São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2011

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ENTREVISTA JÉRÔME VALCKE

Trabalhamos com ingresso especial para os brasileiros

DIRIGENTE DA FIFA DIZ QUE ACEITA MEIA-ENTRADA SÓ PARA IDOSOS NA COPA-14, MAS QUER BILHETE COM PREÇO MAIS BAIXO PARA NASCIDOS NO PAÍS

Rafael Andrade - 27.jul.11/Folhapress
Jérôme Valcke, Secretário geral da Fifa, em evento da Fifa no Rio, em julho

RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO

Responsável da Fifa para a Copa, o secretário-geral Jérôme Valcke, 51, diz ter lido na imprensa brasileira que é um homem mau. Mas isso não o impede de fazer concessões.
O dirigente disse à Folha que a entidade aceitará a meia-entrada para idosos em ingressos do Mundial, mas não para outros, como estudantes. Promete, porém, um bilhete especial para brasileiros, com preço mais baixo.
A ideia é fechar com o governo o acordo da Lei Geral da Copa em novembro. Valcke estará no país na próxima semana, e Joseph Blatter, presidente da Fifa, depois.
Para o cartola, a Copa tem, hoje, cronograma apertado. E sua expectativa é que Luciana Santos, ex-prefeita de Olinda, seja indicada pelo governo para lidar com a Copa.

 

Folha - O que foi mais importante para ter o jogo de abertura em São Paulo?
Jérôme Valcke - São Paulo é a maior cidade do Brasil. E, no jogo de abertura, nós temos que organizar o Congresso de Fifa com milhares de delegados. Assim, era mais fácil para organizar pelo maior acesso.

Por que a Fifa e o COL [Comitê Organizador Local] desistiram da divisão regional da Copa?
Havia o desejo do Brasil de que todos os brasileiros tivessem a chance de ver todos os times. Houve membros do Comitê Executivo, COL e cidades-sedes que disseram: "Nosso país é grande, mas quando vocês decidiram sediar a Copa em nosso país, vocês sabiam". Reconhecemos que era um bom argumento. Decidimos que os times viajariam. Sabemos que é um desafio.

O senhor está preocupado com o andamento das obras dos estádios?
Para estar satisfeito, só no dia depois da final. Definitivamente, há uma preocupação no nível de preparação da Copa das Confederações. Por isso, reconhecemos que com quatro estádios está OK, mas há potencial para adicionar mais dois. Para a Copa, não há muita preocupação. Alguns estádios vão ser entregues um pouco tarde, mas antes do primeiro jogo da Copa. Um dos maiores desafios é o Maracanã porque há um grande nível de trabalho.

O Brasil não fez quase nada em infraestrutura. É uma preocupação para a Fifa?
Não é preocupação para a Fifa, mas para todos nós. A preocupação é para que as pessoas se mexam.
Aceitamos o risco de fazer a tabela de forma que os times mudem de região. Temos que ter certeza de que quem vai seguir seu time, torcedor ou mídia, possa se mover facilmente de estádio, que, facilmente, você possa fazer a sua vida sem um sofrimento.

