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São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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BASQUETE

Velhos hábitos

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

A pedido dos técnicos da seleção brasileira, apreensivos com a escassez de talentos para a posição, Demétrius procurou, desde o juvenil, se transformar em um armador clássico.
Cruzada árdua. Exigiu que o alinha contrariasse o instinto e os predicados burilados nas categorias de base em Bauru e no Corinthians. Que conhecesse os limites de seu biótipo, de sua mão esquerda. Que se expusesse, em competições internacionais, a adversários mais hábeis, explosivos e/ou calejados dessa posição. Que se submetesse, por vezes, à zombaria do jornalista e do torcedor.
A desclassificação no Pré-Olímpico, em agosto, possivelmente marcou a despedida de Demétrius, 30, da seleção nacional.
Mas o insucesso não abateu o jogador. Pelo contrário, parece ter-lhe arrancado o peso dos ombros. Colegas concordam: há muito tempo ele não brilha tanto.
Como se buscasse saldar uma dívida de gratidão com a cidade onde se profissionalizou em 1991, alçou um Franca falido e desacreditado à vice-colocação do Paulista, com 15 vitórias e 4 derrotas. Atrás apenas do todo-poderoso Ribeirão Preto; à frente de folhas de pagamento menos enxutas, como as de Mogi e Araraquara.
Como prova de diligência e competência, o veterano aparece no topo de quase todos os rankings estatísticos do campeonato.
De todos os 193 atletas do torneio, é o que mais joga: participou das 19 rodadas e, dos 40 minutos regulamentares de cada partida, atuou 37 minutos e 4 segundos.
É quem mais retoma a posse de bola: 3,7 desarmes por confronto.
É quem mais tem assistências: 8,5 por jogo, mais de duas à frente do segundo (Tatu, do Casa Branca, 6,1) -performance que dá a sua equipe a liderança no fundamento (a média de 19,7 é quase 20% superior à do Estadual, 15,2).
Tantos passes perfeitos, no momento e no lugar certos, redundam em precisão nos arremessos.
Dos sete francanos com maior tempo de quadra, seis ostentam pontaria superior a 50% nos tiros de dois pontos, um equilíbrio raríssimo no basquete. Além de Demétrius (57,9%), pintam com ótimos índices Fernando Penna (60,3%), Minucci (59,5%), Macetão (59,5%), Fabião (50,7%) e Edu Mineiro (50,6%). Mesmo o aproveitamento do sétimo, o ala Jefferson (48,8%), é decente para padrões internacionais.
Demétrius se destaca ainda na artilharia, algo inusitado em sua trajetória. Está em quarto lugar, com 20,3 pontos por jogo (a Federação Paulista coloca-o um posto abaixo, mas porque inadvertidamente considera no ranking os dados de Alex, que só cumpriu três rodadas pelo Ribeirão Preto e há meses toca a vida na NBA).
Para observadores, tudo isso é mérito também de Daniel Wattfy, que aos poucos exime o veterano do fardo de mais de uma década.
O técnico muitas vezes delega a outro alinha recauchutado (Penna, dez anos mais jovem) a condução da bola à quadra ofensiva.
Poupado da correria e da neurastenia de organizar o ataque, Demétrius fica solto para desequilibrar, revivendo os prazeres da adolescência. Justa recompensa para um jogador que insistiu.

Brasa 1
A ESPN International exibe hoje o primeiro duelo brasileiro em campeonatos da NBA. O Phoenix de Leandrinho pega o Denver de Nenê.

Brasa 2
No dia 7 de outubro, a coluna sonhou alto com a entrada da ESPN Brasil na cobertura da liga norte-americana. Sugeriu que estendesse ao basquete a parceria com a matriz que povoou sua grade com partidas do melhor futebol internacional. Pois a emissora arremessa a primeira bola amanhã, com o VT de Denver x Phoenix. Pelo menos outras cinco partidas deverão ser exibidas ao vivo neste campeonato.

Brasa 3
Coube ao São Caetano (9º) tirar a invencibilidade do Ribeirão Preto.

E-mail melk@uol.com.br


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