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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

Discussão interminável

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

A discussão sobre a definição e quem é craque é interminável. Não ia tocar mais no assunto, mas não resisti.
Nesta semana, mestre Armando Nogueira escreveu que já considera o Carlos Alberto um craque e me cita com um dos que acha que ainda é cedo.
Não chamo o Carlos Alberto de craque porque o vi jogar poucas vezes. Depois da partida contra o Botafogo, fiquei ainda mais animado com o seu futuro. A finta de corpo, sem tocar na bola, no início da jogada do primeiro gol, foi primorosa.
Armando Nogueira lembra que me chamou de craque logo que me viu atuar pelo Cruzeiro. É verdade. Andava nas nuvens quando lia suas belíssimas crônicas. Armando foi o primeiro jornalista fora de Minas Gerais a me exaltar, o Dirceu Lopes e o time do Cruzeiro. Há uma ressalva. Quando o mestre me viu jogar, já era titular durante três anos. Transpirei muito para ser considerado um craque.
Há também craques e craques. Quando vi o Ronaldo, com 16 anos, jogar no Cruzeiro, fiquei deslumbrado. Mas ele, Romário, Zico, Gerson, Rivelino, Garrincha, Nilton Santos e poucos outros são os craques dos craques.
Nem citei o Pelé. Imagino que aos 15 anos, após realizar seu primeiro treino no Santos, os jogadores, técnico, massagista, roupeiro, porteiro e os torcedores presentes correram para o vestiário para saudar a chegada do rei do futebol.
Para quem não é fenômeno e nem rei, só a história poderá dar a palavra final. Pelo menos que se espere um tempo maior. Jogadores como Felipe, Juninho Paulista, Alex, Djalminha e muitos outros foram considerados craques no início de suas carreiras, mas por motivos variados são apenas excelentes jogadores, destaques nos seus clubes. Ainda há tempo para eles se tornarem craques.
Não querendo ditar regras e nem ser enjoado como escreveu o Trajano, uma das minhas referências na crônica esportiva, penso que um jogador só deveria ser chamado de craque depois que brilhar intensamente no seu clube durante uns dois anos e se tornar um habitual titular da seleção brasileira.
Há exceções, como os fenômenos e os que têm poucas chances na seleção porque existem na sua posição outros ainda melhores. Dirceu Lopes e Ademir da Guia atuavam na posição de Gerson e Rivelino. Em 69, Rivelino era reserva de Gerson. Em 70, só fui titular porque mudei de posição.
Na verdade, as divergências são muitos mais na terminologia do que na maneira de se ver o futebol. Armando Nogueira acha que o craque nasce craque. Se ele não mostrar durante a carreira que é craque, é porque ele deixou de ser craque e não porque não era craque. Acho que o jogador só deveria ser chamado de craque depois que comprovar que é craque.
Isso está muito confuso. Vou mudar de assunto.

Moral e moralismo
Dizer que o São Paulo e o Santo André combinaram o empate antes da partida é um absurdo e um desrespeito a jogadores e técnicos. Por outro lado, ficou claro, confirmado pelas palavras sinceras do Rogério Ceni, que nos minutos finais do jogo ninguém quis arriscar, já que o empate era ótimo para as duas equipes. Foi uma estratégia de jogo, correta. Não há nada de imoral nisso.
Oswaldo de Oliveira tem todo o direito de se indignar com as insinuações, mas não precisa dar soco na mesa e dizer que o time não administrou o placar no final do jogo. Todos viram o contrário.
Rogério Ceni afirmou que foi uma postura profissional, o que concordo. Oswaldo de Oliveira é um profissional sério, mas não precisa ser mais moralista do que a moral.

Virada de mesa
A Folha, numa reportagem do Rodrigo Bueno, mostrou claramente que o ranking da Conmebol é uma enganação.
Como escreveu José Roberto Torero, o ministro do Esporte não pode interferir no futebol, mas deveria pressionar os dirigentes para evitar que aconteça virada de mesa, como a da CBF contra o Atlético e o Juventude.
Os dirigentes de clubes que querem moralizar o futebol deveriam lutar contra esse e outros fatos. Os seus clubes também podem ser prejudicados. Por exemplo, Atlético e Cruzeiro deveriam ter pressionado a saída dos dirigentes da federação mineira desde a publicação do relatório da CPI do senado e não apenas agora.

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