Haverá uma reunião entre o presidente Joseph Blatter e a presidente Dilma Rous-seff sobre a Lei Geral da Copa. Quais são as principais preocupações da Fifa? Um número de coisas. Primeiro, vou ao Brasil na próxima semana, sem Blatter. Vou de novo em novembro depois, com Blatter, quando vamos finalizar tudo.
A principal preocupação da Fifa, de novo, é ter certeza do nível de compromisso dado pelo governo, com Lula, para a Fifa quando o Brasil ganhou a Copa em 2007. Desde então, estamos negociando para finalizar um documento. Houve um documento acordado em abril de 2011, e depois houve emendas.
Entendemos como o mundo trabalha. E não vamos dizer que estamos acima de todas as leis e regulamentos.
Quando a presidente Rous-seff disse que há a lei para proteger as pessoas acima de 65 anos com meia-entrada, disse a ela: não quero mudar essa lei. Mas, ao mesmo tempo, temos que ter certeza de que não estamos enfrentando um número de comunidades que tenha acesso à meia-entrada, seja lá quais sejam, doadores de sangue, estudantes, ex-jogadores etc.
Temos que trabalhar em um ingresso da categoria 4 que não é só para esses grupos, mas que dê acesso para todos os brasileiros que não podem pagar muito pelos ingressos. Mas que todos os brasileiros, não só esses grupos, possam ter acesso a uma nova categoria, como tivemos na África do Sul. Acho que é mais justo do que considerar só uma parte de brasileiros.
É verdade que, em relação ao marketing, há questões, achamos que temos que defender nossos parceiros.
Não é nada mais do que pedimos à África do Sul, nada mais do que pedimos à Rússia. Pedimos para defender nossos interesses. De novo, a Copa é 86% de nossa receita. E organizamos 21 Copas do Mundo por ciclos. Precisamos ter certeza de que financiamos esses eventos. Não somos uma empresa com acionistas fazendo mais dinheiro. Proteger o futebol é proteger as receitas da Fifa.

Parece haver um cenário claro de acordo, já que o governo não tem apresentado oposições sobre marketing e TV, e a Fifa propõe cotas de ingresso...
Não sei. A única coisa de que falamos de ingressos é essa cota para idosos. E, para outros, falaremos da categoria 4. Quanto ao marketing, chegaremos a um texto final. Não é a Fifa contra o Brasil. O encontro com Rousseff foi bem-sucedido. Não houve tensão. Não houve nem um momento em que eu pedia algo que ela não pudesse fazer. Nem um momento em que ela queria algo que eu não podia.

Então, não se cogitou uma alternativa para a Copa a não ser fazê-la no Brasil?
Quem disse isso não sabe como funciona. Não houve um pensamento sobre isso.

O senhor disse que haveria um novo representante do Brasil na negociação com a Fifa. Isso criou uma controvérsia, já que o governo afirmou que o ministro do Esporte continua como seu representante. Você teve alguma informação diferente do governo?
Me foi dito, há uma semana, que a ex-prefeita de Recife [Luciana Santos, ex-prefeita de Olinda] iria trabalhar com Rousseff também na Copa. Haveria uma pessoa de seu escritório para trabalhar na Copa. O que posso dizer sobre Orlando Silva foi o que a imprensa brasileira escreveu. Eu entendi que havia preocupação com o senhor Silva. Eu espero que não exista um vácuo. Entendi que essa pessoa do Brasil seria uma pessoa nova.

Luciana Santos?
Que a Dilma afirmou em uma entrevista. Se é essa pessoa, eu vou falar com ela. Não há tempo para perder até a Copa. Espero que não haja um tempo em que não exista pessoa com quem eu possa falar.

O senhor teve alguma informação oficial?
Não. Eu apenas li no jornal. Não recebi nenhuma carta.

O senhor acha então que não há um atraso, mas um calendário apertado até o início da Copa?
Claramente, há um cronograma muito apertado até a Copa. Não vou dizer que está tudo bem, que a vida é bonita. O calendário é apertado.

Foram levantadas questões sobre se era mais fácil para a Fifa falar com Lula do que com Dilma Rousseff? Pessoalmente, a senhora Rousseff entende francês, então é mais fácil falar com ela. Uma brincadeira interna. No tempo de Lula, não havia uma grande discussão entre Fifa e Copa porque era muito cedo. A presidente Rousseff entende a magnitude do que precisamos para a Copa e o desafio.

O senhor encontra mais desafios no Brasil do que na África do Sul?
São países diferentes, desafios diferentes. Há um desafio que é o mesmo, frequentemente. A Rússia está fazendo bem. A maioria dos países tem a sensação de que só deve começar após o final da outra Copa.
Desse jeito, é um erro. Por isso, damos a Copa sete anos antes.



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