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BASQUETE
Velhos hábitos
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
A pedido dos técnicos da seleção brasileira, apreensivos
com a escassez de talentos para a
posição, Demétrius procurou,
desde o juvenil, se transformar
em um armador clássico.
Cruzada árdua. Exigiu que o
alinha contrariasse o instinto e os
predicados burilados nas categorias de base em Bauru e no Corinthians. Que conhecesse os limites
de seu biótipo, de sua mão esquerda. Que se expusesse, em
competições internacionais, a adversários mais hábeis, explosivos
e/ou calejados dessa posição. Que
se submetesse, por vezes, à zombaria do jornalista e do torcedor.
A desclassificação no Pré-Olímpico, em agosto, possivelmente
marcou a despedida de Demétrius, 30, da seleção nacional.
Mas o insucesso não abateu o
jogador. Pelo contrário, parece
ter-lhe arrancado o peso dos ombros. Colegas concordam: há muito tempo ele não brilha tanto.
Como se buscasse saldar uma
dívida de gratidão com a cidade
onde se profissionalizou em 1991,
alçou um Franca falido e desacreditado à vice-colocação do Paulista, com 15 vitórias e 4 derrotas.
Atrás apenas do todo-poderoso
Ribeirão Preto; à frente de folhas
de pagamento menos enxutas, como as de Mogi e Araraquara.
Como prova de diligência e
competência, o veterano aparece
no topo de quase todos os rankings estatísticos do campeonato.
De todos os 193 atletas do torneio, é o que mais joga: participou
das 19 rodadas e, dos 40 minutos
regulamentares de cada partida,
atuou 37 minutos e 4 segundos.
É quem mais retoma a posse de
bola: 3,7 desarmes por confronto.
É quem mais tem assistências:
8,5 por jogo, mais de duas à frente
do segundo (Tatu, do Casa Branca, 6,1) -performance que dá a
sua equipe a liderança no fundamento (a média de 19,7 é quase
20% superior à do Estadual, 15,2).
Tantos passes perfeitos, no momento e no lugar certos, redundam em precisão nos arremessos.
Dos sete francanos com maior
tempo de quadra, seis ostentam
pontaria superior a 50% nos tiros
de dois pontos, um equilíbrio raríssimo no basquete. Além de Demétrius (57,9%), pintam com ótimos índices Fernando Penna
(60,3%), Minucci (59,5%), Macetão (59,5%), Fabião (50,7%) e
Edu Mineiro (50,6%). Mesmo o
aproveitamento do sétimo, o ala
Jefferson (48,8%), é decente para
padrões internacionais.
Demétrius se destaca ainda na
artilharia, algo inusitado em sua
trajetória. Está em quarto lugar,
com 20,3 pontos por jogo (a Federação Paulista coloca-o um posto
abaixo, mas porque inadvertidamente considera no ranking os
dados de Alex, que só cumpriu
três rodadas pelo Ribeirão Preto e
há meses toca a vida na NBA).
Para observadores, tudo isso é
mérito também de Daniel Wattfy,
que aos poucos exime o veterano
do fardo de mais de uma década.
O técnico muitas vezes delega a
outro alinha recauchutado (Penna, dez anos mais jovem) a condução da bola à quadra ofensiva.
Poupado da correria e da neurastenia de organizar o ataque,
Demétrius fica solto para desequilibrar, revivendo os prazeres
da adolescência. Justa recompensa para um jogador que insistiu.
Brasa 1
A ESPN International exibe hoje o primeiro duelo brasileiro em campeonatos da NBA. O Phoenix de Leandrinho pega o Denver de Nenê.
Brasa 2
No dia 7 de outubro, a coluna sonhou alto com a entrada da ESPN
Brasil na cobertura da liga norte-americana. Sugeriu que estendesse
ao basquete a parceria com a matriz que povoou sua grade com partidas do melhor futebol internacional. Pois a emissora arremessa a
primeira bola amanhã, com o VT de Denver x Phoenix. Pelo menos
outras cinco partidas deverão ser exibidas ao vivo neste campeonato.
Brasa 3
Coube ao São Caetano (9º) tirar a invencibilidade do Ribeirão Preto.
E-mail melk@uol.com.br
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