São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Por ascensão, Flamengo gasta como o São Paulo

Folha salarial similar à do campeão brasileiro ajudou cariocas a subir na tabela

Rubro-negros têm custo maior do que seus recursos disponíveis, o que repete a forma de gestão que levou o clube ao endividamento

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para ascender ao terceiro lugar no Brasileiro, em sua melhor campanha nos pontos corridos, o Flamengo gasta mensalmente como o campeão São Paulo. Mas, por seu passivo, o clube não recebeu boa parte de suas receitas neste ano.
Assim, o time rubro-negro repete a fórmula que o levou à ruína financeira: assume compromissos sem ter dinheiro para pagá-los. Mas pode conquistar hoje a vaga na Libertadores. Para isso, precisa vencer o Atlético-PR, no Maracanã, e torcer por uma derrota do Cruzeiro.
Não por acaso o futebol está nas mãos de Kléber Leite. Como mandatário do clube, de 1995 a 1999, fez contratações milionárias que resultaram em débitos até hoje cobrados na Justiça. Foi o início do grande endividamento, agravado por gestões posteriores.
Há dois anos de volta ao clube, Leite reabriu o cofre do Flamengo, embora sob o crivo do presidente Márcio Braga.
A folha salarial do futebol, na carteira de trabalho, atingiu R$ 2 milhões mensais em setembro. Somam-se mais R$ 250 mil de direitos de imagem. As luvas custam, em média, mais R$ 200 mil mensais.
"Gastamos dentro do orçamento do clube. O presidente dá o limite. Não tem aumento ao roupeiro sem a autorização dele", conta o diretor de futebol, Eduardo Manhães, que afirma não ter despesas maiores do que as receitas.
A diretoria espera que, ao final do ano, o futebol tenha superávit, mas admite que a dívida do clube deve aumentar.
Isso graças à folha salarial, que se equipara à do São Paulo. O clube paulista não divulga os números, mas a Folha apurou que os valores são parecidos com os do Flamengo.
Os balanços de 2006 dos dois clubes mostram custos parecidos no futebol. Ambos tiveram salários em torno de R$ 42 milhões no ano, com encargos trabalhistas e direitos de imagem. Em 2007, o Flamengo deve gastar os valores mencionados acima mais encargos trabalhistas, que não estão incluídos no valor da folha.
A diferença é que o São Paulo tem receitas que acumulam mais do dobro disso. Já os rubro-negros, além de menor volume, têm parte de seus recursos bloqueados por dívidas.
O clube passou o ano sem o patrocínio da Petrobras por ter dívidas com a União -foram R$ 15 milhões, que podem ser recebidos agora. Houve um aumento grande na bilheteria, com a explosão de público. Mas boa parte ficou retida por penhoras e despesas. E o clube só lucrou R$ 6 milhões com jogadores, um terço do que previa.
Sobra o dinheiro da TV e da Nike. E o jeito foi recorrer a empréstimos bancários para reduzir os atrasos salariais.
"Precisamos de um modelo de gestão. Trabalhar com o orçamento, não com essa loucura atual. Ainda mais porque temos um vice, o Kléber, que só compra jogador, não vende", disse Márcio Braga, que, no entanto, afirma concordar com a política do colega.
Foi Leite que, no meio do ano, contratou Ibson, Fábio Luciano, Maxi e o técnico Joel Santana para remontar o time, que saiu da zona de rebaixamento para a da Libertadores.
Foi também o dirigente que, quando presidente, em 1995, contratou Edmundo com o dinheiro de um consórcio. Em troca, haveria shopping na Gávea. Deu errado, e o grupo cobra o Flamengo na Justiça -o clube pode perder R$ 46 milhões. É só um dos processos da gestão de Leite, com quem a Folha não conseguiu falar.


NA TV - Flamengo x Atlético-PR
Sportv (menos RJ e SP), às 18h10


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