São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 2001

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FUTEBOL

CPI não encontra registro do cheque que o deputado Eurico Miranda afirma ter sido trocado no mercado paralelo

US$ 110 mil "somem" de contas do Vasco

SOLANO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI do Futebol, aberta no Senado, não encontrou registro em contas bancárias do Vasco da Gama de entrada dos recursos referentes ao cheque de US$ 110 mil que o deputado federal Eurico Miranda (PPB-RJ), presidente do clube, admitiu ter trocado por reais no mercado paralelo.
A comissão tem documentos sobre a movimentação financeira do Vasco porque quebrou o sigilo bancário do clube, a exemplo do que fez com todos os outros grandes times brasileiros.
Tanto o Vasco da Gama quanto Eurico Miranda conseguiram ontem, por meio de uma liminar (decisão provisória) obtida no STF (Supremo Tribunal Federal), a suspensão da quebra de seus sigilos bancário e fiscal determinada pela CPI do Futebol.
A decisão judicial, no entanto, não trata de documentos referentes à quebra de sigilos que já tenham sido enviados para as comissões do Congresso.
A Folha apurou que a busca da CPI foi feita sobre a movimentação bancária do período de 22 de dezembro de 1998, data do recibo referente ao cheque, a 22 de janeiro de 1999.
Não foi encontrado nenhum depósito de dinheiro em valores equivalentes à conversão de US$ 110 mil.
O levantamento foi realizado em todas as contas do clube sobre as quais o Banco Central remeteu documentação à CPI. São três contas no HSBC e uma no Liberal, instituição ligada ao Bank of America, parceiro do Vasco.
A existência do cheque e sua troca no mercado paralelo foram reveladas por reportagem da Folha na semana passada.
Esse tipo de operação pode ser enquadrado como crime contra o sistema financeiro nacional por encobrir evasão de divisas.
Eurico, que também é membro da CPI da CBF/Nike, instalada na Câmara, admitiu ter autorizado a troca do cheque no mercado paralelo e disse não considerar isso uma irregularidade. Ele afirmou, em entrevista anterior, que entregou o cheque a "alguém".
Segundo ele, o dinheiro se referia ao ressarcimento de passagens e despesas de hospedagem do Vasco no exterior que foram custeadas pela Confederação Sul-Americana de Futebol.
Ontem, a Folha procurou Eurico, mas o dirigente e o Vasco não se manifestaram sobre o fato de a CPI não ter encontrado registro da entrada de recursos do cheque em contas do clube.

Sigilo
Quando pede a quebra do sigilo bancário, a CPI envia ao BC o nome e o CNPJ (espécie de CPF usado por clubes e empresas) do "alvo" da investigação.
O BC, que controla o sistema financeiro, retransmite esses dados aos bancos, que assim ficam obrigados a enviar a quebra de sigilo de todas as contas abertas com aquele nome ou CNPJ.
A CPI ainda não descarta totalmente a possibilidade de o registro do dinheiro do cheque não ter passado pelas contas às quais a comissão teve acesso.
Uma hipótese seria os recursos terem entrado direto no caixa do clube carioca, sem ser feito um depósito bancário.
A outra seria algum banco ter atrasado o envio ao BC da movimentação financeira de alguma conta ainda desconhecida pela CPI. Essa hipótese não é considerada muito provável pela comissão, já que a quebra de sigilo foi determinada no dia 13 de dezembro, há mais de um mês.
Na mesma sessão da CPI foram quebrados os sigilos bancário e fiscal dos principais clubes e federações do país.
Com o Congresso em recesso, a CPI do Futebol trabalha na apuração dos dados já enviados pelo BC aos parlamentares.
O Flamengo, maior rival do Vasco, também teve seus sigilos quebrados, mas conseguiu uma liminar no STF.
A CPI recorreu da decisão citando reportagem da Folha sobre possíveis irregularidades na compra do jogador Petkovic.
A CPI pretende encaminhar ao STF justificativas para a quebra dos sigilos do Vasco e de Eurico.


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