São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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JUCA KFOURI

Entregue-se


No país do hímen complacente, é natural que alguns até aceitem o inaceitável


A DISCUSSÃO sobre malas brancas ou malas pretas, sobre entregar ou não jogos para prejudicar o inimigo (sim, o inimigo, porque o rival deixou de ser simplesmente adversário) e sobre este fenômeno razoavelmente recente de torcedores torcendo contra o próprio time desnudou mais uma vez este Brasil macunaímico, sem caráter, capaz de aceitar qualquer coisa que lhe dê vantagem, o Brasil que para (do verbo parar) para (a preposição) ver reality show e bobagens do gênero.
O torcedor pode tudo porque paga, desde que não cometa violências, é a nova platitude em voga e quem pensa diferente é patrulheiro ou coisa parecida, ou pior.
Mala branca pode, porque é para ganhar, diferentemente da mala preta, que é para perder.
Ou seja, o jogador do Palmeiras pode aceitar dinheiro do Corinthians para vencer o concorrente do alvinegro, que o torcedor alviverde tem na conta de inimigo.
Não se percebe a promiscuidade que se estabelece nessas situações e a possibilidade que abre, em outra circunstância, para que se ofereça a mala preta.
E daí vem o vice-presidente de futebol do São Paulo, o Leco, e admite que Richarlyson possa ter forçado sua expulsão diante do Fluminense, que poderá ser seu novo clube no ano que vem.
E o jogador parece não perceber que passará a ser olhado com desconfiança também pelo novo empregador, porque se fez isso ontem para ele poderá fazer para seu rival amanhã.
Também pouco importa se um ex-jogador da credibilidade de um Sócrates conta que quando jogou na Fiorentina passou uma partida toda sem receber a bola porque queria vencer, ao contrário de seus companheiros, que tinham um empate combinado com o rival.
Sim, o resultado foi bom para ambos, e os torcedores dos dois times ficaram felizes, embora alguns (cada vez menos?) tenham pago ingressos para assistir a uma disputa de verdade e não a uma marmelada.
A marmelada que tem sido cada vez mais comum no Campeonato Brasileiro, que precisa providenciar clássicos estaduais para suas últimas rodadas para, ao menos, minimizar o problema.
Este que o técnico Tite também conta já ter vivenciado, como jogador e como treinador, quando ouviu de seu capitão: "Professor, eles disseram que querem perder para não beneficiar o rival, que se ganharem não receberão o salário do mês".

blogdojuca@uol.com.br


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