|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
As chuteiras sem pátria
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Além da melhor qualidade
técnica da seleção brasileira,
um outro motivo para o Brasil
ganhar tantos títulos é a pressão
maior que sofrem os jogadores em
relação aos europeus. Aqui, se dá
muito mais importância a um título mundial. Os grandes atletas
atuam melhor quando são mais
cobrados e pressionados.
Tenho ainda a impressão de
que os craques brasileiros sentem
mais orgulho e prazer de jogar na
seleção do que os da Europa.
Com a globalização e o mundo
pós-moderno, cada dia mais pessoas se sentem pertencentes a um
mundo sem pátria, econômico e
virtual. Esse sentimento é ainda
mais comum no futebol com a
presença de jogadores de vários
países em um mesmo clube.
Na próxima Copa, mesmo sem
serem naturalizados, cerca da
metade dos treinadores das seleções nasceu em outros países.
Já imaginou se um dia isso for
possível entre os jogadores? Seria
um absurdo. Haveria o grande
risco de ver o Ronaldinho Gaúcho
atuar na seleção da Itália, e o Gatuso, na do Brasil. Grande número de italianos também não iria
gostar.
Progressivamente, diminui em
todo o mundo o orgulho e a alegria de fazer parte de uma nação.
Isso ainda não é problema na seleção brasileira. No futuro, haverá chuteiras sem pátria, em vez de
pátria de chuteiras, como escreveu Nelson Rodrigues.
Planejar não é tudo
Parreira já definiu uns 18 jogadores que irão ao Mundial de
2006. Faltam decidir o terceiro
goleiro (Dida e Julio César estão
certos), dois volantes para a reserva de Emerson e de Zé Roberto
(Edmilson e Gilberto Silva são os
mais prováveis), mais um lateral-esquerdo (prefiro Gustavo Nery a
Gilberto) e o provável substituto
de Ricardo Oliveira. Fred é o mais
cotado.
Se Parreira quer levar dois goleiros experientes e mais um jovem (Julio César), Rogério Ceni
deveria ser o substituto do Marcos, caso o goleiro do Palmeiras
não esteja em forma.
Há uma crescente preocupação,
também de Parreira, com a forma
física, na época do Mundial, de
Roberto Carlos, Cafu e Ronaldo.
Porém, mesmo se não estiverem
bem serão titulares, já que terão
20 dias para se prepararem.
Além disso, há ainda um certo
temor para escalar os seus substitutos.
Robinho continua jogando mal
no Real Madrid, e Cicinho e Gustavo Nery ou Gilberto atuaram
poucas vezes. Um dos raros erros
de Parreira nesses quatro anos foi
testar pouco os reservas de titulares consagrados, como Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho.
Parreira é um técnico tão organizado, racional e sensato, que já
pensou em todas as possibilidades, até no que fará se for surpreendido no Mundial.
Isso é ótimo. Mas, às vezes, as
coisas mais brilhantes acontecem
de repente, em um piscar de olhos,
após uma súbita intuição.
Ainda bem que os craques são
surpreendentes. Planejamento
não é tudo.
Presente de natal
Durante a semana, recebi muitas críticas e gozações de torcedores porque escrevi que o São Paulo mereceu o título mundial, mas
não é o melhor time do mundo, e
por ter dito antes do jogo final que
Mineiro, autor do gol da vitória, é
muito confuso quando vai ao ataque.
Escrevi o óbvio. Não sou torcedor nem faço previsões. Faço análises, às vezes corretas.
Além disso, não comento somente após o fato consumado ou
para aumentar a audiência nem
sou candidato a nada, com exceção de viver em paz ao lado de
pessoas queridas.
Por causa de uma vitória e de
um gol, mesmo que seja um título
mundial, o bom e experiente time
do São Paulo não se transformou
na melhor equipe do mundo nem
o incansável e bom volante
Mineiro passou a ter talento ofensivo.
Mas hoje é Natal, dia de alegria,
de nascimento e renascimento.
Em vez de confrontar, quero me
confraternizar com os meus leitores de todos os Estados e
dizer-lhes que tenham um pouco
mais de paciência com as imperfeições e as idiossincrasias deste
cronista, que está ficando velho,
mas que ainda não se cansa de
sonhar com coisas possíveis e impossíveis.
Neste dia, dou de presente de
Natal para os meus leitores três
semanas de férias de minhas colunas.
Voltarei no dia 18.
Até lá.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Futebol - Juca Kfouri: Ode a Rogério Ceni Índice
|