São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

Texto Anterior | Índice

AUTOMOBILISMO

"Senna Experience", exposição que recorda carreira do piloto, morto em 94, lota mesmo durante GP Brasil

Público lembra Senna para esquecer F-1

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um semáforo, como o utilizado na largada de um GP, dá o sinal verde para o visitante entrar no túnel que conduz à "Senna Experience", exposição que relembra a trajetória do piloto na F-1.
É como uma máquina do tempo, em que o público se sente dentro do ambiente da principal categoria do automobilismo. Época em que o Brasil freqüentava, aos domingos, o lugar mais alto do pódio. Ironicamente, muitos vão ao local para esquecer a F-1.
"Nunca mais vi uma corrida depois de 1º de maio de 1994", conta Mardel Paranhos Carvalho, 40, de Goiânia, que se diz fã "incondicional" de Senna, referindo-se à data da morte do brasileiro.
"Fui três vezes a Interlagos para assistir ao GP Brasil. Mas nunca tive o privilégio de vê-lo vencer. Hoje não tenho intenção de passar nem perto de lá", completa.
Não é um caso isolado. A Folha visitou a exposição ontem, das 14h às 16h30, enquanto Rubens Barrichello buscava nova vitória para o país no GP Brasil.
Com alguns gatos-pingados no início, o lugar começou a lotar por volta das 14h30. O fiasco em Interlagos "atraiu" mais visitantes.
"Não dá para torcer pelo Rubinho. A última vez que vi ele estava em sexto lugar", contou Randal Sylvestre, 20, que foi à exposição acompanhado de Ellen Carolina, a namorada, e Renato, o irmão, enquanto acontecia a prova.
No local, nada lembrava a categoria na atualidade. Nenhum telão mostrava a prova. Apenas um médico, na sala de emergência da exposição, quase isolada, assistia à disputa em uma TV portátil.
Mesmo para os mais jovens, o clima era de nostalgia. "Era pequeno quando ele morreu, mas acompanhava mais a F-1 naquela época", afirma Sylvestre.
De outra geração, Reinaldo Pereira de Campos, 40, critica a mesmice da categoria na atualidade.
"Comecei a assistir à F-1 na época do Emerson Fittipaldi, do José Carlos Pace e do Ronnie Peterson. Hoje todo mundo sabe que vai ganhar o Schumacher. Não tem competição. No tempo do Senna, era diferente", critica Campos, que não esquece o dia em que o piloto sofreu o acidente fatal.
"Assistia à corrida e saí para comprar pão. Na volta, andava na rua e parecia que o dia tinha ficado mais triste. Quando cheguei em casa, vi o que tinha acontecido. A F-1 não foi mais a mesma."
Tal público de saudosistas faz com que a organização do "Senna Experience" acredite que cerca de 300 mil visitantes apareçam no local até janeiro, quando o material deixará o Shopping Eldorado (zona oeste de São Paulo). Depois, deverá seguir para Rio, além de França, Itália, Alemanha e Japão.
A sala com uma tela de 180º, que simula uma volta pelo circuito de Interlagos, tinha fila de mais de meia hora -apenas 20 pessoas podem entrar de cada vez. No início da tarde, estava às moscas.
Com protótipos de carros de corrida, que vibravam nas retas, o público não resistia à tentação de mexer no volante como se realmente estivesse na pista.
"Vim aqui para trazer as crianças, que não tiveram a oportunidade de conhecer o Ayrton. Acompanhava tudo naquela época", afirma Paulo Roberto Galgaro, 37, que vestiu Paulo Renato, 5, seu filho, com um macacão de Barrichello para ir à exposição.
"Mas ele é fã é do Schumacher", lamenta o pai, freqüentador de Interlagos na época de Senna.
Nem todos ficaram restritos ao Brasil. Mais privilégio teve Valdir Pagan, 67, que levou o neto Mateus, 7, para conhecer a vida do ídolo. Ex-treinador da seleção feminina de basquete, Pagan viajou muito em sua carreira. Por duas vezes, suas viagens coincidiram com corridas de Ayrton Senna.
"Vi ele em um GP do Japão e outra vez na África do Sul. Os japoneses tinham um piloto [Satoru Nakajima], mas eram malucos pelo Senna", diz Pagan, outro que não esquece o que fazia no dia da morte do tricampeão da F-1.
"Quando o Senna morreu, estava com a seleção feminina, que treinava para o Mundial [da Austrália, em 1994]. Foi uma coisa tão triste que tivemos que cancelar o treino e dar um dia de folga a elas. Várias adoravam o Senna. A Hortência ficou muito abalada."

Texto Anterior: Futebol - José Geraldo Couto: A lógica e o acaso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.