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AUTOMOBILISMO
"Senna Experience", exposição que recorda carreira do piloto, morto em 94, lota mesmo durante GP Brasil
Público lembra Senna para esquecer F-1
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um semáforo, como o utilizado
na largada de um GP, dá o sinal
verde para o visitante entrar no
túnel que conduz à "Senna Experience", exposição que relembra a
trajetória do piloto na F-1.
É como uma máquina do tempo, em que o público se sente dentro do ambiente da principal categoria do automobilismo. Época
em que o Brasil freqüentava, aos
domingos, o lugar mais alto do
pódio. Ironicamente, muitos vão
ao local para esquecer a F-1.
"Nunca mais vi uma corrida depois de 1º de maio de 1994", conta
Mardel Paranhos Carvalho, 40, de
Goiânia, que se diz fã "incondicional" de Senna, referindo-se à
data da morte do brasileiro.
"Fui três vezes a Interlagos para
assistir ao GP Brasil. Mas nunca
tive o privilégio de vê-lo vencer.
Hoje não tenho intenção de passar nem perto de lá", completa.
Não é um caso isolado. A Folha
visitou a exposição ontem, das
14h às 16h30, enquanto Rubens
Barrichello buscava nova vitória
para o país no GP Brasil.
Com alguns gatos-pingados no
início, o lugar começou a lotar por
volta das 14h30. O fiasco em Interlagos "atraiu" mais visitantes.
"Não dá para torcer pelo Rubinho. A última vez que vi ele estava
em sexto lugar", contou Randal
Sylvestre, 20, que foi à exposição
acompanhado de Ellen Carolina,
a namorada, e Renato, o irmão,
enquanto acontecia a prova.
No local, nada lembrava a categoria na atualidade. Nenhum telão mostrava a prova. Apenas um
médico, na sala de emergência da
exposição, quase isolada, assistia
à disputa em uma TV portátil.
Mesmo para os mais jovens, o
clima era de nostalgia. "Era pequeno quando ele morreu, mas
acompanhava mais a F-1 naquela
época", afirma Sylvestre.
De outra geração, Reinaldo Pereira de Campos, 40, critica a mesmice da categoria na atualidade.
"Comecei a assistir à F-1 na época do Emerson Fittipaldi, do José
Carlos Pace e do Ronnie Peterson.
Hoje todo mundo sabe que vai ganhar o Schumacher. Não tem
competição. No tempo do Senna,
era diferente", critica Campos,
que não esquece o dia em que o
piloto sofreu o acidente fatal.
"Assistia à corrida e saí para
comprar pão. Na volta, andava na
rua e parecia que o dia tinha ficado mais triste. Quando cheguei
em casa, vi o que tinha acontecido. A F-1 não foi mais a mesma."
Tal público de saudosistas faz
com que a organização do "Senna
Experience" acredite que cerca de
300 mil visitantes apareçam no local até janeiro, quando o material
deixará o Shopping Eldorado (zona oeste de São Paulo). Depois,
deverá seguir para Rio, além de
França, Itália, Alemanha e Japão.
A sala com uma tela de 180º, que
simula uma volta pelo circuito de
Interlagos, tinha fila de mais de
meia hora -apenas 20 pessoas
podem entrar de cada vez. No início da tarde, estava às moscas.
Com protótipos de carros de
corrida, que vibravam nas retas, o
público não resistia à tentação de
mexer no volante como se realmente estivesse na pista.
"Vim aqui para trazer as crianças, que não tiveram a oportunidade de conhecer o Ayrton.
Acompanhava tudo naquela época", afirma Paulo Roberto Galgaro, 37, que vestiu Paulo Renato, 5,
seu filho, com um macacão de
Barrichello para ir à exposição.
"Mas ele é fã é do Schumacher",
lamenta o pai, freqüentador de
Interlagos na época de Senna.
Nem todos ficaram restritos ao
Brasil. Mais privilégio teve Valdir
Pagan, 67, que levou o neto Mateus, 7, para conhecer a vida do
ídolo. Ex-treinador da seleção feminina de basquete, Pagan viajou
muito em sua carreira. Por duas
vezes, suas viagens coincidiram
com corridas de Ayrton Senna.
"Vi ele em um GP do Japão e outra vez na África do Sul. Os japoneses tinham um piloto [Satoru
Nakajima], mas eram malucos
pelo Senna", diz Pagan, outro que
não esquece o que fazia no dia da
morte do tricampeão da F-1.
"Quando o Senna morreu, estava com a seleção feminina, que
treinava para o Mundial [da Austrália, em 1994]. Foi uma coisa tão
triste que tivemos que cancelar o
treino e dar um dia de folga a elas.
Várias adoravam o Senna. A Hortência ficou muito abalada."
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