adiantado e enfiando, sem querer, a bola no ângulo.
Isso não tira o mérito de Grafite, que fez uma excelente partida, nem do São Paulo, que com sua organização e empenho, conseguiu compensar a superioridade do elenco santista e sair com a vitória. O Santos, por sua vez, fez o que está acostumado a fazer: buscou o ataque desde o início. Luxemburgo, fiel ao lema "perdido por um, perdido por mil", chegou a colocar em campo praticamente quatro atacantes: Robinho, Deivid, Basílio e Marcinho.
Com isso, quem ganhou foi o torcedor. A partida teve momentos empolgantes, em que os times alternaram chances de gol num ritmo alucinante. Algumas delas não se concretizaram graças a grandes defesas dos dois goleiros.
Os resultados da rodada foram bons para o campeonato. Com as derrotas dos líderes Atlético-PR e Santos, o São Paulo e o São Caetano se aproximaram e ganharam uma sobrevida na luta pelo título.
Acaba assim, pelo menos por enquanto, a incômoda sensação de que a disputa estava restrita a só dois clubes.
As vitórias do Palmeiras e do Juventude, por sua vez, mantêm quente a briga por uma vaga na Libertadores, da qual o Goiás e o Corinthians já parecem mais distantes.
Tudo isso sem falar dos contornos dramáticos que vai ganhando a luta para escapar do rebaixamento. O fato de grandes clubes como Grêmio, Botafogo, Flamengo e Atlético-MG estarem no bolo, ou perto dele, só aumenta a emoção.
Cada vez mais fica claro que não é a fórmula dos pontos corridos a responsável pela queda do nível técnico e da média de público do Brasileirão, e sim a baixa qualidade média dos jogadores, ocasionada pelo êxodo dos melhores para o exterior.

Vitória verde
A ótima vitória palmeirense sobre o líder Atlético-PR serviu também para lavar a alma de dois jogadores questionados: Lúcio (pela torcida) e Pedrinho (pelo técnico Estevam Soares). Lúcio não é, nem de longe, "o pior lateral do mundo", como já gritou a galera alviverde. E Pedrinho é o maestro palmeirense. Sem ele, o time quase sempre desafina.

Declínio azul
Há um ano, a esta altura do campeonato, o Cruzeiro estava com uma mão na taça. Hoje, vive uma grande crise, coroada pela derrota de 3 a 0 para o arqui-rival Atlético-MG. A saída dos principais jogadores é a causa mais óbvia do declínio. Uai, mas a diretoria cruzeirense não se gabava de ter uma política exemplar de contratações?

E-mail jgcouto@uol.com.br

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