São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004

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FUTEBOL

Juan e Roque Júnior sofrem no Santiago Bernabéu, e equipe espanhola pode até ser excluída da Copa dos Campeões

Zaga da seleção vê racismo do Real branco

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na galáxia do Real Madrid, os negros não têm espaço e, pior, são vítimas de manifestações racistas.
Anteontem, no estádio Santiago Bernabéu, a dupla de zaga da seleção brasileira e do Bayer Leverkusen, Juan e Roque Júnior, foi alvo de insultos, apupos e provocações por parte de vários torcedores do badalado time espanhol.
A Uefa, entidade que controla o futebol europeu, estuda agora uma punição severa para o clube de Beckham, Ronaldo, Zidane, Roberto Carlos, Owen, Raúl e Figo (nenhum galáctico é negro). Uma opção é a simples exclusão do clube da Copa dos Campeões, o mais rico interclubes do planeta.
"A punição irá depender da gravidade do caso. Pode ser até uma suspensão", disse William Gaillard, porta-voz da entidade.
Na semana passada, no mesmo estádio, jogadores ingleses negros foram alvos de torcedores racistas. Uma torcida de extrema direita (neonazistas) do Real Madrid, em especial, imita macacos e vaia sistematicamente os atletas negros quando eles tocam na bola.
A Fifa cobrou explicações da federação espanhola porque o amistoso foi entre seleções -até o premiê britânico, Tony Blair, se manifestou oficialmente contra as manifestações racistas em Madri.
No elenco atual do supertime espanhol não há negros. O presidente Florentino Pérez tem gasto milhões nos últimos anos em astros europeus -trouxe três ingleses brancos, por exemplo. Negros que passaram recentemente pelo clube, como o brasileiro Flávio Conceição, foram dispensados.
O colombiano Rincón, que atuou pelo clube espanhol, foi um dos que sofreram com o racismo em Madri. Mais recentemente, um diretor do clube teria afirmado que Ronaldinho não foi contratado porque não é "bonito".
O loiro Beckham, reconhecido como símbolo sexual, responde pela maior parte das vendas de camisas do time da capital e é estrela publicitária até de cosméticos.
O Real Madrid ainda tem um jogo a fazer na Copa dos Campeões. Pega a Roma e precisa da vitória para seguir vivo no torneio que é a sua grande obsessão. O time divulgou um comunicado oficial mostrando-se contra o racismo, mas isso não deve bastar para que ele não seja punido. O clube pode receber pesada multa, além de ser suspenso. Outras opções são perda de mando de campo ou jogar em casa com os portões fechados, punições que já foram aplicadas pela Uefa a outros times.
No comunicado, o Real Madrid diz que, "se aconteceram atos racistas, foram tão poucos que ninguém no campo e no clube teve conhecimento". Depois, fala que Lennart Johansson, presidente da Uefa, assistiu ao jogo no estádio e que ele comprovou o "comportamento correto do público".
Na derrota de 3 a 0 para o Barcelona no sábado, o camaronês Eto'o jogou com muita vontade até por uma questão racial. O atacante declarou antes do jogo que os negros do Barcelona iriam "correr como pretos", mostrando todo seu descontentamento com as manifestações racistas em Madri nos últimos dias. Curiosamente, os três gols do Barcelona foram feitos por atletas negros.
O clube da capital acena com oferta para Robinho, atacante negro do Santos, mas até agora a proposta foi só pela preferência na compra do atacante. Nos anos 60, Didi, um dos grandes atletas negros da história do futebol brasileiro, teve passagem pelo Real Madrid, mas não foi devidamente aproveitado -teria sido boicotado, em especial por Di Stéfano.


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