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FUTEBOL
Juan e Roque Júnior sofrem no Santiago Bernabéu, e equipe espanhola pode até ser excluída da Copa dos Campeões
Zaga da seleção vê racismo do Real branco
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na galáxia do Real Madrid, os
negros não têm espaço e, pior, são
vítimas de manifestações racistas.
Anteontem, no estádio Santiago
Bernabéu, a dupla de zaga da seleção brasileira e do Bayer Leverkusen, Juan e Roque Júnior, foi alvo
de insultos, apupos e provocações
por parte de vários torcedores do
badalado time espanhol.
A Uefa, entidade que controla o
futebol europeu, estuda agora
uma punição severa para o clube
de Beckham, Ronaldo, Zidane,
Roberto Carlos, Owen, Raúl e Figo (nenhum galáctico é negro).
Uma opção é a simples exclusão
do clube da Copa dos Campeões,
o mais rico interclubes do planeta.
"A punição irá depender da gravidade do caso. Pode ser até uma
suspensão", disse William Gaillard, porta-voz da entidade.
Na semana passada, no mesmo
estádio, jogadores ingleses negros
foram alvos de torcedores racistas. Uma torcida de extrema direita (neonazistas) do Real Madrid,
em especial, imita macacos e vaia
sistematicamente os atletas negros quando eles tocam na bola.
A Fifa cobrou explicações da federação espanhola porque o
amistoso foi entre seleções -até
o premiê britânico, Tony Blair, se
manifestou oficialmente contra as
manifestações racistas em Madri.
No elenco atual do supertime
espanhol não há negros. O presidente Florentino Pérez tem gasto
milhões nos últimos anos em astros europeus -trouxe três ingleses brancos, por exemplo. Negros
que passaram recentemente pelo
clube, como o brasileiro Flávio
Conceição, foram dispensados.
O colombiano Rincón, que
atuou pelo clube espanhol, foi um
dos que sofreram com o racismo
em Madri. Mais recentemente,
um diretor do clube teria afirmado que Ronaldinho não foi contratado porque não é "bonito".
O loiro Beckham, reconhecido
como símbolo sexual, responde
pela maior parte das vendas de camisas do time da capital e é estrela
publicitária até de cosméticos.
O Real Madrid ainda tem um jogo a fazer na Copa dos Campeões.
Pega a Roma e precisa da vitória
para seguir vivo no torneio que é a
sua grande obsessão. O time divulgou um comunicado oficial
mostrando-se contra o racismo,
mas isso não deve bastar para que
ele não seja punido. O clube pode
receber pesada multa, além de ser
suspenso. Outras opções são perda de mando de campo ou jogar
em casa com os portões fechados,
punições que já foram aplicadas
pela Uefa a outros times.
No comunicado, o Real Madrid
diz que, "se aconteceram atos racistas, foram tão poucos que ninguém no campo e no clube teve
conhecimento". Depois, fala que
Lennart Johansson, presidente da
Uefa, assistiu ao jogo no estádio e
que ele comprovou o "comportamento correto do público".
Na derrota de 3 a 0 para o Barcelona no sábado, o camaronês
Eto'o jogou com muita vontade
até por uma questão racial. O atacante declarou antes do jogo que
os negros do Barcelona iriam
"correr como pretos", mostrando
todo seu descontentamento com
as manifestações racistas em Madri nos últimos dias. Curiosamente, os três gols do Barcelona foram
feitos por atletas negros.
O clube da capital acena com
oferta para Robinho, atacante negro do Santos, mas até agora a
proposta foi só pela preferência
na compra do atacante. Nos anos
60, Didi, um dos grandes atletas
negros da história do futebol brasileiro, teve passagem pelo Real
Madrid, mas não foi devidamente
aproveitado -teria sido boicotado, em especial por Di Stéfano.
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