São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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JUCA KFOURI

Por que não se cala, Dunga?


O rei da Espanha achou que a América ainda fosse dele. Mas sua frase para Chávez cabe bem para Dunga

DUNGA ACABARÁ morrendo pela boca, porque sua capacidade de dizer bobagens é surpreendente. E hilariante.
Com pouco mais de um ano como técnico, ele já disse mais sandices do que em toda a vida como atleta.
Na semana que passou, então, bateu seus próprios recordes.
Antes do jogo no Morumbi, falou que o torcedor era inteligente e que, por isso, apoiaria a seleção.
Depois do jogo, declarou que há dias sabia que o time seria hostilizado. Só não disse quando foi que mentiu, se antes ou depois do pífio desempenho da seleção diante do Uruguai. Ou se em ambos os momentos, o que é o mais provável.
Para piorar, decidido a defender o erro que foi a convocação do tosco Afonso, argumentou que, se Luis Fabiano tem oito gols no Campeonato Espanhol, Afonso marcou sete num jogo só na Holanda. Cumé?
E dá para comparar?
Se não bastasse, delirou ao afirmar que Luis Fabiano entrou num bom momento!
Bom momento para quem, cara pálida? Para os milagres de Júlio César, que evitou um desastre em São Paulo? Ou ele se referiu aos dois lances errados que acabaram em gols do centroavante, que estaria fora do grupo se Afonso não tivesse se machucado?
Explicar por que Elano e Diego não estavam no banco ele não explicou, provavelmente porque não há mesmo explicação.
Nem que Dunga fosse um técnico com currículo seria aceitável a montanha de disparates que fala. Até porque, quando foi um atleta de carreira inatacável, comportava-se bem melhor.
E ninguém exige que seja um exemplo de diplomacia, porque isso também nunca foi, afilhado de outro casca-grossa como o ex-presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Emídio Perondi, que errou até ao lhe dar o apelido que tem, quando melhor teria sido escolher o do anão Zangado. Entre outras razões porque o Dunga da Branca de Neve não fala. E porque nesta história não tem Branca de Neve nem príncipes encantados, ao contrário.
É sempre, aliás, mal-educado, e por isso aqui fica registrada uma penitência, mandar alguém calar a boca, como fez o rei da Espanha, Juan Carlos, com o caudilho da Venezuela, Hugo Chávez, num arroubo típico de uma mentalidade colonizadora, autoritária.
Mas Dunga, que inegavelmente tem obtido bons resultados apesar de seu time só ter jogado bem três vezes (duas contra a Argentina, em Londres e Maracaibo, e uma contra o México, em Boston), comporta-se feito colonizado, como se quisesse retribuir aos que permitiram que ele se sentisse como um autêntico ganhador na loteria, ao começar nova carreira pelo topo.
E aí é ele quem se comporta com a má educação típica dos novos ricos, daqueles emergentes que infestam a CBF mas que não perdem o hábito da subserviência.
E passa a tratar mal as pessoas, o vernáculo e a realidade.
Dunga nem sabe, mas já desagrada até aos que ele imagina agradar, gente sem palavra, sem compromissos a não ser consigo mesma, gente capaz de dizer uma coisa em sua frente e outra pelas costas.
Ele deveria preferir os francos.

blogdojuca@uol.com.br

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