São Paulo, domingo, 25 de dezembro de 2005

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FUTEBOL

As chuteiras sem pátria

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Além da melhor qualidade técnica da seleção brasileira, um outro motivo para o Brasil ganhar tantos títulos é a pressão maior que sofrem os jogadores em relação aos europeus. Aqui, se dá muito mais importância a um título mundial. Os grandes atletas atuam melhor quando são mais cobrados e pressionados.
Tenho ainda a impressão de que os craques brasileiros sentem mais orgulho e prazer de jogar na seleção do que os da Europa.
Com a globalização e o mundo pós-moderno, cada dia mais pessoas se sentem pertencentes a um mundo sem pátria, econômico e virtual. Esse sentimento é ainda mais comum no futebol com a presença de jogadores de vários países em um mesmo clube.
Na próxima Copa, mesmo sem serem naturalizados, cerca da metade dos treinadores das seleções nasceu em outros países.
Já imaginou se um dia isso for possível entre os jogadores? Seria um absurdo. Haveria o grande risco de ver o Ronaldinho Gaúcho atuar na seleção da Itália, e o Gatuso, na do Brasil. Grande número de italianos também não iria gostar.
Progressivamente, diminui em todo o mundo o orgulho e a alegria de fazer parte de uma nação. Isso ainda não é problema na seleção brasileira. No futuro, haverá chuteiras sem pátria, em vez de pátria de chuteiras, como escreveu Nelson Rodrigues.

Planejar não é tudo
Parreira já definiu uns 18 jogadores que irão ao Mundial de 2006. Faltam decidir o terceiro goleiro (Dida e Julio César estão certos), dois volantes para a reserva de Emerson e de Zé Roberto (Edmilson e Gilberto Silva são os mais prováveis), mais um lateral-esquerdo (prefiro Gustavo Nery a Gilberto) e o provável substituto de Ricardo Oliveira. Fred é o mais cotado.
Se Parreira quer levar dois goleiros experientes e mais um jovem (Julio César), Rogério Ceni deveria ser o substituto do Marcos, caso o goleiro do Palmeiras não esteja em forma.
Há uma crescente preocupação, também de Parreira, com a forma física, na época do Mundial, de Roberto Carlos, Cafu e Ronaldo. Porém, mesmo se não estiverem bem serão titulares, já que terão 20 dias para se prepararem.
Além disso, há ainda um certo temor para escalar os seus substitutos.
Robinho continua jogando mal no Real Madrid, e Cicinho e Gustavo Nery ou Gilberto atuaram poucas vezes. Um dos raros erros de Parreira nesses quatro anos foi testar pouco os reservas de titulares consagrados, como Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho.
Parreira é um técnico tão organizado, racional e sensato, que já pensou em todas as possibilidades, até no que fará se for surpreendido no Mundial.
Isso é ótimo. Mas, às vezes, as coisas mais brilhantes acontecem de repente, em um piscar de olhos, após uma súbita intuição.
Ainda bem que os craques são surpreendentes. Planejamento não é tudo.

Presente de natal
Durante a semana, recebi muitas críticas e gozações de torcedores porque escrevi que o São Paulo mereceu o título mundial, mas não é o melhor time do mundo, e por ter dito antes do jogo final que Mineiro, autor do gol da vitória, é muito confuso quando vai ao ataque.
Escrevi o óbvio. Não sou torcedor nem faço previsões. Faço análises, às vezes corretas.
Além disso, não comento somente após o fato consumado ou para aumentar a audiência nem sou candidato a nada, com exceção de viver em paz ao lado de pessoas queridas.
Por causa de uma vitória e de um gol, mesmo que seja um título mundial, o bom e experiente time do São Paulo não se transformou na melhor equipe do mundo nem o incansável e bom volante Mineiro passou a ter talento ofensivo.
Mas hoje é Natal, dia de alegria, de nascimento e renascimento. Em vez de confrontar, quero me confraternizar com os meus leitores de todos os Estados e dizer-lhes que tenham um pouco mais de paciência com as imperfeições e as idiossincrasias deste cronista, que está ficando velho, mas que ainda não se cansa de sonhar com coisas possíveis e impossíveis.
Neste dia, dou de presente de Natal para os meus leitores três semanas de férias de minhas colunas.
Voltarei no dia 18.
Até lá.


E-mail: tostao.folha@uol.com.br

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