|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Discussão interminável
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A discussão sobre a definição e quem é craque é interminável. Não ia tocar mais no assunto, mas não resisti.
Nesta semana, mestre Armando Nogueira escreveu que já considera o Carlos Alberto um craque e me cita com um dos que
acha que ainda é cedo.
Não chamo o Carlos Alberto de
craque porque o vi jogar poucas
vezes. Depois da partida contra o
Botafogo, fiquei ainda mais animado com o seu futuro. A finta de
corpo, sem tocar na bola, no início da jogada do primeiro gol, foi
primorosa.
Armando Nogueira lembra que
me chamou de craque logo que
me viu atuar pelo Cruzeiro. É verdade. Andava nas nuvens quando lia suas belíssimas crônicas.
Armando foi o primeiro jornalista fora de Minas Gerais a me
exaltar, o Dirceu Lopes e o time
do Cruzeiro. Há uma ressalva.
Quando o mestre me viu jogar, já
era titular durante três anos.
Transpirei muito para ser considerado um craque.
Há também craques e craques.
Quando vi o Ronaldo, com 16
anos, jogar no Cruzeiro, fiquei
deslumbrado. Mas ele, Romário,
Zico, Gerson, Rivelino, Garrincha, Nilton Santos e poucos outros são os craques dos craques.
Nem citei o Pelé. Imagino que
aos 15 anos, após realizar seu primeiro treino no Santos, os jogadores, técnico, massagista, roupeiro, porteiro e os torcedores presentes correram para o vestiário
para saudar a chegada do rei do
futebol.
Para quem não é fenômeno e
nem rei, só a história poderá dar
a palavra final. Pelo menos que se
espere um tempo maior. Jogadores como Felipe, Juninho Paulista,
Alex, Djalminha e muitos outros
foram considerados craques no
início de suas carreiras, mas por
motivos variados são apenas excelentes jogadores, destaques nos
seus clubes. Ainda há tempo para
eles se tornarem craques.
Não querendo ditar regras e
nem ser enjoado como escreveu o
Trajano, uma das minhas referências na crônica esportiva, penso que um jogador só deveria ser
chamado de craque depois que
brilhar intensamente no seu clube
durante uns dois anos e se tornar
um habitual titular da seleção
brasileira.
Há exceções, como os fenômenos e os que têm poucas chances
na seleção porque existem na sua
posição outros ainda melhores.
Dirceu Lopes e Ademir da Guia
atuavam na posição de Gerson e
Rivelino. Em 69, Rivelino era reserva de Gerson. Em 70, só fui titular porque mudei de posição.
Na verdade, as divergências são
muitos mais na terminologia do
que na maneira de se ver o futebol. Armando Nogueira acha que
o craque nasce craque. Se ele não
mostrar durante a carreira que é
craque, é porque ele deixou de ser
craque e não porque não era craque. Acho que o jogador só deveria ser chamado de craque depois
que comprovar que é craque.
Isso está muito confuso. Vou
mudar de assunto.
Moral e moralismo
Dizer que o São Paulo e o Santo
André combinaram o empate antes da partida é um absurdo e um
desrespeito a jogadores e técnicos.
Por outro lado, ficou claro, confirmado pelas palavras sinceras do
Rogério Ceni, que nos minutos finais do jogo ninguém quis arriscar, já que o empate era ótimo para as duas equipes. Foi uma estratégia de jogo, correta. Não há nada de imoral nisso.
Oswaldo de Oliveira tem todo o
direito de se indignar com as insinuações, mas não precisa dar soco na mesa e dizer que o time não
administrou o placar no final do
jogo. Todos viram o contrário.
Rogério Ceni afirmou que foi
uma postura profissional, o que
concordo. Oswaldo de Oliveira é
um profissional sério, mas não
precisa ser mais moralista do que
a moral.
Virada de mesa
A Folha, numa reportagem do
Rodrigo Bueno, mostrou claramente que o ranking da Conmebol é uma enganação.
Como escreveu José Roberto Torero, o ministro do Esporte não
pode interferir no futebol, mas deveria pressionar os dirigentes para evitar que aconteça virada de
mesa, como a da CBF contra o
Atlético e o Juventude.
Os dirigentes de clubes que querem moralizar o futebol deveriam
lutar contra esse e outros fatos. Os
seus clubes também podem ser
prejudicados. Por exemplo, Atlético e Cruzeiro deveriam ter pressionado a saída dos dirigentes da
federação mineira desde a publicação do relatório da CPI do senado e não apenas agora.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Mudança de hábito Índice
|