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FUTEBOL
Paixões
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
As paixões clubísticas levam
a fama de cegar as pessoas,
turvar os julgamentos, causar desatinos. Como se outras paixões,
não pudessem produzir os mesmos efeitos...
Vamos tentar deixar momentaneamente de lado algumas (outras) emoções, como o ódio aos
governos e autoridades (sentimento que, assumidamente, levou muita gente a votar "Não"
anteontem como forma de protesto, afirmação de independência,
crítica aos políticos, etc.); a repulsa da polícia às torcidas organizadas e vice-versa. Há motivos para
essa aversão, mas ela não deve resultar em estratégias contraproducentes de combate à violência
(é disso que quero tratar).
Por mais que eu discorde de
inúmeras decisões de Luiz Zveiter, não é ele o culpado pelos conflitos e mortes recentes. Somos
muitos os responsáveis -cartolas, jornalistas, as tais autoridades, cidadãos em geral.
Só por reunir multidões, um estádio de futebol já é potencialmente perigoso. Mas várias coisas
podem ser feitas para reduzir os
riscos de tumulto, como organizar a entrada e saída dos torcedores. Aproximar-se do estádio é arriscado e enervante; com que estado de ânimo as pessoas chegam
lá, e que tipo de gente se dispõe a
isso? É selvagem a disputa de espaço entre carros, pedestres, ambulantes, cambistas, flanelinhas,
cavalos e motos ao redor do Morumbi, por exemplo. É um milagre que ninguém seja atropelado.
Junte-se a isso o sufoco para comprar ingresso, descobrir o portão,
se espremer na roleta, ir ao banheiro: está instalado o salve-se
quem puder, a lei do mais forte, o
desrespeito como padrão.
Existem mil sugestões de como
organizar melhor esse acesso
-reduzir o trânsito de veículos
no entorno, criando bolsões de estacionamento e translado; firmar
horários diferentes para a entrada de cada setor; incentivar a
compra de carnês; criar dezenas
de pontos-de-venda de ingressos
personalizados; fazer respeitar o
lugar marcado (o que facilita a
identificação de agressores).
A repressão precisa ser correta
para ser eficiente. Enquanto uma
parte da polícia -e da sociedade- entender que descer o cacete
é o melhor meio de lidar com um
delinqüente, nada será resolvido.
O sujeito espancado volta ao estádio exibindo seus hematomas como troféus. Precisamos de inteligência nas investigações e do bom
funcionamento da Justiça para a
aplicação das penas indicadas.
E não podemos esquecer que investir em segurança é fundamental, mas não é tudo. Numa sociedade que defende a violência como forma de resolução de conflitos -os pais não ensinam o filho
pequeno a dar porrada na escola?- não é de se admirar que jovens saiam por aí se gabando da
própria malvadeza e querendo
demonstrá-la a qualquer pretexto. Quem detesta a violência deve
prestar atenção se não chama de
babacas os que pregam uma cultura da paz... Com as razões que
temos para desconfiar uns dos outros, façamos um esforço para reconhecer o que cabe a cada um
para dar um fim a essa guerra.
Time misto
Após propostas sensatas, uma
extravagante. Pode rir, não ligo.
Em momentos de agressividade exacerbada como o que vivemos, um homem só deveria
poder entrar no estádio acompanhado por pelo menos uma
mulher -irmã, namorada,
mãe, filha, amiga. Deixo as explicações sobre homorrivalidade, a competição natural entre
pessoas do mesmo sexo, para o
psiquiatra Joaquim Motta, autor do livro "Gol, Guerra e Gozo" -mas não é preciso ser especialista para saber o que hordas de machos são capazes de
fazer para provar sua "superioridade" sobre os rivais.
Lacuna
Mesmo com tantas decepções,
tanto desencanto, é estranho
um domingo sem futebol.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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